No primeiro dia útil após a vigência das novas medidas de restrição ao comércio para a maioria dos municípios capixabas, definidas pela matriz de risco do Governo do Estado, alguns lojistas continuam confusos em relação às regras. Em Guarapari, por exemplo, a maioria das lojas permaneceu aberta durante esta segunda-feira (08), seja comércio de artigos pessoais ou não pessoais.
As regras ficaram mais rígidas no município desde o último sábado (06), após um decreto municipal. O comércio não essencial não funciona mais aos sábados e, durante a semana, até as 17 horas.
Entretanto, de acordo com a nova matriz de risco divulgada pelo governo estadual, o município saltou de risco moderado para alto. Com isso, além de fechar parte do comércio aos sábados, durante a semana o funcionamento deveria ser em dias alternados — como já acontece em Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica, por exemplo.
Conforme a atual matriz de risco, 36 cidades capixabas estão em risco alto para a covid-19 e deverão seguir as mesmas restrições de Guarapari. Os outros 42 estão em risco moderado e só poderão ter o comércio aberto de segunda a sexta-feira.
“Para quem pulou do risco moderado para o risco alto, antes poderia funcionar todo tipo de comércio e todos os dias, ele passa a ter que respeitar aquela regra dos dias pares e ímpares, ou seja, o comércio passa a funcionar nesses municípios em dias alternados”, destacou o secretário de Estado de Governo, Tyago Hoffmann.
No entanto, segundo o comerciante Felipe Schmidt, dono de uma loja de utilidades do município, a orientação que recebeu foi sobre a restrição aos sábados, o que, segundo ele, já deve impactar no faturamento. “Sábado é o melhor dia que a gente tem de movimento realmente. É um dia que todo mundo espera para chegar, mas conforme foi mandado, por a gente entrar na área de risco maior, a gente está acatando as medidas e vamos seguir as medidas conforme a prefeitura for passando para nós”, ressaltou.
Sobre alternar os dias durante a semana, o empresário diz que, por enquanto, não adotou a medida. “A gente está torcendo para que não aconteça. Todo mundo está seguindo o protocolo, com bastante rigor, com número limitado de clientes. Temos também o detalhe do álcool em gel, todo mundo se higienizando. A própria máscara, não entra ninguém sem máscara. Então, se depender do comércio, acho que o comércio está trabalhando muito bem isso, bem forte”, frisou.
Segundo o superintendente da Câmara de Dirigentes Logistas (CDL) de Guarapari, Aguinaldo Ferreira Júnior, os empresários seguirão o decreto municipal, e não o que foi definido pelo Governo do Estado.
“A gente está adotando medidas que se adequem à realidade de Guarapari, preservando as vidas, mas sem sacrificar as empresas e empregos no nosso município, que estão vivendo um momento muito delicado. Dessa maneira, nós vamos continuar acompanhando o decreto municipal, mas sempre de olho no que vai acontecer em nível nacional e estadual”, destacou Júnior.
No entanto, segundo Tyago Hoffmann, não há possibilidade de um município adotar menos restrições do que as determinadas pelo Estado. “O município pode sim criar regras, ele pode estabelecer regras nos seus decretos municipais, mas essas regras precisam sempre ser mais restritivas do que as regras do decreto estadual. O município não pode criar regras menos restritivas do que as regras estaduais. Então ele tem a liberdade sim de estabelecer regramentos que ajudem o Estado nesse controle da pandemia, é importante a participação dos prefeitos e dos municípios, mas sempre no sentido mais restritivo do que de mais abertura”, explicou o secretário.
De acordo com o comandante geral do Corpo de Bombeiros, coronel Alexandre Cerqueira, inicialmente será feita uma fiscalização, na base na conversa. Segundo ele, por enquanto não há multa ou cassação de alvará, o que pode mudar nas próximas semanas.
“Nos municípios que estão começando a primeira semana com essa restrição, é natural que haja uma série de dúvidas com relação a qual dia pode ser aberto, qual tipo de atividade que pode abrir, qual horário. Então, em geral, na primeira semana de fiscalização, os agentes fiscalizadores estão orientados a buscarem conscientizar, buscarem a orientação e buscarem esclarecer as dúvidas”, frisou.
A produção da TV Vitória/Record TV questionou a Prefeitura de Guarapari sobre a fala do representante da CDL, de que os lojistas continuarão acompanhando o decreto municipal e não o estadual. A prefeitura disse que continua valendo o decreto publicado na última sexta-feira (05). Informou ainda que, nesta terça-feira (09), uma nova reunião será realizada para discussão das novas determinações da matriz de risco.
Sobre a afirmação dos comerciantes, de que não foram informados sobre as regras, a prefeitura informou que todas as medidas adotadas pelo município, bem como as orientações necessárias aos comerciantes, são feitas e informadas diretamente à Câmara de Dirigentes Lojistas de Guarapari, órgão que representa a categoria, através de seu superintendente Aguinaldo Ferreira Júnior. A prefeitura afirmou ainda que já havia sido definido e comunicado a CDL que, por enquanto, não será praticado o funcionamento por revezamento.
Leitos de UTI
As regras determinadas pela matriz de risco ficaram mais duras para quase todos os municípios capixabas, principalmente por causa da taxa de ocupação de leitos de UTI no Espírito Santo, que está em 84,22% nesta segunda-feira, segundo dados do Painel Covid-19, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Com menos leitos, maior é o risco do sistema de saúde estadual entrar em colapso. Caso esse índice passe de 91%, as medidas poderão ser ainda mais rígidas.
“Nós podemos chegar num ponto de até em torno de 800 leitos de UTI. Não tem condições de passar muito disso, porque não tem equipe, nós não temos espaços para abrir leitos, nós não temos medicações suficientes para abastecer mais que 800 leitos de UTI exclusivos para covid. Então é preciso fazer esse alerta à sociedade: não espere que um parente seu chegue num hospital e que falte um leito de UTI para ele”, afirmou Hoffmann.
“Por enquanto, nas medidas de risco alto, não há previsão de restrição à circulação de pessoas. Nós não queremos que a polícia tenha que agir com ninguém. Com o isolamento social, ficando em casa, você está protegendo a sua vida e a de sua família. A gente precisa que as pessoas entendam a importância do isolamento”, completou o secretário.
O comandante do Corpo de Bombeiros reforça que a população pode colaborar, principalmente ficando em casa. “A taxa de isolamento no final de semana girou em torno de 55%. Na semana passada, não teve alteração substancial: ela fica girando em torno de 46% a 47%”, ressaltou o coronel Cerqueira.
Com informações da jornalista Andressa Missio, da TV Vitória/Record TV