Durante os anos de 1816 a 1822, o biólogo francês, Auguste de Saint Hilaire fez diversas expedições exploratórias no Brasil. Em Uma delas, percorreu o Espírito Santo e chegou a Minas Gerais navegando pleo Rio Doce. Na narrativa “2 Voyage à Iinterieur du Brésil”, escrita pelo biólogo, ela relata a situação da seca no Rio Doce e também cita a contaminação do Rio por conta da atividade de mineração.
“Embora estivesse a estação adiantada, havia ainda uma seca extrema e eu não achei, durante toda a viagem, nenhuma planta florescendo. Naquele ano, os colonos se queixaram com amargura da falta de chuva que atrasou todas as suas plantações”. descreve Auguste Hilaire.
Em outros trechos da publicação, o biólogo relata que a navegação era muito difícil, por conta da baixa profundidade e dos bancos de areia que surgiam no leito do rio na época da seca.
“Os rochedos que se erguem no meio do Rio Doce opõem um grande obstáculo à navegação deste rio, mas como se viu, alguns desapareceriam com pouco trabalho e outros seriam evitados, cavando-se lateralmente canais de pouca extensão”.
Segundo o professor da Universidade Federal do Espírito Santo e especialista em Recursos Hídricos, Antonio Sérgio Ferreira de Mendonça, o ciclo da seca no Espírito Santo está relacionada ao fenômeno climático El Niño.
“É um fenômeno que altera o clima no mundo todo. Aqui no Espírito Santo, desde o século XIX, temos os registros de períodos de seca provocados por conta do El Niño. Em 1832, houve uma seca de dois anos e a administração estadual na época, inclusive, solicitou auxilio ao império. O último ciclo semelhante ao vivido naquela época, presenciamos nos anos de 2015 e 2016″, explicou o professor.
O livro do biólogo francês ainda relata a presença de contaminação no Rio Doce.
“Quase na sua foz, suas águas são muito doces, podendo ser bebidas; entretanto, na época das águas, elas chegam carregadas de limo avermelhado que não é outra coisa senão o resíduo da mineração da província de Minas”, descreve.
Uma edição do livro de Auguste de Saint Hilaire, em português, publicada em 1936, está disponível no site da Câmara dos Deputados.