No mundo corporativo é cada vez mais comum ouvirmos a seguinte máxima: as empresas contratam pelas competências técnicas e demitem pelas competências socioemocionais. O que acontece, no entanto, é que não existem aspectos socioemocionais bons ou ruins. Esses aspectos dependem da função e do tipo de trabalho para qual são exigidos.
Isso soa óbvio, mas por que então esse desalinhamento entre função, pessoas e empresas ocorre com tanta frequência? O nosso sistema de ensino foi moldado para desenvolver habilidades técnicas. Portanto, negligenciamos por décadas qualquer coisa que pudesse desenvolver outros aspectos que completam a nossa formação.
Nos últimos anos, escolas e faculdades começaram um movimento em prol de completar essa formação com outras habilidades que não somente as mais técnicas. Precisamos, entretanto, ser um pouco mais profundos para modificar estruturalmente essa relação. É necessário que a gente desenvolva nossos valores e nossas capacidades.
Valores e capacidades
Valores são as crenças mais profundamente enraizadas que motivam comportamentos e determinam a compatibilidade entre as pessoas e o seu trabalho. Elas lutarão de acordo com seus valores.
Capacidades são maneiras de pensar e se comportar. Dessa forma, algumas pessoas são grandes aprendizes e processadores ágeis, outras são mais detalhistas; algumas, mais metódicas, outras, ainda, são criativas e inovadoras.
Nós temos valores próprios, queiramos ou não. Eles podem ser modificados à medida que ao menos tomamos consciência de que esse é um tema importante e de como podemos viver a vida mais consciente ao redor deles.
Algumas pessoas, por vocação, podem ter como valor o trabalho duro, por exemplo. Mas estar atento ao fato de que esse é um pilar importante vai estimular que a pessoa se desenvolva a partir disso. E mais: que procure lugares com essas características.
Outras pessoas podem ter como valor a inovação, a mente aberta, a criatividade. Essas, entretanto, teriam mais dificuldades em ambientes mais exigentes e que não fossem tão abertos.
Na mesma medida, temos as capacidades. Tomando consciência de quais são nossos pontos fortes e fracos, podemos determinar melhor quais os lugares ou ambientes mais se adequam a essas nossas características.
Muitas empresas já tomaram consciência nesse processo e cada vez mais dão valor a declarar quais os valores e capacidades são esperados em cada lugar. Mesmo em lugares que se vendem de modo mais aberto, tem característica em comum que acaba premiando determinados comportamentos ou capacidades.
Se o mercado de trabalho já se posiciona dessa maneira, por que não posicionar nosso sistema de ensino também assim? Quantas escolas falam profundamente como ferramenta de formação sobre valores e capacidades? Quantos processos de educação criamos para valorizar ou criar consciência sobre essas características?
Além do ambiente escolar, precisamos estimular essa temática no âmbito familiar, precisamos que isso seja um tema cotidiano na educação dos nossos jovens. Precisamos entender mais desde cedo quais são os nossos valores, as nossas capacidades e ambientes que podemos performar melhor. Além do ganho de produtividade, encaixando as pessoas onde elas têm afinidade para trabalhar, também estaríamos dando um salto de qualidade para as mesmas.
Veja mais conteúdos sobre educação e tecnologia no EducaTech.