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Ataque em torre de TV em Kiev deixa cinco mortos; EUA diz que avanço russo foi interrompido

Torre fica no mesmo bairro do sítio de Babi Yar, local onde os nazistas mataram mais de 30 mil judeus em dois dias em 1941

Foto: Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia
Casa ficou completamente destruída durante ataque nos arredores de Kiev, na segunda-feira (28)

Um ataque russo atingiu uma torre de televisão em Kiev, capital da Ucrânia, nesta terça-feira (1º). De acordo com o Ministério do Interior ucraniano, a ação resultou em cinco mortes, além de provocar a interrupção da transmissão de canais de TV.

O ataque, no sexto dia da invasão da Ucrânia por tropas da Rússia, “atingiu” o equipamento da torre, disse o ministério. “Os canais não vão funcionar por um certo tempo”, afirmou.

Conforme noticiou a agência de notícias AFP, a torre de televisão fica no mesmo bairro do sítio de Babi Yar, local onde os nazistas mataram mais de 30 mil judeus em dois dias em 1941. Esse local é um importante memorial.

“Esses bárbaros estão massacrando as vítimas da Shoah pela segunda vez”, denunciou no Twitter Andriï Iermak, chefe da administração presidencial ucraniana.

Nesta terça-feira, no entanto, um alto funcionário da Defesa dos Estados Unidos afirmou que o avanço militar russo sobre Kiev parou momentaneamente devido à resistência ucraniana e à escassez de combustível e alimentos, segundo informações da AFP.

“Em geral, sentimos que o movimento militar russo […] em direção a Kiev está no momento em ponto morto”, disse o funcionário a jornalistas.

“Achamos que parte disso tem a ver com a própria manutenção e logística”, acrescentou. “E também acreditamos que, em geral, […] os próprios russos estão se reagrupando, repensando e tentando se adaptar aos desafios que enfrentam.”

Ainda segundo a fonte, um enorme comboio russo que se encontra ao norte de Kiev mal está se movendo, mas os EUA acreditam que as tropas invasoras ainda pretendem cercar a capital ucraniana.

Além disso, o funcionário disse que os militares ucranianos seguem desafiando a força invasora e que os russos não alcançaram o controle dos céus do país. Também não conseguiram atingir seu primeiro grande objetivo, a segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv, no nordeste, onde ocorreram os combates mais intensos.

Rússia diz que atacará Kiev e pede que moradores saiam

Também nesta terça-feira, o Ministério de Defesa da Rússia afirmou que iria atacar locais que pertencem aos serviços de segurança e à unidade de operações especiais da Ucrânia em Kiev, segundo as agências de notícias russas Tass e RIA.

O ministério russo afirma que a medida será tomada para evitar “ataques de informação” contra a Rússia. Segundo as agências, os russos pedem para que as pessoas perto dos locais em Kiev deixem as áreas.

“Para suprimir os ataques de informação contra a Rússia , as instalações tecnológicas do SBU e o 72º centro PSO principal em Kiev serão atingidos com armas de alta precisão. Pedimos aos os moradores de Kiev que vivem perto dos locais que deixem suas casas”, disse o representante oficial do Departamento Militar, major-general Igor Konashenkov.

Ele observou que, com o início da operação militar especial, o número de ataques de informações a várias instituições governamentais russas aumentou — como mensagens para atacar cidadãos russos em escolas, jardins de infância, ferrovias e estações.

O Ministério da Defesa da Rússia enfatizou que eles não atingem alvos civis no território da Ucrânia — apenas infraestrutura militar, e que a população civil não estaria em perigo.

Os números parecem contradizer a Rússia. O Ministério do Interior da Ucrânia informou que, até segunda-feira, 352 civis ucranianos já foram mortos durante a invasão da Rússia ao país, incluindo 14 crianças, segundo a Associated Press (AP).

Segundo o ministério, cerca de 1.684 pessoas, incluindo 116 crianças, ficaram feridas durante a invasão iniciada na última quinta-feira (24).

Segundo a agência de notícias Ria, nas últimas semanas, a situação na região do Donbass, onde ficam as regiões separatistas de Donetsk e Luhansk piorou, com o governo ucraniano concentrando a maior parte de seu exército na linha de contato e bombardeando a região com equipamentos proibidos pelos acordos de Minsk.

Sanções não farão Rússia mudar de ideia, diz Kremlin

As sanções ocidentais não farão a Rússia mudar de ideia sobre a Ucrânia, disse nesta terça-feira o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

“Os EUA são fãs de sanções, e a adesão a essa prática se espalhou pela Europa. Eles provavelmente acreditam que podem nos persuadir a mudar nossa posição por meio de sanções. Evidentemente, isso é impossível”, disse Peskov a repórteres.

Foto: Divulgação
Governo da Rússia anunciou que as sanções ocidentais não farão o país mudar de ideia sobre a Ucrânia

Ele também disse que o apelo do ministro das Finanças francês Bruno Le Maire na segunda-feira para uma guerra econômica total contra a Rússia não mudou a situação.

“Esta não é a primeira declaração desse tipo. E sim, as ações agressivas contra nosso país são de natureza ultraconcentrada agora. Mas essas ações também ocorreram antes”, acrescentou Peskov.

Ele disse que é muito cedo para avaliar a operação militar, que o Kremlin se recusa a chamar de “guerra”, e não deu números sobre baixas russas.

Acrescentou que o Kremlin continua a reconhecer Volodymyr Zelensky como presidente da Ucrânia e não interferirá nas futuras eleições presidenciais. “O Kremlin não tem nada a ver com eleições na Ucrânia. O Kremlin não pode participar das eleições ucranianas. É um país diferente”, disse ele quando questionado sobre a situação política após o término da operação especial.

Ofensiva a Kiev

Um comboio massivo de tanques e blindados russos começou a se deslocar em direção a Kiev entre a noite de segunda-feira e a madrugada desta terça, em mais uma ofensiva de Moscou contra o território ucraniano.

Enquanto a fileira de veículos militares com 64 km de extensão se posicionava a menos de 30 km da capital, bombardeios atingiam cidades importantes da Ucrânia, que tenta resistir até que novas rodadas de negociação diplomática tentem chegar a um cessar-fogo.

A manhã (madrugada em Brasília) começou com novos bombardeios em Kiev e em outras cidades-chave da Ucrânia. Sirenes de alerta foram disparadas na capital e em Vinnytsia, Uman e Cherkasy, noticiou a imprensa local.

Em Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, áreas residenciais foram bombardeadas, causando a morte de pelo menos sete pessoas, com dezenas ficando feridas. Eles alertaram que as baixas podem ser muito maiores.

O chefe da região de Kharkiv, Oleg Synegubov, denunciou que um dos bombardeios atingiu o centro da cidade, incluindo a sede do governo.

Synegubov disse que os russos utilizaram mísseis de cruzeiro e GRAD no ataque, e acusou a Rússia de cometer crimes de guerra. O controle da cidade, contudo, permanece com as forças ucranianas.

O jornal The Guardian classificou o ataque como uma tentativa de matar o governador de Kharkiv. Os russos negam atacar áreas residenciais — apesar das abundantes evidências de bombardeios de casas, escolas e hospitais.

No ataque mais letal, a artilharia russa atingiu uma base militar em Okhtyrka, uma cidade entre Kharkiv e Kiev, e mais de 70 soldados ucranianos foram mortos, escreveu o chefe da região, Dmitro Zhivtski.

Fotos mostram destruição em Kharkiv:

O presidente ucraniano disse acreditar que o aumento dos bombardeios é mais uma forma de Vladimir Putin pressionar por condições mais favoráveis à Rússia nas negociações diplomáticas. 

“Acredito que a Rússia está tentando pressionar (a Ucrânia) com este método simples”, disse Zelenski na segunda-feira, em um discurso em vídeo.

Ele não deu detalhes das conversas diplomáticas da segunda, mas disse que Kiev não está preparada para fazer concessões “quando um lado está atingindo o outro com foguetes de artilharia”.

A disputa se alastrou em outras cidades e vilas em todo o país. A cidade portuária estratégica de Mariupol, no Mar de Azov, está “aguentando”, disse o conselheiro de Zelenski, Oleksiy Arestovich. Um depósito de petróleo foi bombardeado na cidade oriental de Sumy.

Em Kherson, no sul do país, o prefeito Igor Kolikhayev afirmou que forças russas chegaram “às portas da cidade” durante a madrugada. “O exército russo está instalando postos de controle nas entradas de Kherson. É difícil dizer como a situação vai evoluir”, disse, acrescentando que a cidade “continuava ucraniana” e pedindo para os moradores resistirem.

Apesar de sua vasta força militar, a Rússia ainda não tinha controle do espaço aéreo ucraniano, uma surpresa que pode ajudar a explicar como a Ucrânia evitou até agora uma derrota.

Na cidade litorânea de Berdyansk, dezenas de manifestantes gritaram com raiva na praça principal contra os ocupantes russos, gritando para eles irem para casa e cantando o hino nacional ucraniano. Eles descreveram os soldados como jovens recrutas exaustos. 

Submarinos nucleares russos em exercício militar são avistados no Mar de Barents

Após o presidente russo, Vladimir Putin, colocar as forças nucleares do país em alerta máximo, submarinos nucleares russos partiram para exercícios no Mar de Barents, que fica ao norte do país, e lançadores de mísseis móveis percorreram a taiga nesta terça-feira.

Em comunicado, a Frota do Norte da Rússia disse que vários de seus submarinos nucleares estavam envolvidos em exercícios para “treinar manobras em condições de tempestade”. 

O órgão também afirmou que vários navios de guerra encarregados de proteger a área perto das bases navais russas na Península Ártica de Kola se juntarão às manobras.

Na região de Irkutsk, no leste da Sibéria, unidades das Forças de Mísseis Estratégicos moveram lançamentos de mísseis balísticos intercontinentais para praticar implantação secreta, disse o Ministério da Defesa russo em comunicado.

Os militares não disseram se os exercícios estavam ligados ao alerta máximo de Putin nem se representam alguma mudança na postura nuclear do país.

Biden reitera apoio a Zelenskyy e lamenta escalada de ataques a alvos civis

Já o presidente norte-americano, Joe Biden, conversou nesta terça com Volodymyr Zelenskyy, para discutir o apoio contínuo dos Estados Unidos à Ucrânia contra as agressões russas.

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Biden falou sobre a ajuda dos Estados Unidos à Ucrânia, incluindo entregas de assistência de segurança, apoio econômico e ajuda humanitária.

Os líderes discutiram como os Estados Unidos, ao lado de aliados e parceiros, estão trabalhando para colocar limites à ação Rússia, com a imposição sanções que já estão causando impacto na economia daquele país.

Os líderes discutiram ainda a escalada de ataques da Rússia a locais usados por civis na Ucrânia, incluindo o bombardeio de hoje perto do Memorial do Holocausto de Babyn Yar.

Se Putin acha que vai fazer Otan recuar, ele está muito enganado, diz Johnson

Por sua vez, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou que Vladimir Putin “está muito enganado” se acha que a invasão da Ucrânia fará com que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) recue suas fronteiras no Leste Europeu. 

“Putin terá mais Otan, e não menos”, disse o premiê durante coletiva de imprensa com a primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas, e o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.

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Segundo Johnson, Putin “subestimou” a capacidade de resistência das forças ucranianas e a união do Ocidente na resposta à invasão. Tanto Johnson quanto Stoltenberg, porém, reiteraram que não pretendem engajar em combate militar contra a Rússia. “A Otan é uma aliança de defesa, não buscamos conflito”, disse o secretário-geral.

Stoltenberg disse ser necessário continuar dando suporte econômico e em equipamento bélico à Ucrânia, ao mesmo tempo em que pressiona a economia russa com sanções. Johnson fez comentários na mesma linha. “Putin e seu regime precisam ser isolados da comunidade internacional”, declarou o premiê.

Para Kallas, a invasão russa mostra que Putin passou de um “autocrata para simplesmente um agressor”, enquanto a Ucrânia se tornou um “Estado inimigo” do Kremlin, e por isso a Otan deve adotar uma postura mais defensiva.

Com informações do Estadão Conteúdo e agências internacionais