O muro do silêncio ainda é uma grande barreira quando o assunto é abuso sexual. Para fazer o alerta e unir forças para superar esse obstáculo, aconteceu na manhã deste domingo (18) uma caminhada para marcar o Dia Nacional de Luta contra o Abuso Sexual e Exploração de Crianças e Adolescentes, instituído pelo Congresso Nacional em 2000.
Os participantes seguiram pela orla de Camburi com faixas alusivas ao tema. A escolha da data tem Vitória como referência nacional pelo fato de capital do Espírito Santo ter sido palco do assassinato da menina Araceli Cabrera Sánchez Crespo, de 8 anos, em 18 de maio de 1973. Ela foi assassinada violentamente e o corpo encontrado seis dias depois, desfigurado por ácido e com marcas de extrema violência e abuso sexual. Os acusados nunca foram punidos.
A caminhada foi organizada pela Fórum Municipal de Enfrentamento à Violência, à Exploração e ao Abuso Sexual Infantojuvenil e pela Prefeitura de Vitória.
Registros
Cerca de 400 casos dessa natureza são registrados por ano nos cinco municípios da Grande Vitória, segundo informou o delegado-adjunto da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Érico Mangaravipe, que acompanhou o percurso. “Esse tipo de informação deve ser divulgado constantemente. O abuso sexual contra crianças é comum na sociedade, em todas as classes sociais. As vítimas devem ser protegidas para que o crime não fique impune. Este ano, já houve o registro de 250 casos de violência sexual”, relatou.
A pena para o estupro de vulnerável é de até 15 anos de reclusão, podendo ser aumentada se for praticada por um familiar.
Creas
Dados dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas) de Vitória mostram que o número de casos é alto: somente em 2013, foram registradas 285 ocorrências de violência sexual. Dessas, 190 (67%) das vítimas eram crianças de até 12 anos e 95 (33%), adolescentes.
“Cerca de 90% dos casos atendidos nos Centros de Referência Especializados da Assistência Social (Creas) têm origem no ambiente familiar. Eles acontecem, geralmente, dentro da casa, por um pai, padrasto, avós, tios, primos ou amigos da família. É um ambiente muito fechado e, por isso, todos têm de ficar atentos às mudanças de comportamento dos filhos”, ressaltou a secretária de Assistência Social de Vitória, Clarice Imperial.
Ela também destacou que as denúncias podem ser feitas pelo telefone 100 ou nos Conselhos Tutelares.
A funcionária pública Márcia Oliveira Zamperlini, 43 anos, acompanhou a caminhada com a filha Mariana, de 10 anos, estudante do 4º ano. Ela disse que já contou a história de Araceli para a filha e sempre a orienta sobre os cuidados contra abusos sexuais. “Deixo bem claro que não pode permitir ninguém tocar em suas partes íntimas para ela crescer sabendo que isso é um crime. As dificuldades contra a criança são enormes, pois, se não existir a prova, a pena recai sobre a criança, que fica marcada para sempre”. disse.