“As autoridades que não cumprem as próprias regras”. Quem afirma isso é o presidente do Conselho Regional de Radiologia (CRTR), Érico Carvalho. Ele explica que as secretarias de saúde insistem em manter funcionando as unidades de radiologia, mesmo sabendo dos problemas.
A afirmação do conselho de radiologia é uma resposta à reportagem exclusiva da Rede Vitória, que revelou o vazamento de radiação na unidade de Pronto Atendimento de Guarapari. A unidade é a principal referência em urgência e emergência na região. Mas um inimigo invisível coloca em risco a vida de pacientes e funcionários: a radiação que escapa da sala de Raio X.
Diante da denúncia, a Secretaria Estadual de Saúde foi procurada. A chefe do núcleo de vigilância sanitária, Marizete Oliveira, explicou que a gestão da vigilância foi transferida para o município. Diante das denúncias ela explica que quais providências serão tomadas. “Vamos fazer uma nova inspeção e avaliar. Vamos ver o que tem lá, se a denúncia procede, e o que podemos fazer”, explicou.
Procurada, a Prefeitura de Guarapari tentou minimizar o problema. A Secretaria Municipal de Saúde não quis se manifestar e determinou que a diretora da unidade falasse sobre o caso. A diretora admitiu os problemas na sala de radiologia, mas garantiu que o equipamento está perfeito.
Ao contrário da diretora, o fiscal do Conselho Regional de Técnicos em Radiologia Josiel de Oliveira afirma que o equipamento está sucateado. “Eles não fazem o controle de qualidade que deveria ser feito anualmente e não há levantamento radiométrico das paredes que comprovam a segurança de radioproteção para quem está do lado de fora da sala”, afirmou.
Segundo o presidente do Conselho de Radiologia, a interferência política atrapalha a fiscalização e quase todas as unidades de radiologia do serviço público no Espírito Santo apresentam problemas. “Em o Estado do Espírito Santo eu posso assegurar que mais de 90% dos serviços não tem levantamento radiométrico. Se fosse fechar, fecharia quase todos os serviços públicos onde se trabalha com radiação”, revelou Carvalho.
Entenda o caso
Um problema praticamente invisível, que tem colocado em risco a saúde de trabalhadores e usuários da unidade de pronto atendimento do município de Guarapari. A falta de cuidado na instalação da sala de radiologia permite o vazamento de radiação e quem circula pelo local está exposto aos raios x, sem controle, e sem saber dos perigos.
Inaugurada em 2010, A UPA de Guarapari é referência em urgência e emergência na região. Um dos serviços mais requisitados é a radiologia. Embora a Unidade de Pronto Atendimento tenha sido inaugurada em 2010, o aparelho de raio x utilizado para a realização dos exames é bem mais antigo. A idade não seria problema se estivesse tudo em ordem.
Um aviso improvisado no aparelho alerta o operador para o risco de explosão. Mas o problema mais grave é invisível. As paredes deveriam ser blindadas, o que significa que nenhuma radiação deveria passar para o lado de fora. A equipe da TV Vitória fez um teste com uma moeda de 1 real e uma chapa de radiografia. A chapa foi levada para o lado de fora e a máquina foi acionada pelo tempo normalmente usado para uma radiografia de coluna. Ao revelar a chapa, o contorno da moeda estava no exame, um indício grave de que a radiação está passando pela parede.