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Comandante e imediato de navio são apontados como responsáveis pela morte de portuários

Segundo a direção do Portocel, onde o navio Sepetiba Bay estava atracado, os dois não cumpriram regras estabelecidas pelo Código Marítimo Internacional

Foto: Reprodução

O comandante do navio Sepetiba Bay e seu imediato podem responder criminalmente pela morte de três portuários dentro da embarcação. O fato ocorreu em julho deste ano no Portocel, em Aracruz, norte do Estado. Adenilson Carvalho, de 47 anos, Clovis Lira da Silva, de 52, e Luiz Carlos Milagres, de 64, morreram após entrarem no porão do navio para descarregar toras de eucalipto.

De acordo com a diretora-superintendente do Portocel, Patricia Lascosque, os dois apontados como responsáveis pelo acidente, ambos de nacionalidade indiana, não cumpriram regras estabelecidas pelo Código Marítimo Internacional.

“A gente fez uma investigação contratando especialistas navais e de carga, que são certificados pela IMO, que é a International Maritime Organization, e atendendo a uma série de procedimentos para fazer esse tipo de investigação. A nossa investigação constatou que houve falha na ventilação dos porões e ausência de medição dos porões. A conclusão de responsabilidade do imediato e do comandante foi da Polícia Civil e do Ministério Público”, destacou a diretora. 

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Adenilson, Clóvis e Luiz Carlos desmaiaram após entrarem no porão e morreram logo depois

O código prevê que, em operações com madeira, antes da liberação para descarregamento, a tripulação do navio deve medir os níveis de oxigênio, monóxido de carbono e gás sulfídrico no ambiente. Caso não estejam no níveis permitidos, deve ser feita uma ventilação mecânica no local antes de liberar a retirada da carga.

De acordo com Lascosque, a última medição no porão do Sepetiba Bay foi feita dois dias antes do ocorrido. Investigações internas mostraram que o diário de bordo foi rasurado.

“O diário de bordo apresentava alguns vícios que a gente chama, que são rasuras. Onde estava escrito ‘ventilação natural’ foi riscado e escrito ‘mecânica’. Ele registrava que havia sido feita uma medição às 7h25 da manhã naquele porão. À princípio o equipamento que eles usam para medir aparecia no visor e o imediato anotava à mão. Nós conseguimos um software, que a gente forneceu para a polícia, que extraiu esses dados e constatou que a última medição tinha sido feita no dia 22 e uma nova medição só foi feita no dia 24 após as 13 horas, ou seja, após a ocorrência”, afirmou a diretora-superintendente do Portocel.

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O acidente teve inicio quando um dos trabalhadores desceu ao porão e desmaiou. Em seguida, outros três portuários foram ajudar e também desmaiaram. Apenas um deles, o estivador Vitor Olmo, sobreviveu.

Depois das mortes, o Portocel passou a fazer a checagem dos gases nos porões dos navios antes de liberar a entrada dos funcionários. O Sepetiba Bay continua operando no porto, especializado no transporte de celulose. A conclusão do caso está por conta da Polícia Civil e do Ministério Público do Trabalho (MPT).

A empresa Norsul, que fretou o Sepetiba Bay, foi procurada pela produção da TV Vitória/Record TV, mas até o momento não deu retorno.

Com informações da repórter Francine Leite, da TV Vitória/Record TV