Quando criança, sempre questionei minha mãe do porquê eu era a única filha que não tinha o “álbum da chegada” que registrasse minha história, pois meus dois irmãos, que são filhos biológicos, tinham esse álbum. Minha mãe, com o olhar triste, respondia que eu não tinha porque fui uma filha gerada no coração.
O relato acima é de Lisandra Barbiero. Natural de Castelo, região Sul do Espírito Santo, Lisandra é jornalista, escritora, filha adotiva e, também, empreendedora.
O álbum da chegada que ela comenta é um registro que muitos pais fazem para os filhos, contando toda a história da gravidez, a espera, com as ultrassonografias, fotos dos primeiros presentes e todos os preparativos até o nascimento do bebê.
Mas, e com os filhos adotivos? Como explicar para uma criança adotada que, mesmo após uma espera ansiosa para conhecê-la, ela não tem um álbum da chegada, assim como os filhos biológicos?
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Foram com esses questionamentos que Lisandra decidiu empreender em um território diferente, ainda a ser desbravado: o mercado para famílias construídas por meio da adoção.
“O Álbum da Chegada tem por finalidade registrar toda a história da criança que foi acolhida em uma nova família, possibilitando o registro das vivências com a intenção de criar memórias afetivas para que quando ela cresça tenha condições de abraçar sua história com ternura, amor e muito orgulho de toda sua trajetória”, contou Lisandra.
Ad’Optare foi lançada em maio de 2024, é uma empresa que acabou de sair do forno e está pronta para ser experimentada pelos consumidores.
A proprietária fala com orgulho: é a primeira loja on-line do Brasil voltada para famílias formadas por meio da adoção de crianças e adolescentes.
Além do álbum da chegada, outros produtos estão à venda: canecas, camisetas, bolsas, objetos de decoração e livros.
Os produtos carregam o símbolo da adoção. A intenção da empreendedora é divulgar o símbolo e transformar o assunto em motivo de orgulho.
“Pesquisando ao longo desses anos, eu me deparei com uma petição on-line de vários pais, mais de 300, informando que as empresas deveriam ter um olhar voltado para esse público. Então, eu vi que não era uma demanda só minha. Existem outros pais querendo esses produtos específicos”, disse.
Não só para pessoas com uma história envolvendo a adoção, mas em pouco tempo de criação, a loja já cativou quem não tem uma ligação direta com a adoção. É o caso da Noeli Osterkamp, moradora de Brasília.
“Eu tenho uma prima que foi adotada. Na época, eu era pré-adolescente e para mim era diferente… não compreendia como alguém estava ali sem ter nascido no seio familiar e mesmo assim era minha prima. Mas, isso se tornou irrelevante e foi como se ela sempre estivesse pertencido a nossa família”, compartilhou.
Noeli, por enquanto, não pensa em ter filhos. No entanto, vai considerar a adoção caso decida por ter filhos no futuro. Independente da decisão pessoal, ela apoia a causa.
“Comprei uma camiseta na cor preta e uma ecobag que me são muito úteis. Hoje, inclusive, vim trabalhar com a ecobag. Além disso, posso promover o tema e o debate cada vez que sou questionada do significado da logomarca ou do produto, levando a outras pessoas o universo desse mundo que é a adoção, o qual é permeado com profundos sentimentos de amor e gratidão.”, finalizou.
De memórias da infância ao empreendedorismo: uma empresa que aposta no amor
Movida de uma vontade que surgiu ainda na infância, com a história do álbum, Lisandra decidiu que era hora de abrir mais um capítulo em sua história com a adoção e mudar a realidade de outras pessoas.
Porém, como criar uma marca, gerar um negócio e empreender sem nem mesmo ter tido uma experiência parecida no passado? Foram muitas incertezas e medo, mas desacreditar no projeto nunca foi uma opção.
Com um pouco de planejamento e investimento, Lisandra foi procurar formas de se inserir no mundo empreendedor, aprendendo do zero, e encontrou suporte no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
“Dentro dessa perspectiva, o Sebrae foi muito importante para mim, porque ele apoia as pequenas iniciativas. Eu acessei a plataforma, fiz alguns cursos gratuitos e que foram muito importantes para minha formação como empreendedora e idealizadora”, contou.
Um dos cursos feitos pela Lisandra foi o Jornada MEI, que é fornecido de forma gratuita pela plataforma.
“Foi praticamente uma consultoria on-line. O curso auxilia bastante a ter uma visão estratégica do seu negócio. Eu aprendi como abrir uma empresa, também busquei informações de forma presencial, conversei com consultores, foi ótimo”, completou.
Segundo a analista de relacionamento e coordenadora de ações para os Microempreendedores Individuais do Sebrae, Andrea Gama, os futuros empreendedores podem traçar o perfil para o negócio, ter novas ideias e saber os caminhos por onde começar.
“Nós temos trilhas e temáticas para ajudar o cliente em várias jornadas. Para quem quer abrir um negócio e não sabe nem por onde começar, por exemplo. Como desenvolver o comportamento empreendedor, pensar em estratégias e soluções para dar continuidade ao projeto. Até mesmo para quem não tem ideia de negócio, o Sebrae reúne mais de 400 ideias que estão disponíveis gratuitamente”, explicou.
Pela internet, a loja atravessa territórios e pessoas
Para entender o cenário econômico antes de iniciar um negócio, é possível acessar informações pelo DataSebrae, que mostram crescimento anual de abertura de empresas.
Nos últimos quatro anos, no Espírito Santo, por exemplo, o número de empresas abertas pelos capixabas deu um salto, principalmente durante a pandamia.
Até então, o ano de 2019 tinha sido o mais promissor para a abertura de negócios, com pouco mais de 73 mil empreendimentos abertos, o maior número da série histórica. De 2020 até então, foram mais de 394 mil empresas abertas no Espírito Santo.
Apesar de ser fundada por uma capixaba, a Ad’Opatare é de Brasília, no Distrito Federal, onde Lisandra mora atualmente. No entanto, por ser uma loja on-line, as barreiras territoriais são apenas linhas imaginárias no mapa do Brasil.
Além do empreendedorismo, a loja possui uma missão social. No site da Ad’Opatare, é possível acessar informações sobre adoção no Brasil. Pelas redes sociais, relatos de várias pessoas são compartilhados como forma de incentivo à causa.
Como foi o caso da jornalista capixaba Laila Magesk, que passou pelo processo de adoção. Veja o relato:
Com poucas semanas de existência, a loja de Lisandra ainda está no processo de desenvolver projetos para apoiar instituições que tenham relação com a adoção de crianças e adolescentes, como abrigos, organizações e até outras empresas.
No Espírito Santo, 115 crianças esperam por um lar, de acordo com dados do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES). Somente até abril de 2024, foram 40 crianças que passaram pelo processo de adoção.
Com um assunto tão importante para mudar a realidade de dezenas de crianças e adolescentes que esperam por uma família, o desafio com o empreendimento é criar uma marca forte e que seja cativante.
Tanto para cumprir a missão de levar a realidade da adoção para várias famílias do Brasil, quanto para garantir espaço na internet e manter o negócio rentável.
Uma loja on-line excluí vários gastos, como espaço físico e equipamentos, mas também precisa de investimentos.
“Para o empreendimento on-line, você precisa ter mais informações, coerência e um plano de comunicação com o cliente. Apesar de mudar o custo que teria com uma loja física, por exemplo, o empresário precisa investir na promocação da loja”, explicou Andrea Gama.
Para apoiar os empreendedores nessa jornada, o Sebrae disponibiliza uma série de conteúdos e consultorias, inclusive por meio do próprio celular, com soluções como o Sebraetec e o programa UP Digital, que oferece mentorias para quem quer aumentar sua presença digital, como a Jornada de Transformação Digital.
Como a Ad’Optare, as opções para abrir um negócio são infinitas. Pode vir de uma motivação pessoal, uma necessidade de aumentar a renda ou, até mesmo, uma forma de investimento.
Antes de iniciar um negócio, faça como a Lisandra e busque apoio do Sebrae. Aos interessados sobre a adoção de crianças e adolescentes no Brasil, as informações podem ser encontradas no site do Conselho Nacional de Justiça.