O segundo dia do julgamento de Marcos Venício Moreira Andrade, acusado de assassinar o ex-governador Gerson Camata em dezembro de 2018, foi marcado pelos debates da acusação e da defesa. Cada uma das partes tinha entre uma e uma hora e meia para convencer as juradas sob suas teses. Foi colocado um púlpito no centro do plenário para que os advogados falassem.
Enquanto o Ministério Público, autor da denúncia, pede condenação máxima por homicídio duplamente qualificado, demonstrando que Venício cometeu um crime premeditado, a defesa sustenta a tese de homicídio privilegiado, ou seja, em que o réu estava sob forte emoção ao cometer o assassinato.
O promotor do Ministério Público, Rodrigo Monteiro da Silva, e o assistente de acusação, Renan Sales, sustentaram para as juradas que o réu sabia o que estava fazendo no dia do assassinato e planejou o ato ao portar um revólver calibre 38 com registro de posse vencido. Eles exibiram o vídeo em que registra os últimos momentos de Camata caminhando na calçada na Praia do Canto antes que Venício o encontrasse e disparasse contra ele. O ex-governador aparece ensanguentado, cambaleando, pedindo ajuda e cai morto.
O promotor e o advogado ressaltaram que o vídeo não deixava dúvidas de que o acusado, réu confesso, matou intencionalmente um homem indefeso, de 77 anos, que não teve tempo e oportunidade de reação.
Exaltaram também o fato de ele estar portando uma arma ao longo daquele dia, o que reforça a tese de premeditação. “A arma estava com 10 munições. O réu está triste pelo que fez? Se vão analisar o sofrimento do réu, que analise também o sofrimento da família. Mas quem está triste aqui é a esposa da vítima, dona Rita. Quem está triste é o filho da vítima, o Bruno, que está com depressão. Além do restante da família, que não terá mais convívio com Camata”, desenvolveu Sales.
Eles apontaram que o réu é extremamente inteligente e, em seu interrogatório, colhido na noite da última terça-feira (03), ele não respondeu ao que foi questionado e que iria lhe comprometer. “Para Marcos Venício, há uma teoria da conspiração contra ele quando ele nega tudo o que as testemunhas ontem revelaram sobre as suas ações no dia do assassinato”, apontou o promotor. “Ele não é uma pessoa simples, é um economista e serviu a um senador da República. Sabia muito bem o que estava fazendo”, destacou.
A família do ex-governador morto estava presente acompanhando todos os debates. No momento de exibição do vídeo em que mostra o crime, o filho de Camata, Bruno David Paste Camata, deixou o sala. A mãe, Rita Camata, permaneceu. Ela chorou e foi amparada pela sobrinha.
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Defesa aponta crime cometido sob forte emoção
A defesa, comandada pelo advogado Homero Mafra, não pediu absolvição do réu mas recomendou que o júri considerasse a redução de pena na condenação.
“Estamos diante de um homem que trabalhou durante 20 anos para a vítima. De quem dependia, de quem frequentava a casa, numa relação que ia além do trabalho. Ele não é um manipulador como aponta a acusação”, discorreu Mafra. Sua estratégia foi apresentar o réu como um homem que cometeu um crime mas que não tinha nenhuma intenção.
O advogado sustentou que a arma que Venício portava estava no lugar errado e na hora errada. E de que tudo foi uma infeliz coincidência já que ele iria, segundo a defesa, regularizar a situação do registro de posse da arma.
Mafra apontou também que o crime não poderia ser classificado como premeditado devido à dinâmica do fato e da própria prisão de Venício no dia. “Quem premedita não idealiza apenas o crime, idealiza como escapar e sua rota de fuga. E não foi o que aconteceu. Marquinhos foi conduzido à delegacia sem resistência”, diferenciou.
O advogado terminou sua fala dizendo que Venício imaginava poder reconciliar com Camata quando o encontrou na calçada da Praia do Canto. Em 2009, Venício fez uma denúncia contra Gerson Camata, na época senador, informando que ele obrigava os funcionários a usar os salários para pagar suas despesas. A Justiça concluiu que não havia provas e o condenou a pagar uma indenização e bloqueou R$ 60 mil da conta bancária dele.
A Polícia Civil concluiu que esse foi o motivo do crime e o Ministério Público o denunciou por homicídio qualificado. Desde então, Camata não tinha mais contato direto com o réu. Para Mafra, ele imaginou que aquele momento seria uma oportunidade de fazerem as pazes. “Infelizmente, ele estava com uma arma. Peço às juradas que o condenem a uma pena atenuada. Deem ao Marcos uma pena justa. Julguem esse homem dentro das condições em que ele se encontrava”, finalizou.
Julgamento pode terminar nesta quarta-feira
Os trabalhos do júri seguirão nesta tarde de quarta (04) com a réplica e a tréplica entre acusação e defesa. Cada uma terá a duração de uma hora.
Em seguida, o juiz passa a ler os quesitos que serão postos em votação e perguntará à acusação e à defesa se há algum requerimento a fazer e se os jurados querem alguma explicação sobre os quesitos.
O juiz, então, convida os jurados, o promotor de justiça e o advogado de defesa a se dirigirem à sala secreta, onde ocorrerá a votação.
Após o encerramento da votação, o juiz lavrará a sentença, que será lida para todos os presentes e encerrará a sessão de julgamento.
A previsão é de que o julgamento seja finalizado até esta quarta-feira.
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