O futebol feminino vem ganhando a sua devida importância no Brasil nos últimos anos. Um desses reflexos é a criação de escolinhas de futebol para meninas. No Espírito Santo, a pioneira nessa movimentação é a Escola Zico 10, que em 2017 abriu a sua primeira turma em solo capixaba. O trabalho exercido, entretanto, vai muito além da prática esportiva. As atividades realizadas na escolinha contribuem para um melhor desempenho escolar e no desenvolvimento dessas alunas.
A Escola Zico 10 possui dois núcleos exclusivos de futebol feminino no Espírito Santo: o primeiro, localizado em Vitória, contém 136 alunas; e o segundo, em Colatina, é composto por 26 alunas. As meninas são divididas em cinco categorias, que vão do primeiro ano do ensino fundamental até o ensino médio.
De acordo com Eliton Fábio Reisen Perini, diretor esportivo da FAP Eventos Esportivos, responsável por gerir a Escola Zico 10 no ES, as meninas têm uma formação na escolinha que desenvolve habilidades que vão muito além das requisitadas dentro das quatro linhas.
“A metodologia adotada na Escola Zico 10 é de acolhimento, pois a aluna e os pais esperam muito mais do que só aprender a jogar futebol. O nosso trabalho é para que essa aluna se prepare para a vida, e não ser uma craque só apenas dentro da quadra ou campo, mas ser preparada para ser uma ótima advogada, jornalista, médica, administradora… Ou seja, preparar essas alunas para a vida. É claro que prevemos uma craque para o futebol, mas o principal é o acolhimento, é a socialização, a inspiração em coisas positivas, como saúde, dignidade, respeito e humildade”, explica.
Treinadora responsável por duas categorias do núcleo de Vitória da Escola Zico 10, Bruna Saurin Silva fala dos benefícios que a prática esportiva traz para as alunas. “As colaborações do esporte para o desenvolvimento humano são bem vastas. O esporte tem essa capacidade de trabalhar a atividade física das crianças, mas também trabalha a atenção. Além disso, as meninas têm contato com outras meninas. Então é impossível participar de um esporte coletivo e não ter interação com as amigas e as pessoas que não estão no time”.
A aluna Clara Mendes, de 14 anos, está na Escola Zico 10 desde o início do projeto. A sua mãe, Maria Adriene Silva Mendes, relata que a filha tem uma personalidade mais fechada. Dessa forma, a prática do futebol está desenvolvendo aspectos socioemocionais da criança, que refletem na sua performance na escola e na saúde física e mental.
“A minha filha é uma menina mais tímida, então os treinos a ajudaram na socialização. Ela começou a se relacionar com outras meninas, começou a se expressar melhor, a expressar seus sentimentos. A raiva por não ter feito gol, ou a felicidade por ter vencido um jogo. Além disso, ajudou no desenvolvimento dentro de sala de aula. Fora a questão da saúde, que melhora. A prática do futebol ajudou em todos os processos dela”.
Aproximação com os familiares
Durante a infância e adolescência, o papel dos pais no desenvolvimento do filhos é fundamental. Ciente disso, a Escola Zico 10 mantém uma relação bem próxima com os responsáveis das suas alunas, como explica Eliton Perini.
“Temos uma linha direta com os pais. Conversamos a todo momento com eles. Faço muitos eventos, onde os pais que estão mais longe da gente se aproximam. Temos palestras, eu convido ídolos para virem falar da história deles. Também temos a preocupação de como essas alunas estão se portando em casa, como estão se alimentando, se estão com problema de saúde física e mental”,
Maria Adriene Mendes elogia essa proximidade que existe entre a escolinha e os familiares. “A escolinha está sempre realizando eventos, fazendo treinamentos em outros locais. Isso faz com que a escolinha tenha uma aproximação com os pais. Além disso, tem os campeonatos que são organizados. É muito bacana”.
Futebol é coisa de mulher
O futebol feminino brasileiro fica para trás em vários aspectos, se comparado a outros países. Pois além da falta de incentivo e investimento por parte dos órgãos competentes e das pessoas que comandam o futebol no Brasil, existe uma questão machista muito forte. Culturalmente, a prática do futebol está condicionada aos homens. Isso, portanto, reflete no desenvolvimento da modalidade, porque as meninas, desde crianças, não são incentivadas a jogar bola.
Aos poucos, no entanto, o cenário está mudando. Maria Adriene confessa que no início teve receio de matricular a filha na Escola Zico 10 por preconceito. Hoje ela já tem outra visão sobre o assunto e acredita que o futebol pode ser praticado por todos.
“Eu tinha preconceito, mas hoje eu acho que as meninas têm que fazer aulas de futebol, porque elas se desenvolvem. No início eu realmente tive preconceito. Torci para que ela gostasse mais de vôlei. Mas agora eu vejo que é uma oportunidade da minha filha se desenvolver, como outro esporte qualquer. Esporte esse que pode ser praticado tanto por homens quanto por mulheres”.
O fomento à prática do futebol pelas meninas desde a infância e adolescência é fundamental para o desenvolvimento da modalidade no Brasil. A treinadora Bruna Saurin, porém, fala sobre a importância das mulheres ocuparem outros espaços dentro do esporte que não se limite só aos de jogadora.
“Quanto mais mulheres eu ver dentro do esporte, mais eu fico feliz. A própria abertura da escolinha mostra que as meninas não estão lá forçadas. As meninas só esperam por um espaço para poderem jogar, participar, algum lugar que as acolha. É de fato importante a participação da mulher em outros espaços, principalmente como treinadoras. É importante as mulheres ocuparem espaços como árbitras, treinadoras, na área de gestão”.
A profissional finaliza. “O futebol é uma das ferramentas de falar para as meninas que elas podem. O futebol é um espaço que sempre foi negado para as meninas. Então, elas estarem aprendendo futebol mostra que elas podem ocupar outros espaços, também. Não só dentro do futebol. Elas são transgressoras”.
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