O Espírito Santo enfrenta uma grave estiagem, com algumas cidades não registrando chuva há 50 dias, conforme indicado pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). Esse período prolongado de seca tem causado sérios impactos nas diferentes culturas agrícolas do estado, afetando particularmente a pipericultura, a cafeicultura e a fruticultura. No norte capixaba, a atual safra de pimenta-do-reino está comprometida em 50% devido às altas temperaturas. Em relação à produção de café, a situação na Região do Caparaó, conhecida pela sua produção de cafés especiais de alta qualidade, também é preocupante.

Seca já impactou agricultores de diferentes culturas no estado

A Cooperativa dos Produtores Agropecuários da Bacia do Cricaré (Coopbac) confirma a redução significativa na produção, que tem sido fortemente prejudicada pelo calor intenso. Erasmo Carlos Negris, diretor administrativo da Coopbac, explica: “Os efeitos climáticos dos últimos anos têm causado uma queda significativa na produtividade. Para a pimenta-do-reino, a média de produção da região era de 5 kg por pé de pimenta seca por ano, mas agora dificilmente chega a 1,5 kg. As altas temperaturas durante a florada, especialmente acima de 28 °C, têm impedido a fecundação adequada das plantas, prejudicando severamente a produção.” Na cafeicultura, a situação também é preocupante. A Região do Caparaó, conhecida por sua produção de cafés especiais, está enfrentando dificuldades. De acordo com a Associação de Produtores Rurais de Pedra Menina (Aprupem), a produção de café de qualidade, que normalmente representa até 80% da safra, pode cair para 40% ou menos devido à estiagem prolongada. A safra 2024 de café conilon no Espírito Santo também tem sido afetada desde 2023. A falta de chuvas e as temperaturas elevadas, que persistiram de outubro a dezembro do ano passado, prejudicaram o desenvolvimento dos frutos, resultando em um rendimento bem abaixo do esperado. Agrônomos e instituições ligadas à cafeicultura estimam uma queda de até 30% na produção. Com o foco agora voltado para a safra 2025, o mercado está refletindo uma oferta maior de conilon. Isso não se deve apenas à safra reduzida, mas também ao fato de que o Brasil está exportando grandes quantidades de conilon devido à quebra de safra em países como Vietnã e Indonésia, que são grandes produtores de robusta. Na última sexta-feira (30), os preços do café canéfora, que incluem as variedades conilon e robusta, superaram os do arábica no Brasil, um evento raro na história, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia (Cepea). Na cafeicultura, Negris observa uma mudança significativa: “O conilon está migrando para regiões mais altas, onde antes se cultivava apenas arábica. Nas áreas mais planas e litorâneas, a produtividade está cada vez mais comprometida. Este ano, a safra foi duramente afetada, com perdas de pelo menos 30% até em lavouras de alta tecnologia. A estação quente no final do ano passado prejudicou a formação dos grãos e a qualidade do café. Em alguns casos, a perda chegou a 50% na produção de café conilon.” O Espírito Santo enfrenta uma severa crise hídrica que afeta tanto a agricultura quanto a pecuária do estado. Segundo Hugo Ramos, coordenador da meteorologia do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), a falta de chuvas já era esperada para este período seco, que se estende do final de abril ao início de outubro. No entanto, a situação se agravou devido à continuidade da seca que começou no ano passado. Ramos ressalta que, no final de 2023, a qualidade das chuvas já havia sido comprometida, especialmente no norte do estado, onde a situação atual é ainda mais crítica. “A seca prolongada tem causado graves problemas para os produtores da região, que já enfrentavam dificuldades desde o ano passado. Além dos desafios para a agricultura, com perdas significativas em culturas como café conilon e mamão, a pecuária também sofre com a falta de água e pastagem adequada, resultando em relatos de mortalidade de animais”, destacou. Enquanto o sul do estado enfrentou chuvas intensas nos primeiros meses deste ano, a situação mudou drasticamente, e a seca agora afeta toda a região. O Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas (ANA) indica que 28 municípios estão em situação de seca fraca, caracterizada por veranicos prolongados. Outros 50 municípios, incluindo aqueles que sofreram com as chuvas intensas em março, como Mimoso do Sul, enfrentam seca moderada, prejudicando ainda mais a agricultura local. A crise hídrica tem levado o estado a permanecer em estado de atenção desde julho. Para enfrentar o cenário, o Incaper recomenda aos agricultores a adoção de medidas para melhorar a eficiência da irrigação e reduzir o desperdício de água. “Além disso, é importante garantir o conforto térmico dos rebanhos e manter a silagem suficiente, já que os pastos estão severamente afetados pela seca”, afirmou Ramos. Ele acrescenta que, embora algumas perdas sejam inevitáveis, um manejo adequado pode ajudar a mitigar os impactos da seca.

Stefany Sampaio
Stefany Sampaio Colunista
Colunista
Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.