No sul do Espírito Santo, um projeto desenvolvido pela Ufes vem causando impactos positivos na qualidade do leite e na vida dos produtores. Com o objetivo de aprimorar a qualidade do leite, o projeto reúne 10 alunos dos cursos de Zootecnia, Veterinária e Engenharia de Alimentos em uma iniciativa que atende aproximadamente 30 produtores em seu primeiro ano de implementação. Uma das atividades desenvolvidas nas propriedades leiteiras é o teste para a detecção de mastite clínica. Um dos produtores rurais que se beneficiou desse processo é Higor Assis. Com práticas de manejo adequadas e às medidas preventivas adotadas no rebanho, conseguiu melhorar a qualidade do leite na propriedade e aumentar o rendimento na produção de queijo em 40% na agroindústria.
Mastite bovina: produtores adotam medidas preventivas
Segundo o professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Dirlei Molinari, a importância desse projeto vai além do aprendizado acadêmico. “Percebemos que outros projetos de pesquisa indicam que a qualidade do leite na região está um pouco abaixo do que é recomendado pela legislação. Isso impacta a produção de um produto de qualidade que chega à mesa do consumidor. É fundamental capacitar nossos alunos tecnicamente, ensinando-os a lidar com os produtores no ambiente profissional e a realizar técnicas e exames essenciais na vida rural”. Após a ordenha, o leite é armazenado em um tanque, mantendo uma temperatura preconizada pela legislação vigente. Posteriormente, ele é transportado em caminhões a granel para as indústrias, seguindo um cronograma de até 48 horas. Uma das atividades desenvolvidas nas propriedades leiteiras é o teste para a detecção de mastite clínica, uma inflamação da glândula mamária. Geralmente causada pela infecção por diversos tipos de microrganismos, sendo as bactérias os principais agentes. Esse é um dos principais desafios enfrentados pelos produtores de rebanhos leiteiros que prejudica a qualidade do leite e causa redução na produção. A mastite tem tratamento, mas requer assistência veterinária e o uso de antibióticos. Além da avaliação microbiológica, o laboratório permite o acompanhamento dos componentes do leite, como a gordura, proteína, lactose e sais minerais. Essa análise determina a qualidade da propriedade leiteira e, consequentemente, influencia a produção. Os benefícios atingem tanto o produtor quanto o consumidor, uma vez que uma melhoria na qualidade do leite resulta em produtos finais de melhor qualidade nas indústrias. A ideia dos pesquisadores é levar conhecimento aos produtores e melhorar a qualidade do leite produzido no Espírito Santo. Um dos produtores que já começaram a ver resultados é o Higor Assis. Inicialmente, para produzir um quilo de queijo, eram necessários aproximadamente 7,5 litros de leite. No entanto, com as melhorias implementadas, agora é possível alcançar a mesma quantidade de queijo com apenas 5 litros de leite. “Realizamos uma triagem para identificar os principais agentes causadores de mastite em nossa propriedade. A partir desses diagnósticos, adotamos medidas que melhoraram o manejo e a prevenção dessa doença em nosso rebanho. Além disso, também vimos na prática como o projeto contribuiu para nossa agroindústria”, disse Assis.
Programa inédito quer dobrar a produção capixaba de leite em 10 anos
A produção de leite no Espírito Santo vem decrescendo nos últimos anos, fruto de uma baixa produtividade nas fazendas. Como resultado, há uma grande capacidade ociosa na indústria láctea capixaba. Além disso, a produção local não tem sido suficiente para atender à demanda da população por produtos lácteos. Para mitigar o déficit na produção leiteira, o Espírito Santo conta com um programa inédito para aumentar a produtividade nas fazendas e tornar o estado autossuficiente. Foram desenvolvidos 17 projetos com cinco eixos estratégicos para cumprir a meta de dobrar a produção diária de leite, que atinge 946 mil litros, para 1.900 mil litros por dia até 2032. Segundo dados da Secretaria de Agricultura do Espírito Santo (Seag), a produção de leite reduziu em 29% nos últimos anos, saindo de 1,325 milhão de litros diários em 2014 para 946 mil litros em 2021. Atualmente, o estado produz cerca de 1 milhão de litros de leite por dia, gerando um faturamento anual de aproximadamente R$ 727 milhões, envolvendo cerca de dez mil produtores. É a segunda atividade mais presente nas propriedades rurais capixabas, só ficando atrás da produção de café.