Mesmo com capacidade de testagem com biologia molecular — o chamado PCR — maior do que o número de amostras coletadas no Espírito Santo, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) testa apenas uma parcela dos infectados pelo novo coronavírus.
Atualmente, o Laboratório Central do Espírito Santo (Lacen) tem capacidade para analisar 400 testes de biologia molecular por dia. No entanto, o número de exames realizados diariamente é o mesmo desde o início do mês: 200 testes por dia, a metade da atual capacidade.
O secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, explica que esse tipo de teste é recomendável para os pacientes que apresentam o quadro mais grave da doença — com dificuldade respiratória — e que essa estratégia de testagem da secretaria deve permanecer.
“A investigação, por meio da metodologia do PCR, em tempo real, é indicada para a fase aguda da doença, preferencialmente a ser realizada entre quatro e oito dias de evolução do quadro. Então hoje todo paciente respiratório grave que chega em qualquer serviço de saúde do Espírito Santo é internado, isolado e investigado para covid-19 com essa testagem. Também os trabalhadores da saúde, da segurança pública sintomáticos são testados”, afirmou Fernandes.
No entanto, especialistas na área afirmam que o ideal seria testar com o PCR todos os habitantes com sintomas de covid-19. O Espírito Santo não segue, portanto, a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que também considera necessário testar todos os casos suspeitos da doença.
“A situação ideal seria essa, mas eu sei que isso é inviável. Por isso que, não só o Estado do Espírito Santo, como também o próprio Ministério da Saúde, vêm usando teste de biologia molecular para quem tem síndrome respiratória aguda grave, ou seja, para quem interna. Porque se for fazer com todo mundo com quadro gripal ou resfriado, certamente vai faltar insumo. Não tem teste para todo mundo”, comentou o médico infectologista Carlos Urbano.
Até o início desta semana, 2.550 pessoas haviam sido testadas em todo o Espírito Santo. Com a chegada de novos equipamentos, o Estado passará a poder realizar 1,2 mil testes por dia.
Além disso, nesta segunda-feira o Lacen recebeu uma remessa de kits de insumos doada pela Petrobras. Com isso, será possível realizar mais 15 mil testes do tipo PCR nas próximas semanas.
A estimativa da Secretaria de Saúde é que, até o final da primeira quinzena de maio, deve ocorrer um avanço rápido da covid-19 entre os capixabas. “Haverá uma aceleração rápida do crescimento do número de casos. Então nós precisamos garantir que todos os pacientes, em especial os graves, tenham a testagem rapidamente realizada, para poder definir se ele sai do isolamento e vai para um leito compartilhado com os pacientes de covid ou se ele vai para um outro hospital que não seja referência para a covid”, frisou o secretário.
Testes rápidos
Nésio Fernandes disse ainda que uma testagem em massa deve começar a ser realizada no Espírito Santo até o início de maio. “Os testes que vamos utilizar nós estamos adquirindo para pode realizar na casa das pessoas. A partir de um critério cientificamente estabelecido, a gente vai sortear casas e moradores, entre os bairros do Estado do Espírito Santo, para poder realizar essa testagem”, informou.
Em 14 dias, 40 mil testes rápidos de anticorpos devem ser realizados. Eles, no entanto, ainda estão sendo adquiridos pela Sesa. Segundo Carlos Urbano, o quanto antes forem realizados, mais cedo será possível rever as medidas de distanciamento social.
“A grande vantagem do teste rápido é saber qual a pessoa que tem anticorpo protetor. Então se eu tive contato com o vírus, eu teoricamente estou protegido. Quem tem anticorpo, se imagina que essa pessoa esteja protegida, que não vá pegar o coronavírus de novo. Então essa pessoa poderia trabalhar, um profissional de saúde poderia voltar ao trabalho”, explicou.
O secretário de Saúde afirma que o período escolhido para a realização do teste de verificação de defesa contra o novo coronavírus é o adequado. Disse ainda que a demora na realização também se deve à dificuldade de encontrar um teste confiável.
“Os testes rápidos que foram comercializados no Brasil e aprovados recentemente pela Anvisa geraram em toda a comunidade científica do Brasil muitas dúvidas, porque eles têm uma qualidade muito ruim em geral. São testes que têm uma sensibilidade baixa. Se a gente comprasse um teste de má qualidade, o Estado estaria investindo milhões de reais na aquisição de uma tecnologia que ali na frente poderia não dar o resultado esperado”, alegou Nésio Fernandes.
Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV