Propriedade de Estevâo Douro, cafeicultor de Marechal Floriano (ES)
Propriedade de Estevâo Douro, cafeicultor de Marechal Floriano (ES)

A onda de calor que atinge grande parte do Brasil deve persistir nos próximos dias, impactando também o Espírito Santo. Segundo a Climatempo, as temperaturas em municípios capixabas podem ficar até 7°C acima da média, com previsão de calor intenso até 24 de fevereiro. O alerta preocupa os cafeicultores capixabas, que não estão focados apenas na colheita dos próximos meses, mas também na formação da copa da safra 2025/26.

Acompanhe o Folha Business no Instagram

Impactos do calor na produção de café conilon

Pesquisadores do Cepea afirmam que, apesar das chuvas regulares desde outubro de 2024 terem favorecido o desenvolvimento da safra 2025/26, a previsão de fevereiro aponta para chuvas abaixo da média e temperaturas elevadas, o que preocupa os produtores.

Vale lembrar que a produção da safra 2025/26 já foi prejudicada pelo calor e pela seca ao longo de 2024. Embora as chuvas recentes tragam otimismo, as temperaturas nos próximos meses serão decisivas para garantir um café de boa qualidade”, destacou o Cepea em nota.

O excesso de calor pode comprometer a qualidade do café, pois a planta precisa de noites amenas para uma bebida equilibrada. Além disso, temperaturas muito altas podem acelerar a secagem dos grãos antes da colheita, impactando negativamente a produção.

De acordo com a Conab, a estimativa para 2025 indica um crescimento de 9% na produção de café no Espírito Santo, alcançando 15,1 milhões de sacas. O aumento se deve, principalmente, às boas precipitações no norte do estado, favorecendo o conilon, que representa 67% da área cultivada. A produção estimada é de 11,8 milhões de sacas para o conilon e 3,3 milhões para o arábica, que sente os efeitos da baixa bienalidade.

A colheita do conilon no Espírito Santo começa nos próximos meses com expectativa de crescimento. Fabiano Tristão, coordenador de Cafeicultura do Incaper-ES, explica que a safra 2025/26 não será recorde, mas deve superar a anterior, saltando de 9,8 milhões para cerca de 12 milhões de sacas.

Apesar das altas temperaturas registradas em agosto e setembro, o conilon irrigado teve bom desenvolvimento, com lavouras bem nutridas e folhadas, garantindo a manutenção da estimativa de produção. Já o arábica teve uma florada abaixo do esperado, o que reduziu sua produtividade.

Mudanças climáticas e estratégias de manejo

Tristão reforça que os produtores precisam se adaptar às mudanças climáticas, que vêm trazendo períodos de calor intenso e chuvas irregulares. “Todos os anos enfrentamos veranicos e temperaturas acima da média. O produtor precisa estar atento ao manejo da lavoura para mitigar esses impactos”, alerta.

Entre as principais estratégias para reduzir os danos estão:

  • Escolher cultivares mais tolerantes à seca ao renovar a lavoura.
  • Investir em sistemas de irrigação, quando possível.
  • Manter um programa nutricional equilibrado para fortalecer as plantas.
  • Proteger o solo para conservar a umidade e evitar erosão.

O cenário de preços é positivo para os cafeicultores capixabas. A saca de conilon já ultrapassou R$ 2.000, estimulando novos investimentos. “O momento é de inovação. É hora de sanar dívidas, investir em tecnologia e melhorar a produtividade das áreas já cultivadas, sem focar na expansão”, orienta Tristão.

Ademir Junior Fornaciari, engenheiro agrônomo e consultor técnico da Cooabriel, explica que a safra de 2024 foi desafiadora devido à estiagem prolongada e ao calor extremo.

Ademir Junior Fornaciari, engenheiro agrônomo e consultor técnico da Cooabriel

“Esse cenário reduziu drasticamente a produtividade. No entanto, as chuvas regulares no início de 2024 favoreceram o desenvolvimento das lavouras. No pós-safra, a estruturação das plantas e a boa florada geraram otimismo. Com as precipitações ocorrendo no período esperado, os produtores estão otimistas: o pegamento foi muito bom e, até o momento, o desenvolvimento dos grãos está satisfatório”, destaca.

Apesar desse cenário promissor, Fornaciari alerta que a estiagem e o aumento das temperaturas desde a segunda quinzena de janeiro podem comprometer a produtividade, especialmente no enchimento de grãos. “Ainda é cedo para mensurar o impacto, mas é um fator que merece atenção”, ressalta.

O calor intenso pode afetar a qualidade dos grãos, tornando-os menores e mais leves. Além disso, ocorrem alterações químicas que reduzem açúcares e aumentam compostos amargos, prejudicando sabor e aroma. Para minimizar esses danos, o engenheiro recomenda:

  • Uso eficiente da irrigação.
  • Adubação equilibrada.
  • Aplicação de bioestimulantes à base de aminoácidos e algas.
  • Monitoramento rigoroso de pragas e doenças, que tendem a aumentar com o calor.

Tecnologia e inovação ajudam produtores a enfrentar o calor

Para mitigar os impactos das temperaturas extremas, produtores capixabas têm adotado novas tecnologias. Em Linhares, a Litho Plant investe na produção de bioestimulantes, uma alternativa eficaz para minimizar os efeitos do calor na cafeicultura.

Wesley Nunes, gerente comercial da empresa, explica que biofertilizantes à base de algas e aminoácidos ajudam as plantas a suportar períodos de estresse térmico. 

“As algas vivem em ambientes extremos, alternando entre exposição intensa ao sol e submersão na água salgada. Elas produzem compostos que ajudam as plantas a suportar períodos de estresse, garantindo maior resistência às variações climáticas”, destaca. Segundo ele, os aminoácidos também desempenham um papel importante, acelerando processos metabólicos e reduzindo o impacto das temperaturas elevadas.

Além dos biofertilizantes, produtores têm utilizado protetores solares agrícolas, como o Sombryt, que é borrifado sobre as folhas e frutos, formando uma barreira contra queimaduras solares. “Assim como usamos protetor solar na pele, as plantas também precisam de proteção. Isso reduz danos físicos, melhora a retenção de frutos e favorece o enchimento dos grãos”, explica Nunes.

Leia também:

Espírito Santo bate recorde e exporta 571 mil sacas de café solúvel em 2024

Lideranças do Espírito Santo embarcam para o Vietnã para conhecer ecossistema do café robusta

Stefany Sampaio
Stefany Sampaio Colunista
Colunista
Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.