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Com mais de 5 mil infectados, profissionais de saúde do ES ainda aguardam hospedagem em hotéis

Esses trabalhadores precisam conviver com o risco diário do contágio e o medo de levar a doença para casa

Foto: Reprodução

Mais de 5 mil profissionais de saúde foram infectados com o novo coronavírus no Espírito Santo, segundo informações do Painel Covid-19, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). O número corresponde a quase 20% do total de contaminados no estado. Além disso, 12 trabalhadores da área morreram, sendo que dois não eram capixabas, segundo a Sesa.

Além do risco diário de contaminação, os trabalhadores precisam conviver com o medo de levar a doença para casa. “Esses profissionais ainda continuam muitos nessa situação de dormir na varanda, de dormir dentro do carro, de carregar a culpa de estar um dia inteiro em um serviço cuidando das pessoas, mas ao final do dia, quando você chega em casa, ter o risco de levar aquilo a que você se expôs o dia inteiro para dentro de casa”, ressaltou a presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Espírito Santo (Coren-ES), Andressa Barcellos.

Uma das medidas que chegaram a ser anunciadas pela Sesa, no fim de abril, para dar mais tranquilidade a esses profissionais nesse período de pandemia, foi oferecer hospedagem na rede hoteleira do estado. No entanto, cerca de um mês e meio após o anúncio, até hoje nenhum quarto foi disponibilizado. 

“É uma ferramenta a mais para melhorar a assiduidade e a segurança dos familiares desses profissionais. Eu acho que é perfeitamente válido que o governo, se tiver condições e interesse, tome essa conduta”, opinou o presidente do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES), Celso Murad.

Segundo o governo do Estado, o pregão eletrônico aconteceu no dia 1º de junho e a documentação das empresas ainda está em fase de análise. A produção da TV Vitória/Record TV perguntou à secretaria de saúde sobre o prazo para que as vagas sejam disponibilizadas nos hotéis, mas até a noite desta segunda-feira ainda não havia tido um retorno por parte da Sesa.

“Para muitos profissionais seria ótimo se tivesse essa disponibilidade, porque muita gente tem pais e mães idosos e pessoas de risco em casa e, com certeza, eles teriam essa opção para evitar de levar a contaminação para eles”, destacou o enfermeiro Raimundo Xisto de Ramos Filho, um dos 5.336 profissionais de saúde infectados pela covid-19 no Espírito Santo.

Raimundo, que trabalha em um posto de saúde e faz plantão em um hospital público do Estado, testou positivo para a doença no mês passado. “Comecei a sentir alguns sintomas, como dor de cabeça forte, fraqueza, perdi o olfato. E aí busquei atendimento no hospital onde eu trabalho”, contou.

O enfermeiro ficou afastado do trabalho por 14 dias. Entretanto, por mais que tenha ficado em um quarto separado, a esposa dele começou a apresentar os mesmos sintomas. Já os três filhos não desenvolveram a doença. 

Raimundo conta que chegou a receber treinamento sobre o coronavírus no hospital onde trabalha, mas só quando muitos pacientes já estavam internados. “Os treinamentos seriam fundamentais se fossem realizados antes de iniciar os atendimentos com os pacientes”, frisou.

Contaminação

De acordo com o médico infectologista Lauro Ferreira, a contaminação acontece principalmente em virtude do contato muito próximo do profissional de saúde com os pacientes.

“O risco maior é quando o profissional de saúde executa procedimentos que geram aerossol — por exemplo, numa entubação, quando uma pessoa com covid precisa ser reanimada, ou numa nebulização. Esses são os momentos em que o profissional de saúde tem maior risco e são principalmente aqueles de plantão nas UTI’s e de plantão nas emergências”, explicou.

“Às vezes o profissional de saúde tem muito cuidado na hora do contato com o paciente e relaxa nos momentos de lazer, no refeitório, nos quartos de plantão. Então ele acaba se contaminando não no atendimento direto ao paciente, mas com os colegas ou até mesmo em casa”, completou o infectologista.

Para a presidente do Coren-ES, há outros problemas que explicam o grande número de profissionais infectados. “Investir em treinamento. E uma outra coisa muito importante são os testes: os profissionais de saúde ainda não têm sido testados como deveriam”, afirmou Andressa Barcellos.

Reposição

Segundo ela, os profissionais afastados nem sempre são repostos, sobrecarregando aqueles que ficam na linha de frente. “Eu já fui a serviços que, num determinado plantão, tinham dez profissionais afastados por covid e estava com déficit, naquele serviço, de dez profissionais. Às vezes a instituição remaneja, tira de um setor e coloca em outro. Só que aí a gente tem o problema de que, às vezes, o profissional não tem o domínio e o conhecimento da rotina daquele serviço”, destacou a presidente do Coren-ES.

O CRM-ES diz que o mesmo acontece com os médicos. “A reposição tem que ser feita na mesma quantidade e com a mesma qualidade por profissional afastado. Então a gente tem que fazer um processo em que não sofra a continuidade e a qualidade de atendimento que se vai dar aos pacientes”, frisou Murad.

Com informações da jornalista Andressa Missio, da TV Vitória/Record TV