Geral

Bullying na escola: 6 sinais de que seu filho pode ser vítima e saiba o que fazer

A prática do bullying pode trazer consequências graves para todos os envolvidos, portanto cabe aos responsáveis se educar no assunto.

Foto: Reprodução

A fase escolar é um período de intensas mudanças e questionamentos, época em que crianças começam a descobrir o mundo e a si mesmas. No entanto, também pode ser um momento doloroso devido a uma prática que é, infelizmente, comum nas escolas. O bullying pode estar presente em todas as idades e traz consequências trágicas para todos os envolvidos.

O bullying é um termo de origem inglesa derivado da expressão “bullies” (valentões, em português) e se refere ao ato de intimidar ou ridicularizar outras pessoas. A Lei nº 13.185 classifica a prática como intimidação sistemática, ou seja, quando há violência física ou psicológica por meio de agressões e discriminação. 

Essa prática pode se dar de diversas maneiras, seja por trotes; agressões verbais, físicas, sexuais ou emocionais; discriminações racistas; e cyberbullying (intimidação virtual).

>> Quer receber nossas notícias 100% gratuitas? Participe da nossa comunidade no WhatsApp ou entre no nosso canal do Telegram!

Segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2021, aproximadamente 23% dos estudantes confessaram já terem sido vítimas de bullying. 

De acordo com a doutoranda em Psicologia pela Ufes e professora universitária Anne Silva Rodrigues Daltro, muitas crianças e adolescentes que sofrem com a prática escolhem permanecer em silêncio, por sentirem vergonha e culpa pela situação, além do medo de piorar as agressões. 

Outra razão para o silêncio, segundo a profissional, é o bloqueio de serem vistas como pessoas fracas, vítimas. “É comum que adolescentes e crianças mais velhas não queiram que os pais saibam e defendam elas. Preferem resolver sozinhas por medo de mais humilhação,” explicou.

Portanto, cabe aos responsáveis procurar entender qual é a melhor maneira de abordar a criança, para evitar o constrangimento, e também ficar atentos aos sinais que possam indicar a presença de bullying. 

Sinais de que seu filho pode estar sofrendo bullying

Foto: Caleb Oquendo | Pexels

1. Rejeição a qualquer atividade escolar: 

Por associar o local às agressões e humilhação, a criança irá ter dificuldades em se identificar com qualquer assunto relacionado à escola. 

Sentimentos de ansiedade reais, como dores no estômago e de cabeça, fazer xixi na cama, apetite anormal ou insônia na noite anterior, podem ser indicadores de que a vítima tem medo do lugar. 

Além disso, sintomas falsos e desculpas inventadas pela criança frequentemente para faltar aula também devem alertar aos pais. 

A queda repentina do desempenho escolar é outro sinal de que a criança perdeu o interesse ou não quer estar no local.

Foto: reprodução pixabay

2. Dificuldade em manter contato social: 

Crianças e adolescentes vítimas de bullying criam bloqueios e adotam um comportamento fechado, o qual reflete não apenas no convívio escolar, mas também nas demais esferas sociais.

Sentir dificuldades de fazer e manter amizades, não querer passar tempo com a família ou deixar de interagir em determinadas situações, se trancar no quarto por longos períodos de tempo, são exemplos da mudança de comportamento.

Caso as atitudes sejam repentinas e fora da personalidade da criança, o comportamento deve ser um indicador para os responsáveis

Foto: istock

3. Descontrole emocional 

Devido a pressão diária sentida pelas vítimas, crianças e adolescentes que sofrem com o bullying adotam reações intensamente emotivas

Choros repentinos e tristeza sem razões claras, acompanhados de gatilhos de agressividade e excesso de comportamento irritadiço são fortes sinais de que algo está errado. 

Embora considerados manifestações da adolescência pelo senso comum, os responsáveis devem sempre estar atentos e alertas a tais indicadores, pois demonstram uma intensa pressão emocional.

Foto: Divulgação

4. Dificuldades em lidar consigo mesmo 

Por terem a confiança constantemente minada pelos agressores, vítimas de bullying sentem dificuldades com a autoestima

O chamado complexo de vítima faz com que crianças e adolescentes não confiem ou enxerguem o próprio potencial, alimentando pensamentos de que sempre serão os piores em todas as atividades ou não são dignos de respeito. 

Esses pensamentos podem gerar consequências graves, como transtornos de imagem ou alimentares, além de comportamento suicida.  

Foto: Pixabay/ ThuyHaBich

5. Manifestações físicas

Caso a criança apareça com cortes e machucados constantes, os pais devem analisar a origem dos hematomas antes de ignorar a situação por apenas assumir ser normal da infância.

Marcas no corpo, uniforme sujo ou rasgado, materiais desaparecidos, arranhões, áreas roxas ou vermelhas e inchaços sem motivo aparente são importantes indicadores de agressões físicas ou intimidações no período escolar. 

6. Obsessão ou total repulsa aos aparelhos eletrônicos 

Em casos de cyberbullying, que são agressões que se dão de maneira virtual, é comum que as vítimas adotem um comportamento radical em relação as redes socais.

Deletar todas as contas sem motivo claro, evitar ao máximo qualquer contato com o aparelhos eletrônicos ou passar horas online, visivelmente em estado constante de medo, são sinais de que o cyberbullying possa estar envolvido.

Como lidar com a situação

Diálogo e Relacionamento

Ainda de acordo com a psicóloga Anne Daltro, o diálogo é indispensável tanto para crianças quanto para adolescentes. Uma comunicação assertiva e cuidadosa que acolhe e ouve primeiramente, sem julgar ou apontar erros, é essencial para que os filhos se sintam seguros em se abrir para os pais.  

Em especial, ao tratar de adolescentes, é comum que os responsáveis tragam a culpa para a própria vítima. Frases como “por que você não contou para ninguém?” ou “por que você deixou isso acontecer?” apenas agravam o estado mental de vergonha e impedem que o adolescente estabeleça um diálogo sincero com os pais.

Além do diálogo, a construção de um relacionamento seguro e presente cria um ambiente de confiança para a vítima de bullying. Passar tempo de qualidade com a criança, ouvir suas ideias e opiniões, validar seus sentimentos e se fazer presente faz a diferença no desenvolvimento dos filhos.

Escolas 

Entrar em contato com a escola também é necessário, no entanto é preciso controlar as emoções. Gritar com diretores ou coordenadores apenas aumentaria a humilhação da criança, manter a calma e resolver de forma civilizada evita que se torne uma experiência traumática para todos os envolvidos.

Segundo o filósofo, pedagogo e especialista em prevenção ao bullying, Benjamim Horta, as escolas e instituições de ensino possuem um papel essencial na luta contra o bullying, o qual se dá por meio de 3 fatores: Prevenção, Intervenção e Monitoramento. 

Logo, é importante que os pais procurem a escola para que juntos busquem uma solução, não com o objetivo de acusar, para que a situação não seja agravada.

´De acordo com o especialista, a parceria escola e família é fundamental na solução do bullying e deve ser buscada sem demoras.

Superação e conselhos de mãe

Foto: Reprodução TV Vitória

Iarley Bermudes, um adolescente de 15 anos que foi vítima de cyberbullying, conversou com o Folha sobre o relacionamento com a mãe e como a relação foi essencial para superar o momento difícil.

Devido a uma fissura rara no rosto, Iarley sofreu ataques online enquanto fazia transmissões ao vivo de jogos nas redes sociais, quando tinha apenas 10 anos. 

“Quando eu chegava em casa depois da escola, ela me indagava: ‘Filho, como foi a escola?’, ou ‘como foi o seu dia?’. Por mais que sejam perguntas simples, sempre me davam segurança. Eu sabia que havia alguém que se preocupava”, explica o adolescente.

Iarley contou que tentou esconder a tristeza, mas a mãe estava sempre do seu lado. “Não foi difícil me abrir por conta dessa relação de confiança que temos, sei que ela sempre vai estar ao meu lado, sempre se preocupando comigo, mesmo nos momentos mais difíceis”, afirmou o adolescente.

Quando perguntada sobre quais conselhos daria para pais e mães, Christiane da Penha Bermudes, mãe de Iarley e palestrante motivacional anti-bullying, contou que escutar a criança faz a diferença.

Foto: Reprodução TV Vitória
Iarley e viajam fazendo palestras anti-bullying há 4 anos e estiveram recentemente no programa da TV Vitória ‘Fala Espírito Santo’

Para a palestrante, escutar significa perguntar como foi o dia; estar presente nas reuniões de escola; estar presente no momento do dever de casa; observar se o adolescente fica muito tempo dentro do quarto;  se na hora das refeições o olhar da criança está caído, entre muitas outras ações.

“Observe o seu filho, converse com seu filho, ouça o seu filho, veja se o comportamento mudou, confie no que ele está falando, vá até a escola e pergunte sobre a criança, pois eles passam metade do dia na escola e a outra em casa”, aconselhou Christiane. 

*Texto da estagiária Sofia Galois, com supervisão da editora Erika Santos