Uma verdadeira megaoperação foi montada para transportar um fígado captado de um paciente no Espírito Santo para o Rio de Janeiro, na manhã desta terça-feira (1º).
Para o translado foi necessária a utilização de uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) e o fechamento da Linha Vermelha, na capital carioca.
Isso tudo porque o paciente receptador do órgão se encontrava em estado gravíssimo e uma corrida pela vida teve início para que o fígado chegasse na hora certa.
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Assista ao vídeo:
A Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) informou que o órgão chegou ainda durante a manhã à Central de Transplantes do estado, a RJ Transplantes, transportado por um avião da FAB.
Assim que chegou no Aeroporto do Galeão, uma equipe da RJ Transplantes já estava de prontidão para realizar o transporte do fígado até o hospital, localizado no bairro Cosme Velho.
“A operação faz parte da rotina do Sistema Nacional de Transplantes. Quando a central de transplantes não encontra receptor compatível dentro do estado do doador, o órgão é oferecido a outros estados. No primeiro semestre de 2024, o RJ Transplantes enviou 13 órgãos para os demais estados e recebeu outros 23”, informou a SES-RJ por nota.
Como funciona o processo de doação de órgãos
O processo de doação se inicia no hospital notificador, assim que um potencial doador tem morte cerebral confirmada. A partir deste momento, a família do paciente é entrevistada para autorizar ou não uma doação.
De acordo com a a coordenadora da Central Estadual de Transplantes do Espírito Santo (CET-ES), Maria Machado, com a autorização dos familiares, o possível doador é avaliado para que um receptor compatível seja encontrado.
“Realizamos uma avaliação deste doador e colocamos todos os dados dele no nosso sistema nacional, para avaliar a compatibilidade do doador com os receptores que estão neste sistema. Quando um receptor compatível é encontrado, é agendada a cirurgia de captação. Encaminhamos nossa equipe para realizar esse procedimento até o hospital onde o doador está”, explicou.
Com o órgão captado é iniciada uma corrida para entregá-lo ao receptor dentro do menor prazo possível. Isso porque cada órgão conta com tempo limite para ser transplantado.
O fígado, como foi o caso desta terça-feira, tem entre 12 a 24 horas. Os rins têm 24 horas. Já pulmões e coração, órgãos mais sensíveis, precisam ser transplantados em até 6 horas e 4 horas, respectivamente.
Para transportar o material no próprio Espírito Santo, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesa), conta com duas vans para realizar as viagens. Em casos de maior urgência são utilizadas aeronaves do Núcleo de Operações e Transporte Aéreo da Secretaria da Casa Militar (Noater-ES).
Já para viagens interestaduais, geralmente são utilizados aviões da FAB ou aeronaves de linhas aéreas tradicionais, que têm uma parceria com as secretarias de saúde para realizar este tipo de translado.
isso porque um órgão retirado no Espírito Santo, ou qualquer outro estado, pode ser levado a toda e qualquer parte do país, sem nenhum tipo de distinção, como explica Machado.
“Quanto mais rápido conseguimos realizar a captação e enviar para o paciente, melhor. Um órgão pode ser enviado para qualquer parte do país, então existe um termo de parceria com as linhas aéreas para que o prazo seja cumprido”, disse.
Como é o transporte na Linha Vermelha
Apesar das imagens impressionantes, a coordenadora explica que operações como aquela na Linha Vermelha são rotineiras. As polícias dos estados já ficam de prontidão para realizar qualquer interrupção necessária no trânsito ou intervenção pelo ar, com helicópteros.
“Acredito que ontem eles estivessem sem helicópteros disponíveis, mas sempre que estão disponíveis, contamos com apoio das aeronaves. Além disso, contamos também com apoio da PRF dos estados, da Polícia Militar, que ajudam com a escolta, tudo para não encontrarmos nenhum obstáculo no caminho”, contou.
Durante todo o trajeto, o órgão que será transplantado é armazenado em sacos estéreis, dentro de uma caixa térmica com gelo. Ele fica imerso em um líquido de preservação.
Uma vez transplantado, este líquido é substituído pelo sangue, que passará a produzir novas células para que o órgão se adapte ao corpo do paciente receptor.
“Levou vida”, diz filha de doador capixaba
Após a morte encefálica de Paulo César Guerra, de 55 anos, a filha, Maiana Guerra, decidiu doar os órgãos do pai.
Em entrevista ao ES no Ar, da TV Vitória/Record, Maiana Guerra descreveu que, após o desligamento da sedação, os médicos informaram que o pai poderia ser um possível doador de órgãos.
“A médica informou o estado, desligaram a sedação e não havia mais retorno. Pela idade do meu pai falaram que ele seria um possível doador. Perguntei quais poderiam ser doados e ela falou as córneas, fígado e os rins, aceitei a doação. Mesmo se alguém da família não quisesse eu poderia decidir”, contou.
Maiana descreve que, ficou surpresa com a possibilidade de doação, mesmo com o pai não seguindo “hábitos saudáveis”. “Na hora dá uma esperança, ele não vivia uma vida muito saudável, fiquei surpresa”.
Muito emocionada, Maiana lembrou que a doação envolve uma grande dualidade de sentimentos. Pois, ao mesmo tempo que se despedia do pai, sabia que estava fazendo uma boa ação com a doação.
“Estava vivendo o luto de viver os trâmites da liberação do corpo, autorização da doação e a família deles iria estar feliz. Eles estão comemorando. Mas não fiquei mal por eles, me fez sentir bem, porque se fosse eu ficaria feliz”, descreve.