O município da Serra é onde se concentra a maior população de jacaré-de-papo-amarelo do Espírito Santo. Atualmente, mais de 500 jacarés são monitorados pelo Projeto Caiman, todos em lagoas que ficam na área industrial da ArcelorMittal Tubarão.
A informação é do coordenador do projeto e pesquisador do Instituto Marcos Daniel, Yhuri Nóbrega. Segundo ele, o projeto de pesquisa e conservação do jacaré-de-papo-amarelo monitora áreas estratégicas em todo o Estado, principalmente nos municípios de Sooretama, Linhares e Cachoeiro de Itapemirim, além da Grande Vitória.
De acordo com o pesquisador, o maior objetivo é conscientizar a população para a preservação da espécie. “O foco é mapear todo o Espírito Santo e compreender o estado de conservação, para, em seguida, adotar medidas que evitem o processo de extinção do jacaré. A maior parte deles está em uma área de preservação dentro da Arcelor Mittal, ondem encontraram refúgio, pois as regiões de mata estão diminuindo. Com isso, eles se aproximam cada vez mais das áreas urbanas”, afirmou. ”, explicou.
O trabalho desenvolvido no Projeto Caiman, segundo Nóbrega, acontece em três frentes. “Pesquisa, educação e sensibilização ambiental, além de formar jovens pesquisadores com o intuito de incentivar a pesquisa e o desenvolvimento científico e tecnológico”, afirmou.
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Em todo o país, existem seis espécies de jacarés. No Estado, há apenas uma: o jacaré-de-papo-amarelo. O animal pode chegar até 3,5 metros e chega a pesar, quando adulto, até 100 kg. O tempo necessário para a captura de um jacaré por especialista para pesquisas gira em torno de uma hora.
O que fazer ao encontrar um animal desse?
Segundo o pesquisador, o projeto está disponível para atender essas ocorrências. Ele disse que se alguém se deparar com algum animal por perto é só acionar a equipe.
“Temos equipes especializadas para ir até o local ou até mesmo para tirar as dúvidas da população e dar orientações. O que queremos é preservar a espécie e evitar que eles acabem morrendo”, destacou.
Para entrar em contato com a equipe basta ligar para o número (27) 99573-4483. O telefone está disponível para emergências durante 24 horas, de acordo com Nóbrega.
O projeto
Desenvolvido através do Instituto Marcos Daniel, as principais iniciativas do Projeto Caiman – Jacarés da Mata Atlântica são a pesquisa e conservação de Jacarés brasileiros. O coordenador explicou que as atividades incluem, além do desenvolvimento de pesquisas, a educação ambiental e a formação de jovens pesquisadores através do programa de iniciação científica.
“Trata-se de um projeto pioneiro, fundamental para a conservação da biodiversidade capixaba. O Projeto Caiman é uma iniciativa continua de pesquisa e conservação das populações de Jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris). Através do uso do jacaré como uma espécie bandeira, o projeto tem o objetivo de promover a conservação dos crocodilianos e da Mata Atlântica como um todo”, afirmou.
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O Projeto Caiman atua em quatro vertentes principais, como pesquisa em conservação, desenvolvimento tecnológico e científico do Brasil, formação de jovens pesquisadores e educação e sensibilização ambiental. Ele também capacita estudantes de diversas instituições de ensino no Brasil e é referência em conservação de jacarés no Brasil.
“O foco do projeto é atuar na Mata Atlântica aqui no Estado. Esse ano começamos a expandir para outros locais e fazer inspeções pontuais. Fizemos o levantamento de saúde no Pantanal e isso vai gerar pesquisas para preservação e criação de políticas públicas. Ano que vem também vamos fazer uma inspeção na Amazônia para conhecimento dos jacarés no Brasil”, apontou.
Livro
Toda a história e trajetória do projeto, os desafios da conservação de animais silvestres marginalizados e as ações empreendidas pelo governo brasileiro para a preservação se transformaram em um livro.
Com o nome de “Marginais”, a obra, ao longo de suas 208 páginas, promove a reflexão sobre o tratamento oferecido aos jacarés pela sociedade e combate o desconhecimento, mostrando a fascinante história dessa espécie pré-histórica e a importância biológica que esses animais exercem como predadores de topo de cadeia.
“O livro coroa um trabalho lindo que o projeto Caiman tem desenvolvido, em parceria com a ArcelorMittal, e que tem gerado frutos reais, não apenas para a biodiversidade, mas também para a sociedade. O coração está cheio de alegria e felicidade com o lançamento do livro, mas também de esperança. Esperamos que daqui pra frente, cada vez mais a relação entre o homem e o jacaré seja harmoniosa”, disse o co-fundador do projeto Caiman, Yhuri de Nóbrega.
Apesar de estar fisicamente localizado no Espírito Santo, o trabalho do Caiman é reconhecido nacionalmente e internacionalmente. Essa é a visão do representante da União Internacional para Conservação da Natureza, Pablo Siroski.
Estou envolvido no mundo dos crocodilos há vários anos e conheci muitas pessoas, mas poucas com tanto talento e esforço para preservá-los quanto os membros do Projeto Caiman”, afirmou.
O lançamento do livro foi realizado na sede ArcelorMittal Tubarão, na Serra, antiga parceira do projeto. “Os jacarés fazem parte da nossa identidade. A ArcelorMittal co-existe e produz aço em harmonia com os jacarés. São 500 jacarés em nossas sete lagoas. Muitos podem perguntar por que uma empresa que é referência na produção de aço dedica tempo e investimento para preservar espécies, como jacarés. Nossa relação com esses répteis está inserida em um contexto mais amplo que está associado à prática do desenvolvimento sustentável e à nossa responsabilidade corporativa”, disse o gerente Geral de Sustentabilidade e Relações Institucionais da ArcelorMittal Tubarão, João Bosco Reis da Silva.
Características
O jacaré-do-papo-amarelo pode atingir 3 metros de comprimento. Mas esse tamanho é raro. Normalmente mede de 1,5 a 2 metros. É um animal esverdeado, quase pardacento, com o ventre amarelado e o focinho pouco largo e achatado. O focinho dele é menor do que o das outras espécies. E atrás da cabeça ele ainda tem escamas em fileiras cervicais.
A fêmea permanece perto do ninho para evitar ataques de predadores, como o lagarto teiú, o quati e o mão-pelada. Quando os ovos estão para eclodir, os filhotes vocalizam chamando a mãe, que desmancha o ninho usando os membros anteriores e posteriores e o focinho. A fêmea carrega cada um na boca até a água, cuidadosamente.
O macho cuida dos recém-nascidos que já estão na água e os pais permanecem perto dos filhotes, protegendo-os contra os predadores, em especial garças e outras aves grandes.
Esses animais exibem traços herdados dos antepassados. É um réptil, contemporâneo dos grandes dinossauros que habitavam a Terra há milhões de anos, e que conseguiu sobreviver às grandes transformações do Planeta.