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Abaixo-assinado pede socorro para sítio ferroviário de 1900 em Domingos Martins

Comunidade se movimenta para solicitar aos governos o restauro do Patrimônio Histórico Ferroviário do município de Domingos Martins (ES)

Foto: Sandra Cola

A comunidade de Domingos Martins está colhendo assinaturas para um abaixo-assinado pedindo às autoridades o restauro do único Patrimônio Histórico Ferroviário de Domingos Martins, localizado no Vale da Estação, distrito de Santa Isabel.

“Essa história não pode se perder no vazio, na negligência do poder público, no abandono de um passado que muito nos orgulha e que tanto benefício e riqueza trouxe para o município”, diz Valéria Rusa Corradi, vizinha da Estação Germânia, moradora do Vale da Estação e idealizadora do abaixo-assinado.

Para a moradora, que reside há 30 anos diante da Estação, é desolador e revoltante o descaso do governo público em relação ao Patrimônio, que se desintegra pelo abandono, pela infelicidade de pertencer a um município que ignora e despreza a história local.

“Não tive a felicidade de conhecer esse sítio histórico nos seus tempos áureos e pelo visto corro sério risco de morrer sem vê-lo restaurado na íntegra. Assisti, sim, a trinta anos de negligências calhados por maquiagens com tintas de terceira, enfim, tudo que uma história não pode receber”, destaca Valéria.

O sítio histórico ferroviário de Domingos Martins, da década de 1900, é composto pela estação Germânia, uma caixa de água que alimentava a Maria Fumaça e uma casa de turma que abrigava os trabalhadores da linha férrea Leopoldina. Um patrimônio histórico em ruínas. A Germânia era a porta de entrada e saída de passageiros e da riqueza. Por ela passava a economia, onde os comerciantes e produtores rurais transportavam seus produtos como café, farinha, feijão para a capital.

Muitos comerciantes compravam mercadorias para suas “vendas” como sal, charque, trigo, máquinas, canos e etc. A ferrovia também era utilizada como meio de transporte para passageiros que a utilizavam de Vitória ao Rio de Janeiro, passando por Viana, Domingos Martins, Marechal Floriano, Araguaia, Matilde, Jaciguá, Cachoeiro e outras.

Foto: Sandra Cola

No livro “A história de vida de um vencedor”, o ex-deputado Gustavo Wernersbach, em 1933, quando comerciante em Costa Pereira, dizia: “comprava vagão de sal, vagão de trigo, milho, charques de carne-seca de primeira e tudo chegava pelo trem. A Leopoldina descarregava os produtos aqui na Estação. Minhas tropas de 10 burros cada, por dia, transportava esta carga para Costa Pereira, distante 30 km do Vale da Estação”.

“A História de vida de um vencedor”, foi escrito por suas filhas Maria da Penha Wernersbach Ronchi e Sandra Maria Wernersbach Cola em 2000. Gustavo residiu no Vale da Estação de 1945 a 2016 quando faleceu aos 105 anos.


Sítio Histórico Ferroviário de Domingos Martins

Foto: Sandra Cola

O Sítio Histórico de Domingos Martins é da década de 1900. Composto por uma Estação, uma Caixa d’água e Casa de Turma estão abandonados pelas autoridades municipal, estadual e federal. Na Casa de turma há lixo, pichações, infiltração, mato sobre as telhas, telhado e vidros quebrados. A caixa d‘água que estava furada e servindo de criadouros de mosquito recebeu da Prefeitura um paliativo de “tapa-buracos” e a estação Germânia, em precárias condições, ainda serve de abrigo para o serviço de Correios da localidade. O serviço médico que funcionava no local foi removido para a escola municipal. Atualmente, a propriedade pertence ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).

Em 2018, a arquiteta da prefeitura de Domingos Martins, Fernanda Magnago, esteve visitando o sitio histórico e disse que os imóveis são muito importantes para o estado. “Estive aqui em agosto de 2016, junto com uma arquiteta do Iphan, e descobrimos que só temos quatro patrimônios de ferrovias com valor igual ao do Vale da Estação. O local tem valor histórico muito importante para o Espírito Santo”, ressaltou Fernanda.

Foto: Sandra Cola

Segundo o Iphan, “a Estação é um exemplar da arquitetura germânica, possui estrutura do tipo enxaimel onde os requadros e estruturas de madeira são aparentes. A vedação foi executada em tijolos maciços e a cobertura com estrutura em madeira e telhas francesas. O conjunto ferroviário é composto pela edificação da Estação onde funcionavam a administração, bilheteria e sanitários públicos, não sendo possível verificar a área de depósito, uma caixa d’água de ferro elevada sobre estrutura também de ferro e a Casa de Turma”.