O decreto que institui o Fórum Capixaba de Mudanças Climáticas, do uso racional da água e da biodiversidade foi assinado, na tarde desta quarta-feira (11), pelo governador Renato Casagrande. Participaram da solenidade, além de diversos convidados e autoridades, especialistas da área ambiental, que durante o evento criticaram o posicionamento do governo federal perante o assunto e relataram mudanças preocupantes para o Espírito Santo.
Segundo o representante do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, Carlos Nobre, uma das maiores preocupações em relação às mudanças climáticas é com a saúde da população. Considerado um dos principais climatologistas do mundo, Carlos Nobre relata que os recordes de temperatura que já acontecem no Centro-Oeste brasileiro pode se espalhar por todo o país, inclusive no Espírito Santo.
“Se perdemos o controle das mudanças climáticas, no final deste século, durante pelo menos uns seis meses por ano, em algumas horas do dia, o clima em Vitória será inabitável. As pessoas não poderão ficar na rua e terão que procurar um local com ar condicionado. Estaremos extrapolando o limite fisiológico que o corpo humano aguenta”, relatou.
Nobre ainda destacou que a mudança deve ser iniciada nas pequenas comunidades, passando por municípios, estados e chegando a criação de políticas federais para tratar do assunto. “As pessoas têm que consumir pensando nas mudanças climáticas. Agora, no Brasil, há uma reversão da importância das mudanças climáticas. O governo [federal] atual dá menos importante ao tema. Os estados devem se organizar e liderar essas políticas para combater as mudanças climáticas. É muito importante que os estados assumam essa liderança neste momento em que o governo federal está indeciso sobre o assunto”, disse.
O diretor executivo do Centro Brasil no Clima, Alfredo Sirkis, também lamentou o posicionamento do governo federal perante ao assunto. Para ele, aparentemente, o tom sobre o desmatamento é estimulado. “Basicamente, o governo não acredita no óbvio. O tom presidencial é um tom de estímulo ao desmatamento. ‘Pode desmatar à vontade que a gente garante’, parece dizer. É uma hostilidade muito grande em relação a todos aqueles, dentro e fora do serviço público, que se preocupam com esse assunto”, comentou.
Ele também apontou caminhos para reduzir os impactos negativos no meio ambiente e ressaltou que há urgência na redução do desmatamento. “Em primeiro lugar, temos que reduzir emissões e absorver o carbono da atmosfera, por meio de grande reflorestamento. Por outro lado, nos adaptar às mudanças climáticas que já são inevitáveis – temos que nos preparar para piores enchentes, estiagens, danos para a agricultura e uma série de situações. No entanto, o fundamental, a curtíssimo prazo, é reduzir drasticamente o desmatamento que, com esse governo, disparou”, disse.
Fórum Capixaba
A proposta do Fórum Capixaba de Mudanças Climáticas é promover a cooperação e o diálogo entre os diferentes setores da sociedade, visando o enfrentamento dos problemas relacionados às mudanças climáticas e suas consequências socioambientais e econômicas. De acordo com o governador Renato Casagrande, é preciso que haja adesão de diversos setores da população para que o Espírito Santo cumpra sua parte, com uma forma de consumo mais sustentável.
Casagrande também destacou que uma das ações do Espírito Santo é a construção de um Centro de Alerta para desastres naturais, que já está em andamento e deve começar a funcionar em dois anos. “É um centro integrado para que possamos evitar prejuízos à vida e prejuízo material. Qualquer evento climático extremo, como estiagem prolongada, inundações e outros tipos de evento, o sistema estará conectado em todas as bases de informações. Será um centro com alta tecnologia”, descreveu.
O governador ainda falou sobre o trabalho de recuperação das florestas no Espírito Santo. Segundo ele, há projetos sendo realizados em diversas partes do estado, mesmo não havendo metas previstas para o Espírito Santo. “Não há um número previsto, mas já estamos recuperando. São 5 mil hectares na bacia do Rio Itapemirim. O programa Reflorestar também tem suas metas. Já foram recuperados 8 mil hectares e vamos recuperar mais nos próximos anos. O Brasil tem que recuperar, até 2030, 12 milhões de hectares, o Espírito Santo dará a sua contribuição”, afirmou.