O ataque dos Estados Unidos que matou o general Qassim Suleimani, mais alto chefe militar iraniano, liberou uma “energia poderosíssima” entre a população, capaz de unir até mesmo forças que estavam descontentes com o governo local, diz Salem Nasser, professor de direito internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Leia a seguir trechos da entrevista.
Como fica a imagem do regime iraniano perante a população após esse ataque?
Há uma pressão por uma resposta. As imagens são impressionantes e dão indicações para repensarmos um pouco a percepção que se tem do regime pela população. Essas manifestações a favor de Suleimani mostram que a maior parte da população é pró-regime. Os iranianos são extremamente nacionalistas, patrióticos, orgulhosos. O tamanho das procissões e a energia poderosíssima que esse ataque liberou mostram que o regime é mais popular do que se tende a imaginar por aqui. E, vendo as manifestações, encontramos jovens, pessoas de pensamento mais moderno, que talvez até sejam opositores ao governo, mas isso uniu a população.
Como o senhor acredita que deve ser a resposta do Irã?
O Irã vai trabalhar para expulsar as forças americanas da região. O alvo será as Forças Armadas dos EUA. Não devem ser os civis americanos. Então, a resposta deve começar no Iraque e na Síria. É especialmente relevante para o campo da resistência – que vai do Golfo de Omã até Iraque, Síria e Líbano – eliminar a presença americana nesses dois países.
Qual a possibilidade de o Irã obter armas nucleares?
Tenho uma tendência a acreditar na narrativa oficial iraniana de que eles não procuram as armas nucleares. O aiatolá Ali Khamenei, o líder supremo do Irã, já disse que utilizar esse tipo de arma é contra o direito islâmico. Como líder supremo da revolução, em princípio, o que ele diz, juridicamente, seria a última palavra.
O ataque prejudica ou favorece o presidente Donald Trump?
Os primeiros efeitos para Trump me parecem perigosos. Ele não diminuiu o ânimo do outro campo, pelo contrário. Legalmente, realizar um assassinato extrajudicial de uma autoridade de outro Estado – e ainda cantar vitória – é algo muito simbólico. O governo dos Estados Unidos fez um ato típico do submundo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.