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Amigos relembram trajetória de Cacau Monjardim; veja as homenagens

Jornalista foi o criador da frase que valorizava a moqueca capixaba como o maior símbolo do Espírito Santo

Foto: Reprodução/ Coluna Hélio Dória

O autor de uma das mais famosas frases que sintetizam um aspecto cultural do capixaba, Cacau Monjardim, morreu de uma parada cardíaca, na manhã desta terça-feira (18), aos 93 anos. 

“Moqueca só capixaba, o resto é peixada” é apenas um dos gestos de amor do escritor e jornalista pelo Espírito Santo.

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O carinho que Monjardim teve pelo Estado e sua dedicação à valorização do turismo é lembrada por todos que puderam conviver com ele. 

O jornalista e colunista social do Folha Vitória, Helio Dorea, 91 anos, lembra da amizade que teve com Cacau ao longo de 65 anos. 

“Cacau sempre foi um entusiasta por tudo o que diz respeito ao Espírito Santo. No governo de Cristiano Dias Lopes (1967-1971), assumiu a direção da Empresa Capixaba de Turismo, a Emcatur, e trabalhou muito pela promoção do Estado”, relembrou. 

O colunista lembra que Cacau era capixaba da gema, nascido em Fradinhos, em Vitória. Eles se conheceram quando eram vizinhos na rua Graciano Neves, no centro da capital. A amizade rendeu um capítulo especial na vida de Dorea, que dura até hoje.

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“Conheci minha esposa, Regina, com quem vou fazer 62 anos de casado em dezembro, justamente na casa de Cacau, numa festa de aniversário dele”, recorda.

Helio disse que o jornalista era extremamente preocupado com a profissionalização do segmento de turismo para que o Estado fosse mais conhecido. Ele citava uma expressão popular falando de uma suposta particularidade do capixaba que se comportava como caranguejos presos numa lata. 

“Ele dizia que a gente precisava sair desse ciclo vicioso, de um puxar a perna do outro quando se chegava próximo a fugir da lata. Citava que deveria haver união, respeito e profissionalização do setor, além de uma boa campanha externa de promoção”, desenvolve.

Cacau era um dos integrantes do chamado Clube dos Legais, reunindo a velha guarda de jornalistas e profissionais da imprensa. 

“Ele era assíduo nos nossos encontros, que eram sempre feitos na primeira segunda-feira do mês, num formato de um almoço animado, onde a gente discutia assuntos variados e celebrava a amizade. Agora, em novembro, vamos homenageá-lo, com uma moqueca”, planeja. 

Foto: Reprodução / Helio Dórea

Outro que guarda boas lembranças é o historiador Fernando Achiamé, que trabalhou com o jornalista no governo do Estado.

“Eu conheci Cacau há décadas. Trabalhamos no governo, ele na área de Turismo e eu, no Arquivo Público. Ultimamente, o contato aumentou porque somos colegas na Academia Espírito-Santense de Letras. Ele era uma pessoa fascinante, de muita cultura, inteligência e amor ao Espírito Santo. A memória dele não pode ser apagada e nem o seu slogan. Também pode ser lembrado pela alegria de viver e pelo amor a nossa gente”, reforçou.

Academia Espírito-santense de Letras destaca trajetória do jornalista

Em nota enviada à imprensa, a Academia Espírito-santense de Letras (AEL) contou um pouco da trajetória de Cacau Monjardim e solidarizou com amigos e familiares. Lembrou que ele era o terceiro ocupante da cadeira 37 da AEL, que tem como patrono Antônio Cláudio Soído.

Bacharel em Direito, foi administrador de empresas e jornalista profissional, tendo dirigido jornais, revistas e emissoras do Espírito Santo, além de ter pontuado como publicitário, homem de marketing e técnico em turismo.

“Presidiu durante cerca de dez anos a Empresa Capixaba de Turismo e a Empreendimentos Minas-Espírito Santo. Exerceu as funções de secretário de estado da Comunicação Social, subsecretário de estado do Turismo, subchefe da Casa Civil, diretor do Sistema Financeiro Banestes e secretário municipal de Turismo e Comunicação Social da PMV.

Foi membro do Conselho Estadual de Turismo, do Conselho Estadual de Cultura, do Conselho de Administração da Fundação Cultural do Espírito Santo e diretor-executivo da Fundação Jônice Tristão. Era membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e da Academia de Artes e Letras de Cascais (Portugal).

Como jornalista liderou expressiva fase da imprensa capixaba, assinando colunas diárias como ‘Coquetel da Cidade’ (A Gazeta), ‘Poltrona B’ (O Diário) e ‘Turismo’ (A Tribuna), além de produzir programas radiofônicos, reportagens, artigos e crônicas para jornais e revistas nacionais e internacionais”, relembrou.

A AEL fez ainda uma listagem das obras publicadas de Cacau Monjardim: Turismo e desenvolvimento (1973), Turismo no Espírito Santo (1974), Segredos da cozinha capixaba (1974), Horóscopo turístico (1984), História e estórias da aguardente (1985), Capixaba, sim (1987), Capixaba, hoje mais do que ontem (2006), Sucessos e sorrisos (2010).

“Por meio desta nota, a Academia Espírito-santense de Letras se solidariza com os familiares e presta sua homenagem a José Carlos Monjardim Cavalcanti por sua contribuição inestimável para a cultura do estado do Espírito Santo”, finaliza.

Políticos e instituições prestam homenagens nas redes sociais

Nas redes sociais, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), lamentou pela morte do jornalista e disse que o Estado perdeu um ícone. 

“O ES perdeu hoje um ícone da comunicação e no turismo. Cacau Monjardim teve atuação de destaque na imprensa e foi um embaixador do nosso turismo, em especial, do nosso grande símbolo: a moqueca capixaba. Uma perda irreparável! Expresso meus sentimentos aos familiares e amigos”, publicou.

O prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos), também foi às redes e prestou solidariedade aos amigos e familiares. Ele também destacou o carinho que Cacau tinha pela cultura capixaba.

“Nossa moqueca perde seu grande defensor. Assim como o turismo, a cultura e o jornalismo. Cacau Monjardim nos deixou hoje e com ele um pedaço desse bairrismo e amor pelo Espírito Santo. Meus sentimentos aos familiares, amigos e colegas de trabalho”.

O senador Fabiano Contarato (PT) destacou que Cacau sempre exaltou o amor pelo Estado.

“Hoje perdemos um grande capixaba. Defensor do jornalismo, do turismo e da cultura do nosso Espírito Santo, Cacau Monjardim sempre exaltou o amor pela nossa terra. Descanse em paz, Cacau! Que Deus conforte o coração dos familiares e amigos”, escreveu no Twitter.

A Fundação Jônice Tristão, entidade filantrópica do Grupo Tristão, fundada pelo empresário e exportador de café Jônice Tristão (1930-2021), onde Cacau foi diretor, também emitiu nota de pesar lembrando que o dia de seu nascimento foi transformado, pela Prefeitura de Vitória, em Dia da Moqueca, em 2012, por meio da Lei Municipal N° 8.813.

“Conhecido como ‘embaixador da moqueca capixaba’, a quem era atribuída a frase ‘Moqueca só capixaba, o resto é peixada’. O Dia da Moqueca surgiu a partir do seu aniversário (30 de setembro). Mais do que embaixador da moqueca, Cacau foi um grande difusor da cultura do Estado. Inteligente, carismático, simpático, comprometido, Cacau deixa o Espírito Santo menor com sua partida”, publicou.

Cacau deixa a esposa Dalila Andrade Cavalcanti, dois filhos e três netas. Segundo a família, o velório será no Cemitério Santo Antônio, em Vitória, a partir das 8h de quarta-feira (19). O sepultamento será ao meio dia. 

Foto: Thiago Soares/ Folha Vitória
Gabriel Barros Produtor web
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Graduado em Jornalismo e mestrando em Comunicação e Territorialidades pela Ufes. Atua desde 2020 no jornal online Folha Vitória.