Caminhar na praia, sentindo a areia sob os pés até chegar ao mar para um mergulho é, para a maioria das pessoas, uma atividade considerada comum, que não exige nada além da vontade de fazer esse desejo se realizar.
No entanto, para a jovem Bruna Gabri, de 29 anos, e para a atendente de telemarketing, Elizangela Braga, o simples ato de sentir o corpo tocar a água do mar representa um momento de celebração, mais um dos inúmeros desafios que elas precisam superar no dia a dia, uma vez que ambas são Pessoas Com Deficiência (PCD’s).
Apesar das limitações físicas, elas trazem em si a coragem e a força de grandes navegantes que, sem medo do mar e de sua imensidão, tiram dele o que há de melhor: a sua capacidade de cura e renovação.
Tanto a Bruna quanto a Elizangela se juntam aos cerca de 500 PCD’s que são atendidos anualmente pelo projeto “Praia Acessível”, da Prefeitura de Vitória. Implantada pelo município em 2013, a iniciativa permite que banhistas e turistas com deficiência aproveitem um banho de mar nas praias da Capital utilizando cadeiras anfíbias, que não afundam na areia e são flutuantes.
O motorista Luciano Gabri, pai da Bruna, aproveitou, ao lado da filha, cada minuto do momento em que, com a ajuda da equipe do “Praia Acessível”, ela esteve no mar durante um mergulho na Praia da Guarderia, na Curva da Jurema, na última sexta-feira (29).
Veja momento em que Bruna entrar no mar para um mergulho:
Visivelmente emocionado, ele falou sobre o sentimento em poder proporcionar o que classificou como “momento de imensa alegria” à filha.
“Sem essa oportunidade ocasionada pelo projeto, a gente nem estaria aqui nessa praia. É a segunda vez que viemos aqui. Ela (a Bruna) fica contando os dias para vir. É o segundo verão em que ela vem tomar banho de mar aqui em Vitória”, contou.
Sensação de liberdade e amizades feitas à beira-mar
Uma das mais assíduas e antigas frequentadoras do projeto “Praia Acessível”, Elizangela, que se tornou cadeirante após um acidente automobilístico há mais de 20 anos, descreve como “sensação de plena liberdade” cada uma vezes em que ela entra no mar para um mergulho.
Uma das mais assíduas e antigas frequentadoras do projeto “Praia Acessível”, Elizangela, que se tornou cadeirante após um acidente automobilístico sofrido há mais de 20 anos, descreve como “sensação de plena liberdade” cada uma das vezes em que entra no mar para um mergulho.
O percurso feito da areia até a água acontece com apoio dos profissionais que integram a equipe do projeto, e que, conforme a atendente de telemarketing, já são considerados amigos de longa data, com quem ela divide suas melhores e mais molhadas risadas.
“É um sentimento gostoso (entrar no mar), além da sensação de liberdade. Frequento o projeto desde o início, vindo aos sábados. E digo sempre que sábado é dia de tomar café com eles (com os profissionais do Praia Acessível)”, afirmou.
Questionada sobre qual a parte mais desafiadora de entrar no mar para um mergulho, Elizangela afirma não conhecer qualquer obstáculo que a impeça de curtir cada momento na água. “Antes de vir para o projeto, praticava natação no Álvares Cabral, também em Vitória, por isso, não sinto dificuldade em estar no mar”, frisou.
Satisfação em poder proporcionar alegria ao próximo
A coordenadora do “Praia Acessível”, Tainá Ferreira Gusmão, relembrou o início do projeto e as adequações pelas quais ele foi passando ao longo dos anos.
Ela também falou sobre a satisfação que sente em proporcionar momentos alegres e marcantes para as pessoas que, por alguma limitação física, não conseguem desfrutar de algo tão simples no cotidiano da maioria população das cidades litorâneas que é um mergulho no mar.
“O projeto começou em 2013 e depois foi sendo aprimorado, ganhando mais estrutura. O principal objetivo é proporcionar, principalmente, o banho de mar para pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, e que, por isso, precisam de auxílio. Para essas pessoas a gente tem à disposição profissionais formados em Educação Física, além de guarda-vidas, que também atuam no projeto”, explicou Tainá.
Ela continua: “Para todos nós que atuamos no projeto é extremamente gratificante realizar este trabalho, até porque nós também acabamos ouvindo e fazendo parte da história de cada um deles. Há, por exemplo, casos de turistas (PCD’s) que nunca tinham entrado no mar e que tiveram essa oportunidade aqui, em Vitória”, disse.
Acesso à atividade física garantido a todos
Para o secretário municipal de Esportes de Vitória, Rodrigo Ronchi, o projeto que leva acessibilidade às praias da Capital permite que todas as pessoas possam realizar atividades físicas, entre elas o banho de mar, além de proporcionar inclusão por meio da convivência diária nesses espaços.
“É proporcionar, a quem necessita de algum apoio, esse banho de mar, principalmente agora, no verão, em que cresce essa busca por convívio e por se refrescar. As atividades aqui, neste período, vão de quinta-feira a domingo, das 8h às 13h, totalmente gratuitas”, ressaltou o secretário.
Cadeiras flutuantes ajudam no banho de mar
O banho de mar é um momento alegria e diversão para as pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida. Ele é realizado com o auxílio de cadeiras anfíbias flutuantes.
Essas cadeiras se deslocam facilmente na areia e não afundam no mar, possibilitando uma experiência única aos banhistas. Os equipamentos são seguros e feitos especialmente para a atividade.
O serviço é oferecido gratuitamente a qualquer pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida, moradores ou turistas em visita à cidade.
“Praia Acessível” em horário especial no verão:
– De quinta-feira a domingo
– Das 8h às 13h
– Em frente à Guarderia da Curva da Jurema
– Mais informações através do telefone (027) 3382-6430.*Fonte: Secretaria de Esportes de Vitória
Equipe de reportagem acompanhou mergulho
Na última sexta-feira, as equipes do Jornal da TV Vitória (JTVV) e do jornal online Folha Vitória foram à praia da Guarderia, na Curva da Jurema, para acompanhar de perto o banho de mar de PCD’s assistidos pelo projeto “Praia Acessível”.
A repórter Gabriela Valdetaro, por exemplo, entrevistou os personagens das respectivas matérias diretamente do mar e vivenciou, junto deles, a alegria de um mergulho para refrescar o calor e renovar as energias para o ano que acabou de começar.