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Julgamento do assassino de Gerson Camata começa na terça-feira e deve durar três dias

Julgamento de Marcos Venício Moreira Andrade, réu confesso, vai começar na próxima terça-feira no Fórum Criminal de Vitória

Foto: TV Vitória
O ex-governador do Espírito Santo, Gerson Camata, foi assassinado aos 77 anos numa rua movimentada da Praia do Canto, em Vitória

O julgamento do assassino confesso do ex-governador Gerson Camata, morto em dezembro de 2018, deve durar três dias devido ao grande número de testemunhas: 12 ao todo. É o que analisam os promotores do Ministério Público Estadual (MPES), Rodrigo Monteiro da Silva e Leonardo Augusto dos Santos, que irão atuar no júri. 

Eles pedirão a condenação do economista Marcos Venicio Moreira, e não têm dúvidas de que as teses da defesa do réu não devem prosperar. As análises foram feitas durante uma coletiva virtual com a imprensa, na tarde desta sexta-feira (30).

Gérson Camata foi assassinado com um tiro no pescoço, no dia 26 de dezembro de 2018, aos 77 anos, na Praia do Canto, em Vitória. O economista, ex-assessor de Camata, foi preso no mesmo dia e confessou o crime. Ele continua preso preventivamente.

Foto: Reprodução/MPES
Promotores Rodrigo Monteiro da Silva (esquerda) e Leonardo Augusto dos Santos pedirão condenação do assassino de Gerson Camata

A Justiça marcou o júri popular de Marcos Venicio para o dia 3 de agosto, próxima terça-feira. A audiência será realizada a partir das 9h, no Fórum Criminal de Vitória, no Centro da capital.

“Na perspectiva do Ministério Público não há complexidade no caso, já que, ao nosso ver, a prova está cristalina. Se não fosse o número enorme de testemunhas, o júri acabaria no mesmo dia. Há cinco testemunhas arroladas pelo Ministério, cinco pela defesa, uma testemunha do assistente de acusação e a oitiva da viúva do Camata, Rita Camata, isso tudo além do interrogatório do réu”, esclareceu Silva.

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Segundo os promotores, o processo possui 7 mil páginas, totalizando sete volumes. A defesa do réu pode tentar utilizar a tese de homicídio privilegiado, quando o juiz condena mas pode ter diminuição de pena.

“Com essa tese, a defesa poderá alegar que o réu reagiu de forma violenta após uma provocação da vítima. Não há nenhum tipo de prova que leve a isso. Não há nada no processo que indique que houve essa provocação. Tudo foi registrado em vídeo e o réu confessou. Falar isso é brincar com a inteligência da população capixaba”, reforçou o promotor Leonardo Augusto dos Santos.

O promotor Rodrigo Monteiro da Silva reforçou: “A prova foi cristalina de que o crime teve duas qualificadoras. Sem contar que o réu é confesso, então nem está em discussão se ele cometeu o crime ou não, mas apenas a motivação. Gerson tinha quase 80 anos de idade. Não há nada que justifique tê-lo matado. Nada impede que o MP peça absolvição, considere legítima defesa ou mesmo uma causa de diminuição de pena, em qualquer caso que chegue à Justiça. Mas não existe crime privilegiado nesse caso do ex-governador”, disse Rodrigo.

O juiz aplica a pena de acordo com as circunstâncias constantes nos autos. Segundo a denúncia, as penas para os crimes são de 12 a 30 anos para homicídio qualificado e de 2 a 4 anos para porte ilegal de arma de fogo.

Marcos Venicio Moreira foi assessor de Camata

Marcos Venicio Moreira é economista e era o responsável pelas finanças e pelas campanhas políticas de Camata entre os anos de 1986 e 2005. O ex-governador moveu um processo contra o acusado depois que ele foi a público apontar possíveis irregularidades em sua gestão. Eles estavam brigados desde então e o processo teria motivado o crime.

Foto: Divulgação / Polícia Civil
Marcos Venicio Moreira confessou o crime após matar Gerson Camata 

O ex-assessor foi condenado pela Justiça por calúnia e difamação, após dar uma entrevista ao jornal “O Globo”, em 2009, acusando Camata de cometer supostas irregularidades, como o envio de notas fiscais frias e ter cobrado mensalidade de empreiteiras para votar projetos que fossem de interesse das empresas. A multa inicial para Andrade, na ação por difamação, foi estipulada no valor de R$ 50 mil.

Andrade recorreu da decisão, mas não conseguiu reverter a pena. Porém, a multa foi reduzida para R$ 20 mil. Com o passar dos anos e com os juros cobrados, o valor triplicou, alcançando a quantia de R$ 60 mil. Em 2018, a Justiça bloqueou as contas de Marcos Venício para o pagamento da indenização.

Gerson Camata foi governador na década de 80

Gerson Camata nasceu em Castelo, no sul do Espírito Santo, em 1941. Começou a vida profissional como jornalista e apresentador no programa “Ronda Da Cidade”, na Rádio Cidade de Vitória. Era formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Espírito Santo.

Camata começou na vida pública como vereador da capital do Espírito Santo em 1967, no mandato seguinte, em 1971, foi eleito deputado estadual. Foi deputado federal por dois mandatos, de 1975 a 1983, governador do Espírito Santo em 1983 e foi por três vezes senador pelo estado, de 1987 até 2011.

Camata foi o primeiro governador democraticamente eleito depois da ditadura militar (1964-1985), no período de reabertura política.

Gerson era casado com Rita Camata, ex-deputada federal e deixou dois filhos.

Defesa de Marcos Venicio quer um julgamento justo

`Por nota, a defesa do réu trabalha por um julgamento justo e não um “justiçamento” a qualquer custo. Confira a nota na íntegra:

“A defesa de Marcos Venicio aguarda um julgamento tranquilo e esclarecedor. Marcos é réu confesso e desde o fatídico dia, quando se apresentou espontaneamente e confessou o fato, contribui com a Justiça.

Não esperamos pela absolvição, até mesmo porque ele já foi condenado há muito tempo, mas que os jurados e toda a sociedade possam conhecer a cronologia dos fatos desde 1986, quando o Senador e ele se conheceram e todos os eventos que se sucederam a partir de então.

A acusação pretende descaracterizar, descontruir toda a sequência de fatos que ocorreram ao longo desses anos e fazer que o ato do dia 26/12/2018 se resuma ao bloqueio de R$ 50 mil na conta do Marcos. A acusação qualificou o homicídio pelo pior desvalor humano, a torpeza, a ganancia, tão repugnante que no rol das qualificadoras é a primeira. O que não é verdade.

A defesa pretende, desde o início, esclarecer e permitir que o Marcos tenha um julgamento justo e não um justiçamento a qualquer custo. Todos sofreram e ainda sofrem e o Marcos não menos. Ele, como a pessoa justa e correta que foi ao longo de toda uma vida, hoje sofre pelo seu ato que tirou a vida de um ser humano, sofre pelo seu ato que matou a pessoa que mais amava e, por fim, sofre sofre na pele as consequências da prisão. Não pedimos clemência, mas sim Justiça”, finaliza.