A Responsabilidade Social Corporativa é uma área de atuação das empresas desde há muito tempo. Efetivamente, nos dias de hoje, poucas empresas não têm iniciativas ou projetos de cariz social, embora com motivações bem diversas. Algumas fazem por convicção, outras por marketing, outras por modismo e outras ainda porque não podem deixar de o fazer, sob pena de ferozes críticas ou represálias de vários stakeholders.
Gostaria de destacar algo que tem mudado – e pode mudar ainda mais – a atuação das companhias na área social: a crise financeira e econômica internacional. De fato, empresas existem com objetivos específicos, têm acionistas e determinados contextos de atuação. Parece uma observação evidente, mas nem sempre nos lembramos disso quando cobramos das empresas que resolvam todos os problemas da sociedade.
Das empresas exige-se hoje uma atuação muito focada no negócio. Resultados são cobrados com cada vez maior exigência e orçamentos são elaborados e acompanhados com extremo rigor. Não é de estranhar que, quando a atuação social não está verdadeiramente enraizada, seja um alvo imediato de cortes de despesa e, consequentemente, redução de atividade.
Compreendida esta realidade, empresas que acreditam que a Responsabilidade Social Corporativa é importante para o negócio, começam a revisitar suas iniciativas e a repensar sua forma de atuação na área social. Neste ponto, várias opções se colocam, entre elas, uma atuação social que traga resultados para o negócio, quer seja sob a ótica de aumento de vendas, quer sob a ótica de redução de custos ou gestão de riscos.
A questão que se coloca é: porque um projeto social desenvolvido por uma empresa não pode trazer retorno financeiro, naturalmente, desde que proporcione um real benefício social. Porque não encarar a Responsabilidade Social Corporativa como um jogo ganha-ganha? E se uma determinada linha de negócio de uma companhia, desejavelmente lucrativa, trouxer benefícios sociais? Polêmico? Talvez, mas acredito ser um caminho no novo mundo mais exigente, onde as empresas e todos nós vivemos.
O desafio seria então pensar em soluções para problemas sociais que sejam, simultaneamente, possíveis linhas de negócio.
Não se pretende com esta breve reflexão sugerir que apoiar projetos sociais não alinhados ao negócio seja um erro, ou mesmo que a pura filantropia deva terminar. Existe sempre espaço para boas iniciativas. Pretende-se antes destacar uma nova oportunidade de atuação social das empresas, que pode reforçar as anteriores e, principalmente nos tempos atribulados que vivemos, ser uma ótima solução para o dilema entre cortar custos em projetos sociais, exatamente quando estes se tornam mais relevantes: na crise.
Pedro Sirgado, membro do Comitê de Capital Humano e Inclusão Social do Espírito Santo em Ação.