A nova onda de casos de covid-19 e influenza está refletindo nas unidades de saúde, hospitais e pronto atendimentos da Região Metropolitana. Tanto na rede pública quanto na rede particular de saúde, o aumento da procura está causando lotação e demora no atendimento dos pacientes.
Hospitais e planos de saúde afirmam que a alta propagação da doença pelo coronavírus — com a variante Ômicron — aliada a falta de insumos para a fabricação dos testes têm afetado os serviços.
Quem testemunhou na pele essa situação, nesta semana, foi o vigário episcopal para Ação Social, Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória, padre Kelder Brandão Figueira. Ele é reconhecido por sua atuação em causas sociais dentro e fora da Igreja.
Com sintomas gripais, ele procurou o hospital Cias Unimed Vitória, no bairro de Itararé, para realizar o exame na última quarta (19). Foram necessárias seis horas e meia de espera para conseguir fazer o teste de RT-PCR.
“Meu resultado saiu na quinta-feira (20) e deu positivo para Covid-19. Já estou cumprindo o isolamento. O que mais me incomodou foi a desorganização: pessoas aglomeradas por horas, em condições inapropriadas. Penso que quem não estava contaminado saiu de lá com o coronavírus”, reclamou.
O sacerdote divulgou uma carta aberta à diretoria, cooperados e clientes da cooperativa médica. No documento, ele descreve as horas que ficou aguardando em filas, em busca de atendimento, por apresentar sintomas gripais.
Clique e leia a carta de padre Kelder na íntegra:
O sacerdote escreveu que foi orientado por um médico a realizar o teste para detecção de covid-19 e influenza. Ao chegar ao hospital, ele contou que retirou uma senha e ficou aguardando.
“O espaço da recepção era sem ventilação e pequeno para a quantidade de pessoas que começava a se amontoar. Não havia assentos para todos. Com o passar das horas, as pessoas se cansaram e começaram a sentar nos bancos destinados ao isolamento e, até mesmo, no chão. Havia mais de 150 pessoas em um espaço pequeno, aguardando, por horas a fio, pelo atendimento. Muitos desistiram!”, escreveu.
Segundo o relato, foram quase quatro horas de espera até realizar um cadastro e ser encaminhado para a triagem para então, só depois, ser liberado para a consulta, realizada em uma tenda. Ao ter o número chamado, houve dificuldade para chegar a sala de consulta e, em poucos minutos, segundo ele, outra pessoa ocupou o seu lugar.
Padre Kelder contou, ainda, que outro médico do local percebeu o incômodo de vê-lo em pé na porta aguardando o outro paciente ser atendido e resolveu atendê-lo. Após a consulta, o padre foi encaminhado para a coleta do material para realizar o exame. Segundo ele, havia apenas uma cabine em um espaço pequeno, onde algumas técnicas trabalhavam.
“Fiquei me perguntando qual o grau de segurança do trabalho daquelas pessoas que estavam ali, naquele espaço fechado, atendendo uma pessoa atrás da outra”, relatou.
Na carta, o presbítero questiona a exposição que muitas pessoas estão passando no local, com o desgaste, aglomeração e demora no atendimento.
Filas e demora também nesta sexta-feira (21)
Na manhã desta sexta-feira (21), repórter do Folha Vitória com sintomas gripais e usuário do plano, buscou atendimento na mesma unidade citada pelo padre e ficou por quatro horas em filas.
Ele ficou 1h30 na fila apenas para poder entrar na tenda onde o paciente tem que esperar a senha ser chamada para preencher um cadastro. Depois disso, a pessoa recebe uma prancheta com ficha para preencher seus dados e aguardar ser chamado.
“Apenas uma funcionária entregava as fichas de cadastro e há apenas cinco pranchetas para que as pessoas preencham. Essa mesma funcionária tem que higienizar as pranchetas e canetas para entregar para outras pessoas. O tempo de espera que você entra na tenda e pega a prancheta com a ficha de cadastro está, em média, uma hora”, descreveu.
Depois é necessário ser chamado novamente. “Duas outras profissionais conferem os dados do seu cadastro manualmente. Após isso, o paciente volta para outra fila para esperar ser chamado para fazer o teste”, explicou.
Pelo menos, para o caso do repórter, o final foi de certo alívio: após uma espera de quatro horas e de idas e vindas na fila, o resultado deu negativo para covid-19.
O outro lado: unidade ampliou equipe e área de atendimento
Sem pontuar os problemas relatados na carta do padre Kelder, a Unimed Vitória informou que tem observado um aumento contínuo na procura de pessoas com sintomas gripais em seu Pronto Atendimento.
A unidade colocou equipes extras e aumentou a área de atendimento para os pacientes. “Todas as medidas estão sendo tomadas para que os impactos dessa procura sejam reduzidos”.
“Recomenda-se que as pessoas procurem o Pronto Atendimento para avaliação médica apenas em casos de febre alta persistente sem alívio por antitérmicos, falta de ar, fraqueza intensa ou sonolência excessiva. Vale reforçar que a população deve continuar respeitando os protocolos de segurança e saúde, como o uso de máscaras e álcool 70, para conter o agravamento das síndromes respiratórias”, finaliza.
Redes de hospitais particulares irão priorizar uso de testes para pacientes internados
O problema é geral e atinge outras redes particulares, que informaram que estão tendo dificuldades de oferecer o serviço de testagem a todos os clientes e que, por isso, irão priorizar pacientes internados e casos graves.
Veja o que disse as operadoras:
A MedSênior informa que oferece diferentes testes para o diagnóstico da Covid-19, porém, diante da falta de testes no mercado, o Hospital MedSênior teve de restringir a testagem, dando prioridade para os pacientes internados e que possuem casos mais graves.
Para os demais casos, os testes estão sendo realizados de forma eletiva, nos laboratórios da rede credenciada, sendo necessário apresentar o pedido médico.
No Hospital MedSênior, os resultados dos testes ficam prontos, em média, com 1h30 (RT-PCR) e em 30 minutos (teste rápido e sorologia).
Neste mês, o hospital tem feito cerca de 180 testes por dia. Mas, com a restrição da testagem, que começou a partir de quarta-feira (19), o número sofrerá redução.
O Hospital Evangélico de Vila Velha (HEVV) realiza testes RT-PCR e o de antígeno. O teste RT-PCR é realizado, prioritariamente, em pacientes internados, em casos graves, com sintomas gripais.
Ao paciente do pronto-socorro, de acordo com definição do protocolo institucional, os testes RT-PCR e/ ou teste rápido de antígeno são feitos em casos graves de sintomas respiratórios.
O Hospital Evangélico segue o protocolo institucional conforme normas vigentes de cada plano de saúde e o teste é realizado mediante solicitação médica. O resultado é apresentado 48 horas após a coleta para RT- PCR dos planos de saúde. Neste mês, o hospital tem realizado cerca de 20 testes RT -PCR por dia.
A Rede Meridional, por sua vez, diz que por causa do aumento de casos de síndromes gripais e por conta do desabastecimento de insumos no mercado, teve que suspender temporariamente em suas unidades a realização de testes.
A testagem ocorrerá apenas em pacientes graves e internados. Ressalta, ainda, que “está trabalhando para que o reestabelecimento do serviço ocorra o mais rápido possível, com a normalização da entrega de insumos”.
Nesta semana, com o aumento no número de pacientes com síndromes gripais e o desabastecimento de insumos no mercado, o Vitória Apart Hospital suspendeu a realização de testes de covid-19 para pessoas com quadro considerado leve ou moderado.
Segundo o comunicado divulgado pela diretoria da rede hospitalar, a testagem nas unidades são realizadas exclusivamente para pacientes graves que necessitam de internação, conforme avaliação médica.