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Adolescente negro vira 'suspeito' em grupo de moradores após tirar fotos em bairro

Publicadas posteriormente, as fotos de Gabriel revelam que em sua mira não estavam as moradias dessas pessoas, mas a casa de um joão-de-barro na árvore

Foto: Divulgação

Gabriel de Souza, um borracheiro de 17 anos, foi alvo de preconceito por parte de moradores que compõem um grupo de aplicativo de mensagens.  O caso aconteceu no bairro Eloy Chaves, em Jundiaí (SP), na última semana. 

Segundo Gabriel Souza,o mal-entendido aconteceu quando, durante o horário de almoço, saiu para fotografar alguns pontos do bairro com uma câmera.

Depois desse dia, fotos e áudios foram divulgados em grupos de moradores no Whatsapp e no Facebook alertando sobre a presença do rapaz e aconselhando que, se o vissem, acionassem a Guarda Civil Municipal.

Nelas, estavam fotos em que aparecia Gabriel fotografando, acompanhadas de mensagens em que ele era tratado como alguém com “comportamento suspeito”.

“Quem encontrar esse rapaz por favor ligar para o 153 (Guarda Municipal), esse indivíduo está tirando foto das casas”, dizia uma delas.

Um áudio atribuído ao vereador Antonio Carlos Albino (PSB) reforçava o coro: “Se vocês virem esse indivíduo pela rua, já liguem para o 153 porque a viatura da guarda já está tentando achá-lo pelo bairro. É um suspeito de estar filmando e tirando foto das casas aí.”

Foto: Divulgação

Publicadas posteriormente, as fotos de Gabriel revelam que em sua mira não estavam as moradias dessas pessoas, mas a casa de um joão-de-barro na árvore.

Preocupado, ele foi a duas delegacias na companhia do pai e de seu professor de fotografia, Anderson Kagawa, 32. Em nenhuma delas conseguiu registrar um boletim de ocorrência.

“Eles disseram que não havia crime e se negaram a tomar providências. Em uma delas, sugeriram que eu tirasse uma foto com uma folha de papel sulfite com o meu nome escrito por extenso, para evitar problemas no futuro. Queriam me fichar”, diz.

Foto: Divulgação

“Tem preconceito envolvido, sim, na minha visão. O Eloy Chaves é um bairro que tem muitos fotógrafos, conheço vários deles, estão sempre pela rua, e isso nunca tinha acontecido, e eles são brancos.”

Nesta quarta-feira (9), Gabriel viajou para a capital para conversar com advogados e pensar em que providências tomar. Ele e seus familiares ainda estão decidindo o que fazer judicialmente nesse caso.

Segundo um dos moradores, o garoto era um “desconhecido” que não mora no bairro e que, por tirar fotos das casas das pessoas, estava gerando temor”.