por Andrea Buffara
O que é ser uma criança bilíngue ou multilíngue? No contexto da educação infantil, refere-se àquela, com idade até cinco anos, que é cultural e linguisticamente diversa, que está aprendendo duas ou mais línguas.
Embora relativamente nova, a ciência do bilinguismo tem sido muito estudada nas últimas décadas, trazendo mais clareza sobre várias questões do bilinguismo infantil. Hoje, se sabe que, além de expandir horizontes culturais e profissionais, ele é um excelente exercício para o cérebro.
Ainda assim, alguns pais têm receio de expor seus filhos a uma segunda língua por insegurança, gerada muitas vezes por preconceitos e ideias errôneas. Segundo pesquisadores como Krista Byers-Heinlein e Casey Lew-Williams, algumas dúvidas são recorrentes: crianças bilíngues ficam confusas? É melhor falar só uma língua com a criança? Os pais devem misturar as línguas? Mais cedo é melhor? Crianças bilíngues têm mais distúrbios de linguagem ou atrasos?
Situações em que a criança não sabe uma palavra em uma língua e a pega emprestada de outra, por exemplo, levantam dúvidas nos pais. Mas esse é um caminho de menor resistência, tem nome científico (“code mixing”) e faz parte do desenvolvimento bilíngue. Crianças usam seu vocabulário limitado de forma flexível, o que é sinal de engenhosidade.
Os pais questionam, ainda, se é preciso que cada membro da família fale somente um idioma com a criança. Não! Essa é uma estratégia antiga (uma pessoa-uma língua), mas sem evidência científica de ser benéfica. Pode funcionar, mas não é necessária. Crianças não fazem confusão. O importante é a qualidade da interação verbal com elas.
Há, também, mitos de que o bilinguismo cause distúrbios ou atrasos de linguagem. Na verdade, estes podem existir tanto em monolíngues quanto em bilíngues. Inclusive crianças especiais podem aprender uma segunda língua. Daí a importância do acompanhamento por especialistas, pois cada caso é um caso.
Em contrapartida, o bilinguismo confere alguma vantagem? As crianças são mais inteligentes?
De acordo com a especialista Tara Fortune, diretora no Center for Advanced Research on Language Acquisition (Universidade de Minnesota), aprender uma segunda língua não prejudica o desenvolvimento da primeira nem a habilidade da criança progredir academicamente. Ao contrário, oferece vantagens cognitivas. No artigo “The Bilingual Advantage”, a psicóloga e professora canadense Ellen Bialystok aponta que alunos bilíngues na primeira infância têm maior capacidade de funções executivas.
Pensar em duas línguas promove atenção redobrada, focada e desenvolve memória operacional. Altos níveis de biliteracia também conferem vantagens como oportunidades de carreiras diferenciadas e maior potencial de ganho financeiro futuro.
E existe uma época melhor para se aprender uma língua? Os cientistas não apontam uma idade específica, mas há consenso de que quanto antes melhor. A exposição inicial a uma segunda língua até os cinco anos, com continuidade por oito anos, é um caminho promissor.
Outro fator importante é o uso extensivo da nova língua no ambiente escolar, com conteúdo ministrado em programas de imersão. O processo de aquisição de linguagem social e acadêmica é longo e complexo, e estudos mostram que leva de quatro a sete anos para crianças bilíngues atingirem proficiência na segunda língua. (Hakuta, Butler, Goto, & Witt, 2000)
Pesquisas científicas corroboram a ideia de que é vantajoso aprender uma segunda língua. A primeira infância é um período de grande transformação social, emocional, física e cognitiva. O bilinguismo pode fazer parte desta transformação, pois as crianças nascem com a capacidade de aprender outra língua.
Andrea Buffara é Consultora Pedagógica da Escola Americana de Vitória – EAV