Basta chegar o sono que a Maria Clara, de um ano de idade, pede a chupeta para a mamãe, Carla Tenório. Quando vai dormir, logo aponta para o bico de borracha e fica fazendo dengo para a mãe ceder. E se perde a chupeta durante a noite, ela mesma procura pelo berço, pega, coloca de novo na boca e volta a dormir. E esse foi um tipo de amor à primeira vista, tanto para Maria Clara quanto para Carla. “Eu sempre falei que não ia dar chupeta, mas a Maria Clara só queria peito, e isso me desgastava, ela só dormia no peito. Vi que não ia ter jeito, dei a chupeta e ela amou!”, conta Carla.
Agora, as dúvidas sobre como e quando tirá-la já são duas preocupações que rondam a cabeça de Carla. Dela e da conselheira tutelar Fernanda Schueng! Se deixar, a pequena Mariana, de três anos, pega três chupetas e fica revezando-as na boca. “Eu só não insisti muito porque quando ela fez um ano eu engravidei de novo e fiquei sem forças. Depois que a Milena nasceu ficou ainda mais difícil e hoje a Mariana é muito agarrada na chupeta, está muito difícil tirar”, confessa.
Casos como o de Carla e Fernanda são comuns, afinal a chupeta traz uma paz danada para os pequenos! A assistente administrativa Adriana Venturini Sartório sabe bem disso. O Davi ficava tranquilinho quando tinha o bico na boca, especialmente quando Adriana precisava sair com ele. Quando ela decidiu tirar foi que a coisa complicou.
“Quando foi aproximando o aniversário de três anos, fui conversando com ele a respeito de jogar a chupeta fora. Na primeira noite ele pediu e eu falei que tinha dado para um garotinho que não tinha dinheiro para comprar uma e que a gente já tinha combinado isso. Ele dormiu super bem. No segundo dia chorou um pouco querendo e no terceiro chorou muito… Acordava à noite pedindo, sonhava, passava a mão na boca e começava a chupar. Foi bem torturante ver. Depois do quinto dia ele parou de chorar, mas para esquecer mesmo demorou uns 20 dias”.
Muitas mães ficam apreensivas quando pensam em tirar a chupeta, mas esse é um processo de perda natural. E por mais que doa, o filho vai superar se tudo for feito com cautela e responsabilidade.
Chupeta: mocinha ou vilã?
Depende do ponto de vista. É fato que a chupeta ajuda a ninar, traz no bebê a memória da amamentação e acalenta em momentos complicados. A pedagoga Alessandra Salazar Paganoto, proprietária da creche Idade Criativa, é a favor da chupeta, desde que haja um limite, especialmente dos pais. Lembre-se: chupeta não é o mesmo que carinho! “A chupeta deve ser mais um recurso que a família tem para oferecer à criança. No segundo mês já pode entrar com a chupeta na hora do sono, na ausência da mãe, mas ela não pode substituir o carinho, não pode ser a primeira opção para acalmar a criança, é preciso conversar com ela”, afirma Alessandra.
E conversar é conversar mesmo, olhar nos olhos da criança, dialogar com seu bebê. “Quando a criança está nervosa, faça carinho em sua mão, priorize o diálogo, procure entender porque ela está chorando”, aconselha a pedagoga.
Chegou a hora do adeus
A partir do segundo ano da criança, aí já não tem mais jeito: a chupeta virou vilã! Além de prejudicar a fala, o uso pode afetar o desenvolvimento dos seus dentes. Quando chega o momento da retirada, Alessandra alerta que esse processo deve ser feito de forma gradual. E nesse momento, a principal atitude é o diálogo.
“Tem que ser uma decisão familiar. Não dá para tirar no momento que a criança está passando mal ou quando ela vai viajar. Os pais podem fazer um calendário para programar a retirada e falar com a criança que a partir de tal data não vai mais usar chupeta, conversar mesmo com a criança”.
A pedagoga destaca que o apoio de toda a família nessa fase é fundamental, por isso, só retire a chupeta no momento em que os pais poderão dar o suporte emocional necessário para a criança. E, pais, essa despedida dói em vocês também, mas força! Seu filho vai superar!
“A família deve conversar muito e entender que vai ser difícil, mas que a criança vai ter condições de superar. Nenhum pai ou mãe quer ver seu filho chorando, mas chorar faz parte do crescimento. Eles devem usar bastante a expressão ‘você não precisa mais, mamãe está fazendo isso porque te ama’, dizer com propriedade e firmeza”, orienta Alessandra.
Socialmente falando, a especialista lembra que aos dois anos de idade as crianças estão ampliando seu círculo de convivência e os amiguinhos podem começar a achar estranho quem ainda usa chupeta. É aí que a escola assume um papel fundamental. Na Idade criativa, por exemplo, Alessandra orienta os pais a conversarem com o filho e, na escolinha, até as bonecas deixam as chupetas. Todos passam por essa etapa juntos.
A odontopediatra Maíra Cani Gama reforça por que é tão importante retirar a chupeta antes de a criança fazer dois anos. “A faixa etária ideal para remoção da chupeta é até os dois, no máximo três anos de idade. Se o uso se prolongar, as alterações no desenvolvimento da estrutura óssea, mordida e posicionamento dos dentes serão agravadas e dificilmente corrigidas espontaneamente. Além da duração desse hábito, a frequência e a intensidade também interferem nessas alterações. Por isso a chupeta não deve estar disponível a todo tempo, como nos casos em que prendedores são utilizados nas roupas, e tampouco oferecida antecipadamente à necessidade emocional da criança”, explica.