O governador Paulo Hartung falou sobre as perspectivas econômicas e políticas durante a abertura da maior feira de panificação e confeitaria do Estado, a Acaps Panshow 2015. Confira a íntegra do discurso:
O convite é para falar de turbulências e superações. Como qualquer um sabe, trata-se de fenômenos que atravessamos ao longo de toda a nossa existência, como pessoas, comunidade, organizações as mais diversas e instituições.
Mas, às vezes, as crises são excepcionais, e os esforços para sua superação, extremamente exigentes, e até doídos.
O Brasil está vivendo um período de turbulência grave, com demandas severas para enfrentar a sua travessia.
E como o diagnóstico é o primeiro passo para encararmos uma situação crítica, vamos lá.
De início, importa destacar que estamos passando por uma grave crise, com forte desaceleração da economia e sérios impactos sociais. Trata-se de uma crise com DNA eminentemente nacional, produzida no país por erro no tempo de aplicação das medidas anticíclicas tomadas para vencer a crise financeira internacional de 2008/2009.
Aproveitando-se da ociosidade de nosso parque produtivo, o governo ampliou o acesso ao crédito, gerando mais produção e mais consumo.
O PIB de 7,6% em 2010 mostra os efeitos positivos dessa política.
No entanto, as medidas anticíclicas, tomadas também por outros países e que deveriam ser passageiras, com data de validade prevista, não só se mantiveram como políticas de governo no caso brasileiro, como também foram ampliadas com novas ações.
Tal postura nos trouxe ao que hoje vivemos. Inspirado nos resultados de 2010, o Brasil ressuscitou a crença no intervencionismo governamental como ferramenta eficiente e corriqueira de indução ao crescimento, mesmo quando o mundo já se recuperava da crise planetária.
Ou seja, medidas anticrise mantiveram-se como medidas de política econômica ao final do período mais crítico. E o desastre se fez, como bem mostram os PIBs ladeira a baixo de 2011, 2012, 2013 e 2014: respectivamente: 3,9%, 1,8%, 2,7%, 0,1%. Além da previsão de retração de -1,4% neste 2015.
Desprezou-se uma importante lição da história: intervencionismo estatal pode até ser usado em curtos prazos, mas, em médio e longo prazos, o resultado é um só: déficit fiscal e toda a coleção de nefastos efeitos que ele gera à população, principalmente aos mais frágeis do cenário econômico.
Mantendo uma solução emergencial como medida estrutural, o governo central produziu com suas próprias mãos um grave desajuste fiscal, comprometendo conquistas árduas dos brasileiros nas últimas décadas, a partir do Plano Real.
Tem ficado evidente que muitas vezes os desacertos foram cobertos por uma contabilidade criativa. Mas se as chamadas pedaladas fiscais puderam até mascarar momentaneamente alguns atropelos nas contas públicas, o que elas fizeram mesmo foi minar a credibilidade do governo central, interna e externamente.
O passar do tempo tem revelado a dura face da crise produzida nos últimos anos.
A escalada da crise de credibilidade, o crescente desapontamento resultante do descompasso entre discurso e realidade no campo da economia acabaram por reverberar na esfera da política que, em verdade, é o grande epicentro dos problemas atuais da nação.
Enfim, estamos vivendo uma grande crise econômica combinada a um brutal desajuste político.
Evidência dessa realidade de errância política são as votações no Congresso Nacional: com uma mão cortam-se gastos públicos e com a outra, ao mesmo tempo, aumentam-se as despesas.
Meus prezados e minhas prezadas, diante desse cenário tortuoso, vemos solução no horizonte?
Claro que sim. Não se trata de um processo indolor, mas o país precisa reorganizar suas contas públicas, buscando amortecer os impactos sociais da crise, principalmente mantendo empregos e gerando postos de trabalho. A cotação do real, além do potencial do setor, aponta que as exportações são uma alternativa viável de dinamização da economia.
Nesse sentido, é emergencial ao Brasil restaurar sua credibilidade e recuperar a confiança interna e externa, pois, num mundo de economia globalizada e interconectada pelas tecnologias digitais de comunicação, ninguém resolve seus problemas sozinho.
Precisamos voltar a ser um destino dos fluxos de capital produtivo.
Precisamos retomar uma agenda modernizadora que torne o país competitivo e produtivo, ou seja, atraente aos investimentos.
Nessa direção, precisamos efetivar verdadeiras reformas estruturantes nos campos da gestão pública, da educação básica e dos fundamentos do ambiente de negócios, entre outros.
Outra questão séria são os gravíssimos problemas de infraestrutura econômica (portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, energia, transmissão de dados e telecomunicações).
Enfim, essa combinação de crises política e econômica, com gravíssimos reflexos no dia a dia dos brasileiros, precisa ser enfrentada com senso de urgência e foco no essencial.
Crises, todos vivem, senhoras e senhores. O importante, tanto para famílias quanto para empresas, governos, enfim, para todos nós, é como enfrentamos os momentos agudos, é como atravessamos as tormentas.
Se caminhamos ao sabor dos improvisos, o ambiente de crise vai gerar um efeito extra: a desorganização, a desestruturação de nossos negócios e sistemas produtivos.
Assim, quando a crise passar – e ela vai passar –, perderemos o bonde das oportunidades que se colocarão e ficaremos reféns da desorganização interna, produzida ou aprofundada nos momentos críticos.
Ou seja, se em tempos de vida sem atropelos é preciso planejar para saber aonde se quer chegar e cumprir a caminhada com êxito, imagine em tempos de alta turbulência, de tempestades de grande poder de destruição?
Ou seja, meus prezados, tempos de crise exigem um planejar estratégico para a sobrevivência aos momentos críticos, mas também com um olhar no pós-tormenta.
É preciso traçar estratégia para se manter os fundamentos organizacionais, preservar as estruturas e as atividades vitais às organizações.
Essas ações garantirão a travessia e, mais do que isso, habilitarão as organizações previdentes a se recuperarem com mais velocidade e êxito quando o terremoto passar.
Enfim, é preciso um mapeamento objetivo e lúcido do ambiente, identificar pontos fracos e fortes, ameaças e oportunidades, definir ações emergenciais e também iniciativas estruturantes para atravessar o cenário instável e dar os primeiros passos consistentes na terra firme que cedo ou tarde se avistará.
É exatamente o que estamos fazendo à frente do Executivo Estadual.
Entre 2003 e 2010, lideramos um movimento de reconstrução do Espírito Santo. Firmado um ambiente institucional confiável e transparente, o terceiro econômico ciclo se fundou, marcado pelo avanço das cadeias produtivas aqui instaladas, pela emergência do negócio do petróleo e gás e dinamizado pela intensa diplomacia comercial realizada no país e no mundo, em busca de novos investimentos.
Naquele período, produzimos importantes avanços. O PIB capixaba cresceu 49% enquanto o brasileiro se expandiu 36%. O emprego formal cresceu quase 60%, 12 pontos a mais do que a taxa nacional. Quase 440 mil capixabas saíram da pobreza, cerca de 173 mil deixaram de ser indigentes. Mais de meio milhão ascenderam à classe média. O Espírito Santo tornou-se um dos estados do País com maior ampliação na capacidade de investimento com recursos próprios: de menos de 1%, em 2003, para 16%, em 2010.
Mas, mesmo fechando a primeira década do século com a casa arrumada, um planejamento estratégico de longo prazo (ES 2025), um terceiro ciclo econômico em florescimento, e dinheiro em caixa para manter os investimentos com recursos próprios – deixamos R$ 1,5 bilhão no Tesouro Estadual –, o Espírito Santo, nos últimos quatro anos, deu passos para trás.
Flertando com o desequilíbrio fiscal, gastou mais do que arrecadava, exauriu sua poupança duramente conquistada, comprometeu recursos que financiariam um futuro melhor para as atuais e próximas gerações. Em 2013, assistiu à extinção do Fundap, com impacto desastroso a um segmento importante da economia e reflexos muito negativos nas contas municipais.
Atualmente, aos desafios constituídos nos últimos anos em nosso Estado, muitos deles causados pela irresponsabilidade fiscal, somam-se, ainda, os desafios do cenário nacional, atravessado pela crise econômica e política de que falamos há pouco.
Falar da realidade capixaba hoje, é falar de excelentes e ímpares potencialidades, como os senhores bem sabem, mas é também falar de muito trabalho para recuperar as condições de dinamização e ampliação de nossas bases produtivas.
Mas nunca se ouvirá uma única palavra minha de descrença ou desânimo quanto ao nosso Estado. Minha crença em nosso povo e em nossas potencialidades tem-me inspirado a dedicar a minha vida à atividade política em prol do Espírito Santo.
Por isso, tenho chamado esse período de enfrentamento de Novo Início nas terras capixabas, a partir da visão de Hannah Arendt de que pela política o homem tem a chance de recomeçar, reconstruir sua história com base na experiência e fundamentalmente na expectativa de fazer avançar o projeto civilizatório entre nós.
Assim, não temos perdido um minuto sequer para recolocar o Espírito Santo no rumo. Ao tomarmos posse, com o apoio da Assembleia Legislativa, refizemos o Orçamento 2015, ajustando-o à realidade dos nossos dias, tirando-lhe o caráter de peça ficcional.
Já primeiro dia de trabalho assinei quatro decretos, visando à redução dos gastos da administração pública e à retomada do equilíbrio financeiro-orçamentário, além de mudanças na gestão administrativa, enfatizando o diálogo com a sociedade, a transparência e combate ininterrupto à corrupção.
Tendo em vista o papel central da educação na produção de vida próspera para todos, debatemos e aprovamos o Escola Viva, para evoluirmos na melhoria e dinamização do ensino médio, entre outras medidas estratégicas para capacitar a juventude. Importante também destacar a política de ocupação social, voltada aos territórios mais vulneráveis do nosso Espírito Santo.
Cientes da centralidade dos segmentos dedicados à inovação e às tecnologias de informação e comunicação, estamos reestruturando a Secretaria de Desenvolvimento e retomamos uma firme e ousada diplomacia comercial, para mostrar ao país e ao mundo o universo de oportunidades produtivas das terras capixabas.
Atuamos incansavelmente para garantir a expansão e qualificação de nossa infraestrutura econômica (aeroportos, rodovias, ferrovias, portos, energia, telecomunicações, processamento e transmissão de dados). Ao Interior capixaba, trabalhamos com a pauta da diversificação, qualificação, e valorização das nossas vocações.
Esses são apenas alguns exemplos da nossa estratégia de enfrentamento consequente da crise que se apresenta.
Enfim, estamos novamente plantando ações responsáveis e estratégicas para colher num futuro próximo os frutos da retomada de um desenvolvimento sólido, ampliado, competitivo e sustentável, com ganhos em produtividade, inclusão social, qualidade de vida e oportunidade para todos. Afinal, o futuro é o que estamos fazendo agora.