As escolas públicas de Ensino Básico de todo o Brasil estão iniciando o novo ano letivo com a manutenção de um grande problema do sistema educacional do país: aulas sem conexão à internet.
De acordo com dados do Mapa da Conectividade na Educação, feito pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB) e pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, 30.024 unidades escolares municipais e estaduais – de um total de 138.803 no país – não estão conectadas à rede mundial de computadores.
Falta de dispositivos e acesso à internet geraram as maiores dificuldades a educadores
Já segundo a pesquisa Tic Educação 2021, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), 91% dos mais de 1.800 professores consultados de todo o país apontaram a falta de dispositivos e acesso à internet nos domicílios dos alunos como uma das principais dificuldades enfrentadas durante a pandemia; e 72% disseram que a baixa velocidade da conexão à internet “dificulta muito” seu trabalho.
De acordo com Rodrigo Almeida, especialista em conectividade na educação e sócio da Base Mobile, startup que desenvolve sistemas de conectividade para uso no setor educacional, a falta de acesso à internet com estabilidade e segurança compromete o desenvolvimento de milhões de alunos brasileiros, em especial os oriundos de famílias de baixo poder aquisitivo.
“O ensino híbrido, que combina as aulas presenciais com atividades realizadas à distância, é a forma mais efetiva e racional, em termos de uso dos recursos, para prover educação de qualidade para o conjunto de 38 milhões de estudantes do sistema público de Ensino Básico”, diz Almeida.
Além de o ensino híbrido ser tido como uma estratégia educacional básica para qualquer fase do aprendizado formal, também é o melhor caminho para a recuperação do déficit de aprendizagem causado pela pandemia de Covid-19.
Pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), com base em informações do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), mostrou que a parcela de alunos do 2º do Ensino Fundamental com dificuldade para ler e escrever passou de 15,5%, em 2019, para 33,8%, em 2021.
Impacto da pandemia na educação pública
Por sua vez, estudo conjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Durham University, da Inglaterra, indicou que crianças e adolescentes em situação de maior vulnerabilidade social no Brasil aprenderam, durante a pandemia, 35% menos do que anteriormente.
De acordo com Almeida, as aulas sem conexão à internet na educação pública aprofunda a desigualdade social no Brasil e torna-se o maior desafio da área. “Assim como oferece uniforme, material didático e merenda, é preciso que o sistema público de educação incorpore a esse pacote básico um kit tecnológico de acesso seguro à internet e plataformas digitais de aprendizado. Cabe ao Governo Federal catalisar essas ações junto aos estados e municípios, para que o ensino híbrido possa se tornar uma realidade para todos os estudantes do país, assegurando justiça social e um futuro melhor para a nação”, finaliza o especialista.
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