É notório que se compararmos aos demais setores que movem a sociedade, a educação concorre pelas últimas posições em termos de inovação e evolução. A área educacional ainda olha para o passado e se estrutura, de maneira geral, sob um formato muito arcaico. Em contrapartida, muitas empresas tentam inovar, incorporar tecnologias e aumentar ao extremo o desempenho do aluno. Adaptive learning, mapeamento de resultados, planejamento de estudos personalizado, essas são apenas algumas das formas de alcançar esse objetivo. Mas e se isso não fosse exclusivamente o destino da educação?
Devido ao atraso em que a educação contemporânea se encontra, ao considerar os avanços tecnológicos e inovadores de outras esferas, diversas práticas e ferramentas têm sido desenvolvidas para recuperar o tempo perdido. O avanço tecnológico tardio dos sistemas de ensino e das empresas da área educacional tende a concentrar as disputas ora na oferta imensa de conteúdo, ora nos pequenos ganhos de produtividade.
Se, por um lado, a forma competitiva das avaliações e vestibulares, com suas aprovações e reprovações, apresenta o cenário perfeito para diversas empresas criarem produtos para seus alunos, por outro, o nível de competitividade é acelerado na mesma proporção em que a ansiedade é gerada nos candidatos, muitos ainda jovens.
Síndrome de Netflix
Nesse contexto, a disponibilidade de um imenso acervo de conteúdo e aulas sem um direcionamento apropriado produz algo popularmente conhecido como Síndrome de Netflix. Ou seja, as possibilidades são tantas que acabam por prejudicar a eficiência de decisão do usuário. Quanto mais opções temos, mais tendemos a mantê-las em aberto. Isso nos custa algo, como muito bem exposto no livro “Previsivelmente Irracional” (Predictably Irrational), de Dan Ariely (2008). Para estudantes em geral, essa dificuldade de escolha e decisão geralmente contribui para a ampliação dos quadros de ansiedade.
Outro ponto focal das empresas prestadoras de serviços educacionais e escolas é a personalização na busca por aumento da produtividade. Maximizar o resultado dos alunos em menos tempo, por meio da personalização e inteligência de dados, é uma pauta que vem sendo capitaneada por essas instituições.
Dessa forma, não é à toa que vemos vestibulares cada vez mais concorridos e desempenhos cada vez mais surpreendentes entre os alunos nas primeiras posições. O lado controverso é que apesar da personalização, raramente os alunos saem dessas disputas sem ter experienciado nenhum mal contemporâneo, como a ansiedade ou o burnout.
As soluções ofertadas para a superação de um cenário de aceleração tornam-se cada vez mais acirradas e promovem pequenos ganhos quando comparadas entre si. Os diferenciais de produtividade, de software e da entrega performática tornam-se cada vez menores entre uma solução e outra.
A área educacional pode emular outros setores
Além disso, há de se aprender com exemplos de outros setores empresariais que já passaram por essa evolução. O foco foi de adaptação e diferenciação em aspectos que antes não eram explorados, como sustentabilidade e experiência do cliente, que foram ainda mais acelerados com a avanço da pandemia da Covid-19.
Para elucidar esse ponto, olhamos para o setor bancário. O Nubank e o Inter, por exemplo, prezam por oferecer uma experiência única ao cliente. No varejo, a Amazon e a Magazine Luiza buscaram, além de eficiência nas entregas, abraçar os seus consumidores com experiências positivas. No setor automotivo, a sino-sueca Lynk & Co se afasta da tradicional venda e aplica um modelo de subscrição, onde um registro e o pagamento de uma tarifa habilita a utilização do carro e diminui a burocracia comumente presente na aquisição de um veículo.
A educação, no entanto, ainda está um passo atrás das demais. A área busca o excesso de conteúdo e as tecnologias que aprimoram o sucesso do estudante, sem entender que o resultado é dependente ainda de outros fatores. Soma-se a isso o baixo aprendizado real das aulas (que hoje ainda é muito presente) e o apego e a cobrança dos pais e dos próprios alunos pelas formas avaliativas antiquadas. Portanto, cria-se uma atmosfera dentro do sistema nervoso central conveniente para a ansiedade, a angústia ou o esgotamento entrarem em cena.
É comum acreditar que o sucesso leva a felicidade, mas estudos recentes indicam o contrário. Como descrito por Shawn Achor (2012), em “O jeito Harvard de ser feliz” (The Happiness Advantage), o fluxo entre felicidade e sucesso é inverso. Para se ter sucesso, o autor defende que é preciso que a felicidade venha antes. E, dessa forma, chegamos ao momento de pensar o modelo atual e o do futuro próximo da educação.
O foco em resultados
A busca por excelência em resultados em nossa sociedade está a ponto de deixar de lado a preocupação com a experiência positiva no caminho. Se pensa sempre no resultado final, na aprovação ao término do ano ou na conquista da vaga dos sonhos na faculdade. Mas e quanto ao processo? E a jornada antes da consequência final? Vale a qualquer custo criarmos uma sociedade doente em busca da excelência de resultados?
Como toda boa jornada até o sucesso, o caminho da educação precisa trazer experiências positivas, senão se tornará cada vez mais maçante e o número de desistentes se tornará cada vez maior. Reforços e emoções positivas são comprovadamente eficientes para o aprendizado. Sendo assim, as empresas que conseguirem aliar produtividade, personalização e felicidade ao estudante, de modo que ele aprenda sem perceber que está aprendendo e que aproveite a jornada, sairá na frente da concorrência.
Thomas Frey, futurista norte-americano, afirmou que, em 2030, a maior empresa da internet mundial será da área educacional. Afinal, aprender pode ser também prazeroso e não sempre cansativo. Quem sabe se essa empresa não irá então utilizar da felicidade e da leveza como ferramentas ao seu dispor?
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*artigo escrito por Lorenzo Ferrari Assú Tessari, especialista em aprendizagem e metodologias de ensino. Formado em Ciências Biológicas pela Ufes, mestre em Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia pela UFPR, e diretor e cofundador da Gama Ensino e da Anole.
Muito bom esse artigo.
Parabéns
Diante do cenário vivido é preciso repensar com urgência o que se ensina, para que se ensina e como se ensina conteúdos programático a fazendo uma varredura no currículo eliminando conteúdos repetitivos promovendo um trabalho interdisciplinar.
Sou Professora desde 1975. Atuei como Professora de Matemática, no Ensino Fundamental e Médio. Depois Alfabetizadora no Infantil, Anos iniciais do fundamental, na Intervenção com alunos que não sabiam ler mesmo estando na quinta série do Ensino Fundamental. e com crianças com TDAH. Ainda fui Professora do Magistério onde consegui levar muitos alunos(as) a se tornarem Professores da rede pública de Belo Horizonte.Enfim sitei minha experiência só para ilustrar minha estrada de Alfabetizadora pelo caminho dos jogos, rodas de cantigas, parlendas e poesias atreladas ao processo de alfabetização que sempre deu um resultado muito positivo. Nessa Pandemia me envolvi com crianças que estavam adoecendo com as aulas on line, ficando entediadas e o meu sistema de alfabetizar brincando me trouxe a certeza de que a criança precisa de ter um ambiente favorável, que a estimule ao prazer de brincar e aprender. Pois só com essa maneira simples de ensinar é que as crianças se envolvem e teem motivos suficientes para voltar no dia seguinte. E o mais interessante é que quando elas descobrem que estão aprendendo a ler o mundo , aí sim elas não farão outra coisa a não ser ler….MarilenePizarro/ Psicopedagoga, Professora da PBH/MG.