A nova rodada de tarifas comerciais anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, incluiu o Brasil entre os países taxados em 10% — uma das menores alíquotas da lista. A medida pode gerar impactos na economia global, com potencial de aumentar a pressão inflacionária. Mas no caso do café brasileiro, especialistas veem uma janela de oportunidade: principalmente para o canéfora, que inclui o robusta e o conilon.
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Brasil foi taxado em apenas 10%, bem abaixo de concorrentes como Vietnã e Indonésia.
O Espírito Santo pode sentir os reflexos da medida em vários setores. O estado é destaque na exportação de ferro e aço, rochas ornamentais, celulose, minério de ferro e, claro, café. Ainda assim, mesmo em um cenário de incertezas, o robusta brasileiro, que inclui o conilon capixaba, pode sair fortalecido, como explica Fernando Maximiliano, analista de café da StoneX.
“Antes de tudo, é importante entender como funcionam essas tarifas impostas pelos Estados Unidos. Elas não se aplicam diretamente aos exportadores brasileiros. Quem paga é a empresa americana que está importando o produto. Ou seja, quando o café chega nos EUA, o importador americano é quem arca com esse custo adicional, o que encarece o produto para o consumidor final e tende a diminuir a demanda”, disse Maximiliano.
A alíquota imposta ao Brasil (10%) é bem inferior à aplicada a dois importantes concorrentes asiáticos. O Vietnã, maior exportador mundial de robusta, foi taxado em 46%. Já a Indonésia, terceiro maior exportador, recebeu tarifa de 32%.
“Isso torna o café brasileiro, especialmente o robusta, muito mais competitivo no mercado americano”, destacou o analista.
Espírito Santo: força na exportação de conilon
O Espírito Santo é o maior produtor de conilon do país e tem ganhado cada vez mais destaque nas exportações. Em 2024, o estado já embarcou 8,3 milhões de sacas de café (arábica, conilon e solúvel), sendo mais de 7 milhões só de conilon. Os Estados Unidos foram destino de 11,16% dessas exportações, segundo o Centro de Comércio de Café de Vitória.
Apesar do arábica ainda ser predominante nas vendas do café do Brasil para os americanos, o conilon tem conquistado espaço, principalmente em função da competitividade frente aos países asiáticos. Em 2024, os EUA foram o principal parceiro comercial do café brasileiro, importando 8,1 milhões de sacas — o equivalente a 16,1% do total exportado pelo Brasil.
“Com o novo cenário, o robusta brasileiro tem potencial para ganhar espaço e ampliar sua participação nesse mercado. Esse movimento também pode pressionar ainda mais a inflação nos EUA. Nos últimos 12 meses, os preços do café já subiram mais de 18% para o consumidor americano. E, com os novos custos das tarifas sendo repassados, é esperado que esse impacto aumente. No fim das contas, quem mais perde é a indústria de café e o consumidor americano”, destacou Maximiliano.
Café solúvel e sustentabilidade em alta
Outro destaque é o café solúvel, que tem como base o conilon. O Brasil é o maior exportador mundial dessa categoria, com vendas para mais de 100 países. Os Estados Unidos são o principal destino: somente em 2024, já importaram 777.401 sacas — um crescimento de 10,9% em relação ao ano anterior, de acordo com o Comex do Brasil.
Além da competitividade comercial, o Espírito Santo se destaca quando o assunto é sustentabilidade. O estado possui cerca de 50 mil propriedades rurais dedicadas ao cultivo do conilon, somando 200 mil hectares plantados. A lavoura capixaba tem evoluído em produtividade, qualidade e práticas sustentáveis, despertando o interesse internacional.
Nos últimos anos, o estado recebeu comitivas estrangeiras interessadas em conhecer a produção local, com destaque para o trabalho das cooperativas, como a Cooabriel, de São Gabriel da Palha.
A indústria também tem investido pesado: empresas como Olam, Café Cacique e Realcafé apostam no conilon capixaba, e laboratórios especializados estão sendo criados e modernizados para fortalecer ainda mais o setor — que hoje é a principal atividade agrícola do Espírito Santo.
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