Como alfabetizar emocionalmente a criança?
Assim como a alfabetização da escrita começa em casa, a alfabetização emocional da criança também deveria ser uma responsabilidade dos pais e começar na mais tenra idade dos filhos.
Porém, a maioria de nós pais não está preparada e nem comprometida com essa tarefa.
Ser mãe ou pai demanda preparo.
O psicólogo e escritor americano, Michael Hall, também especialista em Programação Neurolinguística e pai da Neurossemântica, afirma em seu curso sobre parentalidade:
“Ser pai e mãe é uma profissão complexa que não exige nenhuma aprovação!
Hoje, exigimos autorização para fazer praticamente qualquer coisa. Exigimos autorização para operar um carro ou máquinas pesadas, uma licença para trabalhar nos dentes, aconselhar alguém, reparar o encanamento, mexer com eletricidade e até mesmo criar uma empresa e cozinhar panquecas!
No entanto, para uma das tarefas mais complexas, complicadas e de longo prazo no planeta terra, não precisamos de uma licença. Em nenhum lugar, em nenhum país ou cidade, nenhum governo exige uma Licença para ser Pai ou ser mãe!
Você tem uma licença parental? “
Mas como vamos alfabetizar emocionalmente nossos filhos se nem sabemos gerenciar o nosso próprio emocional?
Muitos de nós pais/mães não temos, na maioria das vezes, nem maturidade emocional, nem psicológica, para cuidar emocionalmente de nossos filhos.
Não sabemos, muitas vezes, nem cuidar do nosso estado interno!
E nesse curso que Michael ministrou no Brasil, eu pude participar e fazer alguns exercícios práticos em que experimentei o tamanho da minha frustração em saber que só agora, depois dos filhos já grandes, tomei consciência dessa necessidade.
Uma carência que ainda a maioria dos pais vivem.
Você não pode pedir demissão da paternidade ou maternidade.
Michael Hall ainda diz:
“Ser pai/mãe é uma profissão problemática! Sem renda! Você não recebe pagamento. Não há treinamento para isso. Você tem que pagar.
O exercício da profissão dura pelo menos 18 anos. Você não pode se demitir. Uma profissão que lhe permite lidar, imediatamente, com os produtos mais preciosos.
Em Bancos, você não tem acesso a ouro, prata, títulos, ações por um longo período de tempo. Em TI, você não recebe os códigos mais intrincados dos programas.
Já na parentalidade, você imediatamente consegue colocar as mãos sobre os produtos mais preciosos. E as consequências da incompetência podem ser desastrosas!
Quando há pais pobres, pais inadequados, até mesmo pais disfuncionais, as crianças podem sofrer física e psicologicamente e serem feridas por décadas: abuso infantil, negligência, sofrimento emocional.
Assumimos que as pessoas “devem apenas saber” como criar filhos, mas não sabem.
Criar crianças saudáveis não é fácil. Nem deveria ser permitido que pessoas sem preparo encarassem esse desafio”.
Refletindo sobre essas palavras de um especialista como Michael Hall, eu me senti encorajada a escrever sobre esse tema.
Não para dar respostas, mas para reforçar a importância de termos consciência dessa necessidade.
E só a partir da maturidade emocional, que acontece através do autoconhecimento, podemos compreender que alfabetizar emocionalmente é tão importante quanto alfabetizar intelectualmente a criança, desde pequena.
Por outro lado, as normas sociais de gênero também influenciam nossa educação emocional.
Ainda existe a crença de que meninos e homens não devem expressar suas emoções, pois isso os torna muito fracos.
Em consonância com essa crença, tendemos a falar mais sobre experiências emocionais com meninas do que com meninos. Como resultado, as meninas tendem a ser melhores em relacionamentos e sintonia.
E o que mais torna a alfabetização emocional tão difícil?
Habilidades de alfabetização emocional requerem interações recíprocas face a face para se desenvolver.
Porém, em nosso mundo digital, onde estamos constantemente envolvidos em interações unilaterais por meio da tecnologia, estamos simplesmente dando às crianças menos oportunidades de se envolver em interações significativas e bidirecionais com outras pessoas, o que é uma grande parte do desenvolvimento habilidades de alfabetização emocional.
Quanto mais gastamos tempo nas redes sociais, sem interagir com nossos filhos, mais perdemos a conexão com eles. Com isso, deixamos passar a oportunidade de construir uma relação mais próxima, de confiança com eles.
E como alfabetizar emocionalmente a criança?
O primeiro passo para desenvolver maturidade emocional na criança é ensiná-la a ler ou reconhecer suas próprias emoções e as emoções dos outros, para que ela possa se relacionar de forma saudável consigo mesma e com as demais pessoas.
Ao entrar em sintonia com o que as outras pessoas estão sentindo, damos o primeiro passo para desenvolver empatia e construir uma relação de confiança com o outro.
A alfabetização emocional está associada a crianças que são mais carismáticas, mais legais, mais felizes e mais resilientes. E as crianças que são mais bem ajustadas emocionalmente, são mais populares, gentis e extrovertidas.
Mas a tecnologia é apenas uma parte do problema.
Quando estamos em nossos telefones celulares ou assistindo televisão, tendemos a restringir as interações reais com nossos filhos.
Porém, nem sempre é a tecnologia a culpada.
Às vezes, é a nossa carga de trabalho, cronograma ou a luta constante para manter as coisas equilibradas e todos felizes.
A psicóloga e escritora Michele Borba, especialista no ensino de alfabetização emocional, identificou quatro passos para entrar em sintonia com os sentimentos:
Pare e sintonize.
Conecte-se com seu filho em um nível emocional.
Supere as distrações e conecte-se realmente, intencionalmente e totalmente com seu filho todos os dias.
Olhe nos olhos.
O primeiro passo para uma boa comunicação é o contato visual. Abaixe-se até a altura do seu filho e mostre que você está interessado e investindo usando um bom contato visual.
Ensine o filho a perceber suas próprias emoções
Outro aspecto chave é ensinar os filhos a identificar suas próprias emoções desde cedo. Laura Dell, professora assistente da School of Education da Universidade de Cincinnati, diz:
“Use linguagem emocional com as crianças. Diga coisas como ‘estou vendo que você está quieto’ ou ‘sei que você ficou bravo'”.
Ensine a criança a expressar, descrever os sentimentos
Concentre-se nos sentimentos.
As crianças precisam aprender não apenas que os sentimentos são importantes, mas também como expressá-los. Dê-lhes boas palavras para usarem como afirmações:
Eu me sinto ______ quando você _______.
Dê-lhes palavras para descrever como se sentem loucos, irritados, envergonhados, frustrados, chocados e em êxtase.
Faça boas perguntas:
“Você parece realmente chateado, o que está sentindo agora?”
A Programação Neurolinguística nos ensina ampliar a nossa acuidade de percepção para ler o não verbal, criando uma conexão verdadeira com o outro.
Respeite e valide os sentimentos de seu filho
Uma mãe que tem essas ferramentas consegue ajudar a criança a conectar suas reações físicas às emoções subjacentes:
“Vejo que seu rosto está ficando vermelho, você está com raiva?”
Expresse os sentimentos.
Antes que as crianças desenvolvam seu vocabulário emocional, você precisa ajudá-las a expressar seus sentimentos, como: “Você deve ter ficado tão animado quando foi escolhido para o Aluno da Semana!”.
Depois que as crianças aprenderem as palavras necessárias para expressar suas emoções, você pode perguntar a elas: “Como você se sente?”.
Também é importante perguntar a seus filhos como eles acham que as outras pessoas se sentem: “Como você acha que ele se sentiu quando ela gritou com ele?”
Quando os pais buscam se autoconhecer, se equipam de ferramentas e aprendem a processar seus próprios sentimentos.
Com isso, eles aprendem a identificar e demonstrar empatia pelos sentimentos dos filhos.
A partir dessa prática, as crianças crescerão em um clima saudável e propício para aprender a compreender e controlar suas próprias emoções.
Com isso, estarão prontas para dar o passo seguinte, que é entender as emoções alheias e transitar com segurança pela vida, fazendo escolhas mais assertivas.
Sintonizar é o primeiro passo para criar filhos que tenham empatia.
Saiba que isso é processo que exige dedicação e entrega, porém o resultado certamente será uma criança mais madura e adulto bem resolvido dotado de maturidade emocional!
Luíza Lopes é Trainer em PNL (Programação Neurolinguística) e Diretora do INDESP.