O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 0,1% no 3º trimestre de 2021, na comparação com o trimestre anterior, segundo divulgou na primeira quinta-feira do mês (2) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com a segunda queda consecutiva, o país entrou em recessão técnica. Em relação ao mesmo trimestre de 2020, o crescimento foi de 4%. “Nesse contexto, vimos que o que puxou o resultado para o negativo foi a agropecuária, que teve uma queda de 8%, enquanto a indústria ficou no zero a zero e o setor de serviços cresceu 1,1%”, disse Arilton Teixeira, economista-chefe da Apex Partners, à Agro Business.

O que motivou o recuo no setor?

Desde 2012, esse é o pior resultado para o PIB da agropecuária no Brasil. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, a queda na atividade foi de 9%. Nesse contexto, vale lembrar que terceiro trimestre é, normalmente, um período mais fraco para o agro, em relação ao segundo trimestre, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Isso porque as safras de soja e de milho, dois dos principais grãos exportados pelo Brasil, são concentradas no primeiro e no segundo trimestre do ano, respectivamente. Por outro lado, o clima não ajudou muito. A escassez de chuvas que atingiu o campo do segundo semestre de 2020 até o início desta primavera atrasou não só a safra desses grãos, mas também prejudicou as culturas que apresentam bons resultados entre julho e setembro, como o café, cana-de-açúcar e laranja. Mesmo em meio as intemperes, a soja apresentou safra recorde este ano, mas o milho, cuja produção despencou 16,4% na safra 2020/21, foi o mais afetado pelo clima. Além disso, o café, que já sofreria com a bienalidade este ano, acabou sendo afetado com as geadas do inverno. Já na pecuária, o ciclo produtivo também sofreu recuo. Os abates de bovinos recuaram 11,1% no período, em relação ao terceiro trimestre de 2020, segundo dados do IBGE. Ainda, o embargo da China às exportações de carne bovina do Brasil teve um impacto moderado no resultado do agro do terceiro trimestre e deve ter um efeito maior nos últimos três meses do ano. “No agro em si, não vejo o crédito como um fator que pode ter prejudicado o setor, por ora. Isso porque os juros começaram a subir agora e, nos últimos meses, o crédito ainda estava relativamente barato”, destaca Arilton.

O que esperar para os próximos meses?

Para o quarto e último trimestre do ano, as perspectivas para a pecuária ainda seguem relativamente negativas, pelos argumentos expostos acima. Já na agricultura, o alívio das pressões climáticas com o retorno das chuvas pode dar fôlego aos produtores de todo o país. Algumas culturas como o trigo já vêm esboçando essa reação, com crescimento de 23% nesta safra em relação à anterior. Mas ao longo das semanas finais do ano, vamos continuar monitorando os fatores que influenciam no agro, deixando os leitores a par dos movimentos que podem beneficiar ou aumentar os riscos no setor. Já para a economia como um todo, Arilton conclui: “Com a retomada do setor de serviços, é provável que a economia volte a crescer. Nos próximos meses, com as famílias recebendo o Auxílio Brasil, dependendo da proporção que se converter em consumo ou em pagamento de dívidas, esses recursos podem auxiliar na evolução desse segmento. Mas para a economia brasileira, pondera-se ainda, o desempenho dos demais setores e os riscos fiscais.”

Stefany Sampaio
Stefany Sampaio Colunista
Colunista
Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.