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Anunciada no ano passado, construção de barragem do rio Jucu está atrasada

Previsão de entrega da obra era de dois anos e meio, mas ela só deve ser concluída no fim de 2022. Objetivo é garantir o abastecimento na Grande Vitória

Foto: TV Vitória
Obra da barragem do rio Jucu está atrasada e só deve ser entregue daqui a três anos

Durante 12 dias, uma chuva forte e intensa caiu de forma quase ininterrupta sobre o Espírito Santo. Foi tanta água, que superou a média para o mês de novembro, quando tradicionalmente já chove muito.

Segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), a precipitação histórica para o mês é de 200 milímetros. Em 2019, até esta quarta-feira (27), a média de novembro no estado superou os 250 milímetros.

Em algumas regiões, choveu mais de 400 e, na Grande Vitória, mais de 500 milímetros de chuva em novembro. Tanta água de uma só vez causou quedas de barreira, rompimento de barragem, inundações, entre outros estragos.

Outro problema que ficou evidente com as chuvas é a necessidade de aumentar a capacidade de reservação de água, para fazer com que a água que sobra agora não falte nos períodos de seca. Em alguns municípios capixabas, até bem pouco tempo havia risco de racionamento.

Em três deles, o racionamento aconteceu: Marilândia, Santa Tereza e São Roque do Canaã. Nesse último, o racionamento durou 170 dias. 

O risco também existe na Grande Vitória, onde vivem cerca de 2 milhões de pessoas. O desafio, então, é evitar que toda essa água do período chuvoso se perca.

Em junho do ano passado, o Governo do Estado anunciou a construção de uma grande barragem no rio Jucu. Quando pronta, ela terá capacidade para armazenar 23 bilhões de litros de água, o que garantirá o abastecimento para metade da população da região metropolitana. 

“Será um reservatório no leito do rio, um barramento, onde eu consigo armazenar essa água para usar nos momentos de seca. Então eu consigo regularizar a vazão do rio”, explicou o diretor da Cesan, Thiago Furtado.

No entanto, a previsão de entrega da obra, de dois anos e meio, já está atrasada. A obra só deve ser concluída no final de 2022. “Esse cronograma postergou um pouquinho. Não o cronograma de execução da obra, mas o tempo foi prorrogado devido às desapropriações. Então estão sendo realizadas todas as sondagens necessárias para elaborar os projetos”, frisou o diretor da Cesan.

O ambientalista Eduardo Pignaton critica o foco do governo na construção de barragens nos rios. Segundo ele, existem soluções mais baratas e eficazes para reservar água, que garantiriam não apenas o controle da vazão dos leitos, mas também uma maior absorção da água pelo solo. Ele cita como exemplo as caixas secas, que são reservatórios feitos geralmente às margens de estradas rurais para captar água da chuva.

Para a Grande Vitória, a alternativa, enquanto a barragem do Jucu não fica pronta, seria usar a água de um complexo de lagoas existente em uma área particular, em Vila Velha. Ele diz que existe consenso sobre o projeto, mas questões tributárias da empresa dona do terreno estariam impedindo o prosseguimento.

“As lagoas criadas pelo Areal Jaguarussu foram doadas ao governo. A área tem 19 lagos, capacidade de 8,3 bilhões de litros de água. Hoje tem 4,3 bilhões de litros para serem usados. Então era necessário que a Cesan fizesse, o mais rápido possível, uma adutora até esses lagos, porque está chovendo agora, mas daqui a pouco vamos voltar a ter seca, para que o rio Jucu, no período de cheia, alimente esses lagos para evitar enchente”, ressaltou Pignaton.

Sobre o uso de água do complexo, a Cesan informou que houve uma reunião entre os proprietários e o Ministério Público Estadual e que, após o cumprimento das ações estabelecidas, será feita uma análise da área por técnicos do Estado. No entanto, a companhia não informou quando isso será feito. 

A produção da TV Vitória/Record TV também procurou a Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), mas não houve retorno até a noite desta quarta-feira.

Agricultura

A Secretaria Estadual de Agricultura, responsável pelo programa de barragens para uso agrícola, diz que, das 60 barragens planejadas, somente 30 foram efetivamente licitadas e 21 concluídas. A capacidade atual de reservação dessas barragens, espalhadas por todo o Espírito Santo, não ultrapassa os 12 bilhões de litros, e elas não estão destinadas para consumo humano em grande escala.

“Temos ainda em construção mais cinco barragens, que vão armazenar mais cerca de 3 bilhões de litros d’água, totalizando, no início ou meados de 2020, 15 bilhões de litros de água, em condições de armazenamento, nas diversas regiões do estado do Espírito Santo”, destacou o subsecretário de Agricultura, Rodrigo Vaccari.

O subsecretário afirma também que, em situações emergenciais, como aconteceu em São Roque do Canaã, que teve quase seis meses de racionamento, a água, destinada inicialmente à irrigação, também pode ser usada para abastecer a população.

“As nossas barragens são de uso agrícola, mas, em situação de emergência, qualquer barragem pode ser utilizada, porque a água para consumo humano se torna prioridade dentre as outras condições”, afirmou Vaccari.

Ações

As ações de reservação de água, tanto dos rios como a captação direta da chuva, são fundamentais para garantir abastecimento o ano inteiro, na cidade e no campo, evitando a repetição do ciclo de desperdício. O professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Fernando Schettino, doutor em Ciência Florestal, acredita que as iniciativas em curso surtirão efeito no longo prazo.

Entretanto, ele destaca que não basta construir barragens e reservatórios. Para ele, ações que integrem o ambiente no entorno são tão importantes quanto armazenar água.

“Não pode, por ter uma barragem ou por ter uma água eventualmente disponível em alguns locais, que seja feito um uso sem cuidado. Isto é, temos que ter as melhores tecnologias, fazer o uso tecnicamente adequado e, principalmente, educar as pessoas de que a água é um bem público, é um bem de toda a sociedade, e precisa ser respeitado isso”, ressaltou.