O mercado de gengibre tem apresentado resultados excepcionais mesmo em meio aos desafios do mercado interno e externo. O Espírito Santo é o maior produtor e exportador de gengibre do Brasil, com a produção de aproximadamente 45 mil toneladas por ano em 1.180 hectares. Apesar dos bons números, o setor enfrenta desafios. Alguns produtores têm passado por problemas para manter a qualidade dos produtos, enfrentando doenças como a fusariose e nematóides, que podem causar perdas de valor do produto no mercado externo. Para entender melhor este cenário, conversamos com a presidente da Cooperativa dos Produtores de Gengibre da Região Serrana do Espírito Santo, Leonarda Plaster. Acompanhe Agro Business no Instagram

Cultivo de gengibre depende de cuidados no campo

De acordo com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), os municípios capixabas que se destacam na produção de gengibre são Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá, Itarana, Santa Teresa, Domingos Martins, Brejetuba e Castelo. É importante destacar que a produção é realizada principalmente por agricultores familiares. Apesar dos bons números, o setor enfrenta desafios. Alguns produtores têm passado por problemas para manter a qualidade dos produtos, enfrentando doenças como a fusariose e nematóides, que podem causar perdas de valor do produto no mercado externo. Até o momento, não existem estudos ou produtos registrados que possam ser aplicados com segurança para combater essas doenças. Adimilson Callott, produtor de Santa Maria de Jetibá, relata que os problemas com doenças causaram a perda de mais de 50% da lavoura do ano passado. Aline Simmer, produtora de Santa Leopoldina, enfrenta problemas semelhantes e estima que mais de 50% de sua roça foi afetada pela bactéria da cana e pelo nematoide. Para enfrentar esses desafios, os produtores têm se unido em cooperativas, como a Cooperativa dos Produtores de Gengibre da Região Serrana do Espírito Santo (Coopginger), que envolve quatro municípios: Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá, Santa Teresa e Domingos Martins. A cooperativa foi criada justamente para ajudar os produtores com as dificuldades, reduzindo custos de produção e fortalecendo as vendas. “A cooperativa iniciou justamente por causa das dificuldades dos produtores. O custo de produção no ano passado para o gengibre por caixa com peso de 13.6 quilos ficou entre R$ 35,00 a R$ 40,00 a caixa. E o produtor teve que vender a R$ 15,00 a caixa no ano passado. O produtor teve que pagar para trabalhar. A cooperativa veio como um pedido de socorro para tentarmos buscar algo melhor para o produtor, ser reconhecido e valorizado”, explicou Leonarda Plaster, presidente da Coopginger. Apesar dos problemas, o mercado de gengibre no Espírito Santo apresenta grandes oportunidades de crescimento e desenvolvimento. Com foco na sustentabilidade e valorização da agricultura familiar, a cooperativa reúne 50 agricultores que produzem 400 toneladas de gengibre por mês. A expectativa é que esse ano eles consigam exportar a produção e, para isso, tem investido em qualidade. Confira a entrevista com a presidente da cooperativa.

Gengibre para exportação é a aposta da cooperativa

Agro Business: Quais são as expectativas para a produção e comercialização do gengibre produzido em terras capixabas em 2023? Leonarda Plaster: As nossas expectativas neste ano são boas para o produtor em comparação com o ano anterior, que ficou marcado por prejuízos porque nós tivemos uma grande produção e momentos de crise, como a guerra entre Rússia e Ucrânia e a pandemia, atrapalharam. Não tivemos espaço no mercado internacional para o gengibre como o dos outros anos, em alguns meses ficou praticamente travado. De dezembro até abril, os produtores estavam colhendo a safra antiga que tinha que ter sido finalizada até novembro do ano passado. Isso acaba prejudicando um pouco a qualidade do gengibre porque passou da época da colheita. Esperamos que o produtor recupere todo o prejuízo do ano passado com altos custos envolvidos na produção e pouco retorno. O custo de produção para o gengibre por caixa com peso de 13.6 quilos ficou entre R$ 35,00 a R$ 40,00 a caixa, e o produtor teve que vender a R$ 15,00 a caixa no ano passado. AB: Quais são os planos da cooperativa em relação ao mercado internacional? LP: Neste ano, estamos em busca de oportunidade da cooperativa também entrar no mercado internacional. Para isso, já firmamos parcerias com empresas nacionais exportadoras que já têm experiência no ramo para a venda e distribuição do gengibre. As expectativas são positivas. A princípio, nós temos 50 sócios, mas quando iniciamos éramos 33. Também temos vários produtores na região, aproximadamente, duas mil famílias produzindo o gengibre. Com isso, a tendência é a demanda da cooperativa aumentar. Nós já temos a capacidade de fornecimento de 400 toneladas por mês e esperamos que a exportação desse produto seja diretamente pela cooperativa ou por parceiros internos girando em torno de 95% da produção destinada à exportação. AB: A produção de qualidade é um dos pilares da Coopginger. Quais são as principais iniciativas que a cooperativa tem feito ao longo dos anos? LP: Qualidade é um tema que desde o início a gente sempre bateu na tecla. Nós temos o controle de qualidade durante todo ciclo do gengibre, desde o preparo, beneficiamento e até ele estar embalado, selecionado e paletizado. Para isso, nós temos legislação interna, que prevê a forma de trabalho, o que deve ser utilizado na produção, como deve ser feita a produção e o pós-colheita. Além disso, seguimos o controle para evitar o máximo possível que o gengibre saia com a qualidade prejudicada. Essa organização e controle direto com o produtor é um dos diferenciais da região. Os cooperados atuam com os mesmos objetivos: que a cooperativa dê certo e seja benéfica para todos.

Stefany Sampaio
Stefany Sampaio Colunista
Colunista
Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.