Uma pedra no alto do Morro do Jaburu, em Vitória, pode deslizar a qualquer momento. Segundo a Defesa Civil Municipal, é a área de risco em situação mais crítica na região. O perigo aumenta com as chuvas fortes que atingem o Espírito Santo.
Quem vê a pedra de perto primeiro se impressiona com o tamanho dela. E depois, com a quantidade de rachaduras que se formaram ao longo do tempo. Em uma delas, dá pra colocar uma mão inteira. Se essa rocha se desprender, muitas famílias correm risco de serem atingidas.
Mesmo com esse perigo, a Defesa Civil teve dificuldades para retirar a população de suas casas e precisou acionar a Justiça. Agora, há uma ordem judicial para que elas deixem os imóveis.
“É uma área que foi identificada como área de risco geológico, risco R4, muito alto. E diante dessa probabilidade de alertas que estão sendo emitidos de vários institutos meteorológicos aqui pra capital, a Prefeitura de Vitória resolveu tirar essas famílias de forma imediata, pra resguardar a vida delas. E o mecanismo que nós decidimos aplicar foi a ação judicial, considerando que a Defesa Civil Estadual já havia interditado os imóveis e os moradores não saíram”, explicou Jonhatan Jantorno, coordenador da Defesa Civil de Vitória.
Na tarde desta quinta-feira (23), agentes do órgão acompanhados de oficiais de Justiça foram a cada uma das 39 casas que as famílias devem desocupar de imediato. A maioria aceitou.
De acordo com o coordenador da Defesa Civil da capital, caminhões, mão de obra pra carregar o material e abrigo foram disponibilizados pela prefeitura para receber essas famílias.
Ainda não se sabe ao certo quantas pessoas afirmaram que vão deixar suas residências, mas a Dona Malvina, uma das moradoras mais antigas, diz que quase todos farão isso. Ela está procurando outra casa para alugar. Quer continuar morando no Jaburu.
“A gente tá vendo uma casa ali embaixo, para colocarem as coisas até conseguir algo melhor. Aí vou ter que pagar o aluguel, porque o aluguel social só vai sair daqui a 10 dias. Isso é se sair, né?”, desabafou a dona de casa Malvina Aparecida.
Já Ana Lúcia Ambrósio, comerciante, não quer deixar a residência. Ela construiu a própria moradia há 27 anos, vai desafiar a ordem judicial e não se importa com o risco. “Eu não vou sair. Tem 27 anos que moro aqui nessa casa, e eu falei pra eles que não vou sair”, disse ela. Questionada sobre não ter medo da pedra rolar, Ana diz que não. “Está na mão de Deus. Ele tem o controle de tudo”.
A Prefeitura de Vitória espera a retirada das famílias para fazer obras de contenção das pedras que podem rolar no Jaburu. O prazo é de seis meses a um ano e, depois disso, os moradores podem retornar.
Malvina explica que essa obra já é solicitada pela população há mais de 10 anos. “Eu e a associação de moradores entramos com um processo pra resolver isso aí. Até hoje, eles ficaram ‘empurrando’. Antes, a coisa era menor. Agora, chegou ao ponto que chegou”, contou ela.
A Defesa Civil de Vitória explica que as famílias que se recusam a sair assumem a total responsabilidade em caso de um desastre. “O morador assume total responsabilidade diante do cenário de risco. Nós temos o Código de Edificações, que é a Lei 4.821, de 1998, e o artigo 7º diz: o proprietário é responsável pelas condições de estabilidade, segurança e salubridade do imóvel”, afirmou Jantorno.
Com informações do repórter Laércio Campos, da TV Vitória/Record TV.