
Hoje o Folha Vitória vai entrevistar Ronister Marcelo, mais conhecido como “Ronister Games”. Ronister é o retrato do desenvolvedor indie nacional, produtor, programador, diretor e técnico em trilha sonora para games indie, ele já desenvolve games a muitos anos e seu recente sucesso Ronister Adventure acaba e chegar ao Nintendo Switch.
Alguns dos seus primeiros games são para o saudoso Atari 2600, Ronister At Haunted House e Ronister In Space e ele já produziu também games para outro console antigo, o Odyssey II.
Pela introdução vocês já entenderam que o estilo retro e indie adotado pelo Ronister Marcelo é bem raiz, e que ele está produzindo entre o que vimos nas gerações de 8Bits e 16Bits. Vamos então conhecer um pouco mais desse profissional que já está na cena indie nacional e internacional a algum tempo e que veio para um bate papo com o Folha Vitoria Games.
De onde veio essa vontade e essa ideia de fazer jogos?
“Olha, veio desde a minha infância, quando criança sempre sonhamos em criar jogos e ter um jogo com o seu nome, posso dizer que esse sonho eu realizei com o Ronister Adventure que é um game reconhecido mundialmente e já com versões para Android, PC, Xbox e agora para Nintendo Switch.
É importante entender também que para começar você sempre encontra parcerias, hoje a Ronik Games Group tem a mim o DerikDF e o Andrey Final, apesar de cada um ter os seus projetos nós nos unimos para produzir jogos também nessa iniciativa que é a Ronik Games Group”
Você tinha algum conhecimento técnico quando começou? Como foi esse início?
“No início eu tinha algum conhecimento sobre assembler (linguagem de programação de baixo nível), mas nada focado em games. A partir daí comecei a estudar por tutoriais e com a ajuda de outros profissionais e desenvolvedores. Unity, GameMaker, Construct, Unreal e assim por diante, é importante saber um pouco de como trabalhar nas engines (softwares para construir jogos) mais aceitas.
Eu já conhecia o DerikDF que é um ótimo programador e quando percebi que eu sabia trabalhar e ele também, achei que era hora de trabalhar esse potencial.
Eu fazia bem coisas como o conceito de arte, tradução, narrativa, trilha sonora e divulgação enquanto o pessoal da área de programação gosta mais de codificar e trabalhar o game design (layout das fases, recursos dos personagens, etc).
Então a trilha sonora, conceitos em desenho e efeitos que o pessoal não gosta muito eu já abraço, então pensei que eu poderia viver disso um dia”.
Como é trabalhar com desenvolvendo de games indies? E como é a recepção do produto no Brasil?
“Cara o Brasil é uma faca de dois gumes, apesar de ser recompensador, moral e financeiramente trabalhar nessa área no Brasil, ainda temos preconceito com o nosso conteúdo e as vezes até com quem somos.
Isso foi nítido quando comecei, seja por condição financeira, já que tenho uma origem pobre, seja pela cor da pele já que sou mulato ou até pelo peso. Essas questões pesaram e até geraram alguma polêmica, parecia que só nerds gringos de óculos podiam produzir games que valiam ser comprados.
Felizmente começamos a superar essa fase e espaços como esse aqui no Folha Vitória são importantes para que os brasileiros conheçam mais produtos feitos por também brasileiros como eu e o pessoal aqui da Ronik Games Group e tantos outros com produtos excelentes no mercado e que as vezes são mais valorizados lá fora do que aqui no Brasil.”
Vamos falar um pouco do Atari 2600, Ronister in Space é um sucesso no mundo Retro Gamer, comente um pouco sobre o game e o que ele trouxe para você enquanto desenvolvedor indie:
“Para Atari foi quase como uma brincadeira, eu comecei a acompanhar alguns desenvolvedores que estavam brincando com Assembler em um grupo dedicado a Atari 2600, ai peguei um código fonte de Beserker, lançado pela Atari em 1982, comecei a desenhar em cima, coloquei outros elementos, uma caricatura no início do game e uma história que já aparecem no início e ai tela por tela foi montando tudo, e nisso começa o Ronister At Haunted House que é um hack de Beserker.
Já com o In Space, fiquei em segundo lugar no Atari Age em 2020, com o jogo em cartucho exibindo uma tela animada que deixou os gringos boquiabertos sem saber como ela era possível em um simples Atari 2600. Ele tem diversas fases e é um dos poucos games do console no mundo em que você encontra um Boss no final.
In Space levou cinco meses para ser concluído, com ajuda é claro, para resolver problemas, bugs e tornar algumas coisas possíveis e ele trouxe reconhecimento internacional. O cartucho ainda é bastante cobiçado especialmente lá fora.
Na Expo Rio em 2020, o game ganhou o primeiro lugar, era o único em cartucho físico. Infelizmente aqui no Brasil, imprensa e público geral não valorizam muito o trabalho, mas lá fora o reconhecimento vem de forma bem maior”
Hoje você tem um trabalho voltado a lançar jogos em cartucho físico, para consoles antigos, ao mesmo tempo em que também está alcançando plataformas digitais atuais, como você atua nesses diferentes mercados?
“Temos a Ronister Games, que agora passa a focar na área de cartuchos físicos. Com ela nos produzimos, em quantidade limitada, versões de nossos jogos para consoles. Já a Ronik Games Group está dedicada a produzir e lançar jogos em plataformas digitais como a dos consoles modernos e smartphones.
Essa divisão ajuda no reconhecimento por parte do público, em relação ao tipo de produto que ele está procurando, bem como ajuda na organização de parcerias e contatos com a indústria em geral”
Vamos falar um pouco da produção de Ronister Adventure, como começou e como está hoje?
“Bom o Derik me viu numa entrevista na WarpZone, entrou num streaming de gameplay meu e disse que queria fazer um joguinho para o meu canal, alguma coisa simples com umas três fases para mobile mesmo, ele desenhou um bonequinho em pixel art e eu encaixei uma trilha sonora. Quando vi o resultado achei que ele poderia se tornar um game maior, um de plataforma retro clássico e que tinha potencial. E dessa brincadeira acabou surgindo um game profissional que hoje está no Xbox, PC Android e Nintendo Switch.
Nós queríamos trazer aquela sensação nostálgica boa, com inspiração em vários clássicos como Mario, Sonic, Alex Kid e por aí vai, algo como tínhamos na época dos consoles de 8 a 16 Bits, mas eu digo que ele não é nem 8 nem 16, estamos ali nos 12Bits (risos), trazendo essa nostalgia retro para os dias atuais.
“A trilha sonora de Ronister Adventure deve ser lançada em breve no Spotify, Apple Music e YouTube Music” comenta ainda Ronister.
O projeto do Ronister Adventure foi feito em aproximadamente 10 meses de trabalho, sendo lançado em 30 de novembro de 2020 e desde então recebeu atualizações constantes, correções de bugs, novas fases e personagens. Em fevereiro de 2021 ele ficou 100% pronto para Steam, inclusive com conquistas. Foi totalmente feito em pixel art pela Ronik Games Group que é formada por mim, o DerikDF e o Andrey Final. Foi essa a trajetória do Ronister Adventure que começou com uma brincadeira e acabou como um produto profissional em diversas plataformas.
Entenda que ainda é um jogo simples e com um preço bastante acessível mas que foi um degrau fundamental para entrar no mercado e começar a conhecer os caminhos”
Você pode comprar Ronister Adventure no Steam clicando AQUI
E sobre novos projetos? O que você pode falar de novidade sobre novos games em produção pela Ronik Games Group ou pela Ronister Games?
“A Ronik não para, já estamos com um projeto novo sim, de um game estilo Metroidvania já com elementos autorais mais complexos, animações diferenciadas, enfim, uma evolução em termos de qualidade e conteúdo em cima do que fizemos até aqui e que em breve estaremos divulgando, estamos começando a organizar a divulgação dele.
E na Ronister estamos com o Super Adventure Jih que é um Homebrew para NES em 8Bits que será lançado em edição super limitada e numerada, com caixa, cartucho e manual. Ela já está com a tiragem praticamente fechada. E claro os outros participantes também estão com projetos independentes, a cena indie no Brasil não para e tem muita gente boa produzindo conteúdo de qualidade que tenho certeza vai aparecer aqui no Folha Vitoria”
Sabemos que alcançar os consoles é sempre um pouco mais complicado, especialmente no caso do Nintendo Switch. Como foi lançar Ronister Adventure para o console da Nintendo?
“Primeiro é interessante pontuar que o nosso é o primeiro game no Nintendo Switch a ter conquistas o que já é uma forma de chamarmos atenção na plataforma. No caso do lançamento para o console da Nintendo nós tivemos a ajuda de uma Publisher, que é o pessoal da Gramik Games, são eles quem publicam o game na plataforma e são essenciais para levarmos os jogos até os consoles.
Quando começamos a procurar Publishers para levar o game ao Switch fomos procurar fora do Brasil e tivemos algumas negativas e outras que queriam um valor alto para fazer o trabalho. Foi quando veio a Gramik, do Isaías Marques e nos perguntou se queríamos publicar no Switch com eles, que já tinham outros games Brasileiros no catálogo e estão prestes a publicar ainda mais e claro, nós aceitamos.
A Gramik é focada em levar games indie a plataformas como o Switch e o catálogo deles só cresce”
Queremos agradecer a você Ronister Marcelo, pelo bate papo descontraído com o Folha Vitória e tenho certeza que logo traremos mais notícias de jogos do Ronik Game Group e da Ronister Games nas nossas páginas, além de muitos outros desenvolvedores nacionais.
“Eu é quem agradece pelo espaço Fagner, os veículos de imprensa no Brasil nem sempre noticiam sobre o mercado e os desenvolvedores locais e é gratificante saber que esse tipo de conteúdo deve ser regular no Folha Vitória, tem muita gente boa com jogos incríveis para mostrar e tenho certeza que o Brasil está caminhando para ser um celeiro de novos desenvolvedores, tem muitos games de qualidade sendo produzidos e outros tantos já lançados.
Obrigado a toda equipe do Folha Vitória Games pela oportunidade de falar um pouco dos nossos projetos para o público de vocês”