Marcado para começar na próxima segunda-feira (23), no Fórum Criminal de Vitória, no Centro da capital, o julgamento dos seis réus acusados de envolvimento no assassinato da médica Milena Gottardi terá duas testemunhas prestando depoimento por meio de videoconferência.
Elas foram arroladas pelas defesas dos réus Hilário Antonio Fiorot Frasson, ex-marido de Milena, e Esperidião Carlos Frasson, pai de Hilário. Os dois foram denunciados pelo Ministério Público Estadual (MPES) como mandantes do assassinato da médica.
O formato remoto dos depoimentos foi autorizado pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Vitória, Marcos Pereira Sanches, que vai presidir o júri. As defesas dos dois réus alegaram problemas de saúde para pedirem que as testemunhas fossem ouvidas por meio virtual.
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Em sua decisão, o magistrado destacou que caberá às partes que arrolaram as testemunhas providenciar os recursos tecnológicos necessários no local em que pretendem que elas sejam inquiridas.
O advogado Leonardo Gagno, responsável pela defesa de Hilário Frasson, informou que a testemunha arrolada por ele tem mais de 80 anos e apresenta diferentes comorbidades. Ele destacou ainda que o formato remoto para o depoimento é garantido por lei.
“Inclusive, é a segunda vez que atuo como advogado em uma causa em que uma testemunha depõe via aplicativo de teleconferência, em um julgamento pelo júri popular. A pessoa depôs de Londres e o júri foi realizado na cidade de Nova Venécia, no noroeste do estado. Naquela época, não havia tanta tecnologia disponível como nos dias atuais e, mesmo assim, a prática foi muito contributiva para o caso”, lembrou o advogado.
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A reportagem tentou contato com a defesa de Esperidião Frasson, para saber mais detalhes sobre a testemunha que prestará depoimento no formato remoto, mas as ligações não foram atendidas. Também não houve retorno por meio de mensagem de texto.
Júri terá depoimento de 29 testemunhas
Ao todo, 29 testemunhas, entre acusação e defesa, serão ouvidas durante o julgamento dos réus, que, de acordo com o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), está previsto para durar uma semana.
Em razão das medidas de segurança para evitar a contaminação pela covid-19, serão respeitadas as regras de distanciamento social no local.
Quem são as testemunhas do processo
Ministério Público
1 – Aline Coelho Moreira Fraga
2 – Maria Isabel Lima dos Santos
3 – Lícia Maria Araújo Maia
4 – Investigador PCES Igor de Oliveira Carneiro
5 – Delegado PCES Janderson Birschner Lube
6 – Marcelle Gomes da Cruz
7 – Fernanda Coutinho Lopes Raposo
8 – Ana Paula Protzzner Morbeck
9 – Douglas Gottardi Tonini
Assistente de acusação
1 – Shintia Gottardi de Almeida
Réus do processo
Hilário Frasson – ex-marido da médica e ex-policial civil
Esperidião Frasson – ex-sogro da vítima
Valcir da Silva Dias e Hermenegildo Palauro Filho – acusados de serem intermediadores do assassinato
Dionathas Alves Vieira – acusado de ser o executor do crime
Bruno Rodrigues Broetto – apontado como o responsável por conseguir a moto utilizada no dia do assassinato
Defesa réu Hilário
1 – João Guilherme Souza Pelição
2 – Rodrigo Alves Alver
3 – Tarcísio Fávaro
4 – Moisés da Silva Soares
5 – Arnaldo Santos Souza
Defesa réu Esperidião
1 – Valdemir Nascimento Lima
2 – Paulo Renato Magvesky
3 – Luciano Nunes Bermudes
4 – Maria Arlinda Bermudes Palauro
5 – José Ferreira Campanholi
Defesa réu Dionathas
1 – Juliana Pábula Brozeguini Batista
2 – Paola Laghasse
3 – Diana Aparecida Pereira
4 – Myller Maradona Pereira Amorim
5 – Julianny Pereira Soares
Defesa réu Bruno
1 – Douglas Miranda Santana
2 – Pedro Carlos Nieiro
3 – Maria das Graças Coelho Nieiro
4 – Claezi Demonei dos Santos
*Os réus Hermenegildo e Valcir não arrolam testemunhas
Relembre o assassinato de Milena Gottardi
O assassinato de Milena Gottardi aconteceu na tarde do dia 14 de setembro de 2017 e ganhou grande repercussão no Espírito Santo. A vítima atuava como pediatra oncológica no Hospital das Clínicas, em Maruípe, Vitória.
Quando saía de um plantão, acompanhada de uma amiga, a médica foi abordada, no estacionamento do hospital, por um homem armado, que chegou a anunciar um assalto.
Milena e a amiga chegaram a entregar os pertences ao suposto assaltante. Quando elas se dirigiam ao carro, o criminoso atirou três vezes em direção à pediatra, atingindo a mesma na cabeça e na perna, e fugindo posteriormente. A médica foi socorrida e internada em um hospital, mas morreu no dia seguinte.
A Polícia Civil agiu rápido e, dois dias após a médica ser baleada, dois suspeitos de envolvimento no crime foram detidos: Dionathas Alves Vieira, acusado de ser o executor do crime, e Bruno Rodrigues Broetto, apontado pela polícia como o responsável por conseguir a moto utilizada por Dionathas no dia do assassinato.
A prisão dos suspeitos aconteceu praticamente ao mesmo tempo em que o corpo de Milena era sepultado em Fundão, município onde a médica nasceu e foi criada e onde grande parte de sua família ainda mora.
Com a prisão da dupla, a polícia começou a desvendar o crime e provar que Milena não havia sido vítima de um latrocínio — como fez parecer o autor dos disparos — mas sim de um crime de mando. Faltava, no entanto, chegar aos mentores do assassinato.
Para conseguir as provas necessárias, a Polícia Civil conseguiu, junto à Justiça, que as investigações corressem sob sigilo. Isso porque o principal suspeito de encomendar a morte de Milena era o ex-marido dela, o então policial civil Hilário Antônio Fiorot Frasson, que atuava como assessor técnico do gabinete do Chefe da PC, Guilherme Daré.
A ideia da Secretaria de Estado da Justiça (Sesp) era justamente impedir que Hilário tivesse acesso às provas obtidas pela Delegacia Especializada em Homicídios Contra a Mulher (DHPM), que conduzia o inquérito.
A prisão de Hilário aconteceu no dia 21 de setembro, exatamente uma semana depois do assassinato de Milena. Ele foi preso na Chefatura da Polícia Civil e encaminhado para um anexo da Delegacia de Novo México, em Vila Velha, onde ficam os policiais civis que são presos.
Mais cedo, no mesmo dia, a polícia havia prendido o pai dele, Esperidião Carlos Frasson, apontado como o outro mandante do crime, e Valcir da Silva Dias, acusado de ser um dos intermediadores do assassinato.
Segundo a polícia, o outro intermediador foi Hermenegildo Palauro Filho, o Judinho, que foi preso no dia 25 de setembro.
Todos os seis suspeitos de envolvimento no assassinato de Milena Gottardi foram autuados pela Polícia Civil, que concluiu o inquérito referente ao crime no dia 18 de outubro. O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público Estadual (MPES), que, no dia 27 de outubro de 2017, denunciou os seis indiciados à Justiça.
A denúncia foi aceita no dia 1º de novembro daquele ano pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Vitória, Marcos Pereira Sanches, que decretou a prisão preventiva dos seis acusados — que até então cumpriam prisão temporária. Caso sejam condenados, eles poderão pegar até 30 anos de prisão.
Hilário, Esperidião, Valcir, Hermenegildo e Dionathas foram denunciados pelos crimes de homicídio qualificado, feminicídio e fraude processual. Já Bruno responde pelo crime de feminicídio.
Entenda a participação de cada réu no caso
As investigações concluíram que Hilário e Esperidião encomendaram o assassinato de Milena Gottardi por não aceitarem o fim do casamento entre ela e o então policial civil. Para isso, eles teriam contratado Valcir e Hermenegildo para dar suporte ao crime e encontrar um executor.
Ainda segundo a polícia, Dionathas Alves foi o escolhido para executar o “serviço” — como os envolvidos se referiam ao assassinato da médica. Para isso, ele receberia uma recompensa de R$ 2 mil.
Dionathas teria usado uma moto, roubada pelo cunhado Bruno, para seguir de Fundão até Vitória e matar Milena.
O veículo foi apreendido em uma fazenda em Fundão, no mesmo dia em que Dionathas e Bruno foram presos. O executor confesso do assassinato disse à polícia que o crime foi planejado durante cerca de 25 dias.
O inquérito, no entanto, aponta que o planejamento do homicídio começou pelo menos dois meses antes do crime. Segundo as investigações, os seis acusados de envolvimento na morte de Milena Gottardi trocaram 1.230 ligações e formaram uma rede de comunicação antes e após o crime.
Depoimentos de quatro suspeitos de envolvimento do crime detalharam como foi o planejamento do assassinato da médica.
De acordo com informações da Secretaria de Estado da Justiça, Hilário Frasson está preso na Penitenciária de Segurança Média I; Esperidião Frasson, no Centro de Detenção Provisória de Viana II; Valcir, no Centro de Detenção Provisória de Vila Velha; Hermenegildo, no Centro de Detenção Provisória da Serra; e Dionathas e Bruno, no Centro de Detenção Provisória de Guarapari.
O que dizem as defesas dos réus
Sobre o julgamento, o advogado Leonardo Gagno, responsável pela defesa de Hilário Frasson, destacou que está confiante de que a justiça será feita.
“Durante o júri, a defesa terá a oportunidade de apresentar provas importantes, aclarar os fatos e demonstrar que a imagem do Hilário foi distorcida pela acusação”, afirmou.
Já o advogado Alexandre Lyra Trancoso, responsável pela defesa de Valcir da Silva Dias, disse que, no momento, prefere não dar declarações sobre o júri.
As defesas de Esperidião Carlos Frasson, Hermenegildo Palauro Filho, Dionathas Alves Vieira e Bruno Rodrigues Broetto foram procuradas pela reportagem, mas até o momento, não responderam aos questionamentos.
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