A pandemia da COVID-19 nos trouxe diversos desafios. Um deles foi o ensino por meios digitais. Os caminhos tomados foram aqueles que estavam mais perto de serem utilizados e que conseguiam reproduzir de certa forma o ambiente educacional clássico como sala de aulas/professor. O mesmo formato padrão foi bastante adotado em cursos de treinamento.
Mas onde estão as pessoas no ambiente on-line?
Entretanto, apesar de funcionar de modo relativamente bem, o formato clássico espelhado para o ambiente on-line teve dificuldades de incorporar um outro elemento tão importante quanto o conteúdo: a convivência entre pessoas. Essa dificuldade e essa falta trouxe como consequência uma queda de engajamento. Por isso, muitos profissionais da área se perguntaram e ainda estão se perguntando o que fazer, como contornar essa situação e trazer engajamento ao convívio on-line para ambientes de aprendizado.
Tabuleiro e caixa
Na Startup Mundi, nosso trabalho é oferecer cultura de inovação baseada no ecossistema startup para empresas, entidades de apoio ao empreendedorismo e instituições de ensino. Mas como fazemos isso? Por meio de uma metodologia que incorpora atributos de ludificação e gamificação.
Sendo mais específico, por meio de um jogo onde simulamos a jornada de uma startup passando pelas etapas de validação da solução, mercado e escala. Durante o jogo, os participantes traçam estratégias, fazem pitch’s para captar recursos para seguir para a próxima fase, montam equipe, contratam serviços, lidam com imprevisibilidades e gerenciam os recursos e a aceleração. Jogam por rodada em média 16 pessoas divididas em quatro equipes, cada uma com uma startup diferente.
Nós começamos a fazer isso de modo off-line, com um jogo em caixa. Como uma metodologia de ensino e treinando facilitadores para conduzir a experiência e lidar com os conceitos que trabalhamos no jogo, como MVP, LTV, CAC, Churn, Protótipo Funcional, Beta, Teste A/B, Segmentação de Clientes, Jornada do Cliente, Customer Success, entre outros. Hoje abordamos 28 conceitos durante o jogo.
Mas, como eu ia dizendo, fazíamos isso no modo off-line. Com o contexto da pandemia, tivemos que nos adaptar e levar a experiência do jogo para o modo on-line rapidamente, levando em consideração a qualidade daquilo que estávamos acostumados a oferecer. Além disso, nosso NPS era de 91, e a grande dúvida era: conseguimos alcançar o mesmo nível no ambiente on-line?
A jornada de aprendizado
Para transformar um jogo de tabuleiro em um jogo on-line, utilizamos três ferramentas distintas: o Trello, o Zoom e as planilhas do Google. No Trello, colocamos as cartas do jogo, divididos em vários quadros. Equipes, Talentos, Serviços, Startups e o quadro do Facilitador do Jogo. Inventamos um modo de usar o Trello aproveitando do conceitos de cards, para incorporar os nossos cards. Como é uma plataforma simples e bastante utilizada, tivemos uma aceitação muito boa.
O jogo é para quatro equipes de até quatro participantes e durante a jornada as equipes devem se reunir separadamente para realizar atividades que são essenciais como responder os desafios, contratar talentos e serviços, treinar o pitch, decidir estratégias, entre outros. Sendo assim, utilizamos o Zoom, que tem a funcionalidade de criar salas simultâneas, onde podemos separar as equipes e seus integrantes.
Para que cada equipe consiga controlar gastos, aceleração e ganhos, elas devem utilizar uma planilha on-line do Google. Ou seja, utilizamos ferramentas conhecidas, elementos conhecidos e começamos a rodar as sessões.
Durante esses meses, aprendemos muitas coisas e é isso que gostaria de compartilhar com vocês aqui. Essas descobertas são uma resposta ao problema que coloquei no início da apresentação. Engajamento on-line é possível? Sim, é possível.
Testar e validar
Cada rodada do nosso jogo na versão completa dura em média cinco horas. Geralmente dividimos o jogo em dois turnos, manhã e tarde. Ou seja, 16 pessoas vão ficar on-line durante cinco horas com uma pausa para almoço.
O que passava pela nossa cabeça: com certeza isso não vai dar muito certo, e na terceira hora todo mundo vai querer ir embora, arranjar um desculpa e cair… Era o risco. Mas para saber o que ia acontecer de fato era necessário jogar. E assim foi feito.
No primeiro mês fizemos várias demos on-line para ir afinando, testando e resolvendo os problemas que aconteciam e os feedbacks que recebíamos de quem participava da experiência. Então, depois de dois meses, praticamente chegamos à nossa versão definitiva, levando em conta o tempo, o engajamento e uma necessidade que foi colocada praticamente por todos os jogadores nos nossos primeiros testes: queremos conhecer melhor com quem estamos jogando. Estamos sentindo falta da convivência com o outro.
Já havíamos resolvido o problema de tempo e a condução do jogo on-line, já havíamos resolvido o problema das ferramentas e cartas, mas não nos demos conta que algo muito importante não havia sido tocado. As pessoas estavam sentindo falta de uma convivência com pessoas.
O contexto da pandemia trouxe essa questão de modo latente e pulsante. A boa notícia era que essa dor não era algo difícil de ser resolvido, e assim fizemos. E Bingo! Ao final de todo esse processo nos demos conta de que a mistura da experiência de jogo com o tempo de trabalho em grupo e convivência focada entre os participantes resolveu não somente o nosso problema, mas apontava para a solução de problemas para professores, escolas, estudantes, empresas, entre outros.
O tempo passou e nem senti
Hoje, quando rodamos a Experiência do Startup Mundi Game Experience no ambiente on-line, é comum ao final da rodada os participantes darem feedbacks como esses. O tempo passou e nem sentiram. Estiveram cinco horas on-line e aprenderam tanto coisa sem se dar conta do tempo que foi usado para isso. Nunca vivenciaram algo parecido nas dinâmicas ou eventos on-line. E que foi uma ótima oportunidade para poder conversar com gente nova, ou trocar experiências com parceiros que não se encontram há algum tempo de um modo mais descontraído, leve, e às vezes de forma competitiva.
Se vocês quiserem saber mais da Startup Mundi conheçam o nosso site. Ali vocês podem se inscrever em demos on-line do jogo, saber como levar o Game Experience para dentro da sua empresa ou instituição ou ainda, marcar uma conversa para falarmos de transformação de conteúdos em jogo sob demanda.
Veja mais conteúdos sobre educação e tecnologia no EducaTech.
*artigo escrito por Antônio Durán Jr., Co-Founder Startup Mundi.