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Como é ser uma pessoa trans na Rússia? Veja luta pela identidade

Ada, uma pessoa trans de 23 anos, foi levada a um centro de terapia de conversão após revelar sua identidade de gênero à família. Entenda a história

Foto: Reprodução / BBC

A instabilidade enfrentada por pessoas trans é uma questão global complexa que abrange uma variedade de desafios sociais, econômicos e legais. Em muitos contextos, essas instabilidades são exacerbadas por normas culturais e políticas que não reconhecem ou respeitam a identidade de gênero trans.

Pessoas trans frequentemente enfrentam desafios econômicos significativos, muitas vezes resultantes de discriminação no local de trabalho e no mercado de emprego. 

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A dificuldade em encontrar e manter emprego estável pode levar a instabilidade financeira, o que pode afetar a capacidade de acessar moradia adequada e serviços essenciais. 

Além disso, a falta de apoio social e familiar pode intensificar a marginalização e a exclusão social, contribuindo para um ciclo de vulnerabilidade econômica.

Além de todo contexto de vulnerabilidade que vivem pessoas trans em todo o mundo, na Rússia, a situação está ainda mais alarmante

O QUE DIZ A LEI RUSSA

Pessoas trans na Rússia enfrentaram uma erosão sistemática de seus direitos humanos devido à estratégia política do governo de atacar minorias vulneráveis, conforme explica Graeme Reid, especialista independente da Organização das Nações Unidas (ONU).

Um ano após a Rússia aprovar uma lei que proíbe a cirurgia de redesignação sexual, Ada relata que as pessoas trans russas foram privadas dos seus “direitos mais básicos, como a identidade legal e o acesso a cuidados de saúde”.

A nova legislação também impediu a alteração de dados pessoais em documentos oficiais. Ada foi uma das últimas pessoas a conseguir alterar seu nome oficialmente antes da lei entrar em vigor em julho de 2023.

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, o presidente Vladimir Putin tem intensificado ataques contra os direitos LGBTQIA+, alegando estar defendendo os valores tradicionais russos. Em um fórum cultural em São Petersburgo no ano passado, ele desdenhou das pessoas trans, referindo-se a elas como “transformistas ou trans-alguma coisa”.

No final de 2023, o Ministério da Justiça da Rússia anunciou uma nova decisão, classificando o “movimento LGBT internacional” como uma organização extremista, mesmo que tal organização não exista. 

Qualquer pessoa acusada de apoiar o que é agora considerado “atividade extremista” pode enfrentar até 12 anos de prisão. Exibir uma bandeira do arco-íris pode resultar em multas e uma possível sentença de prisão de quatro anos por reincidência.

A HISTÓRIA DE ADA

Ada, uma pessoa trans de 23 anos, foi levada a um centro de terapia de conversão após revelar sua identidade de gênero à família. 

Ela relata que, em 2021, uma parente a convidou para acompanhá-la até Novosibirsk, a terceira maior cidade da Rússia, localizada no centro da Sibéria, onde a parente iria se submeter a uma cirurgia cardíaca de grande porte. 

Ada conta que, no aeroporto, um homem os encontrou e, após uma longa viagem, o carro em que viajavam parou abruptamente. A parente de Ada saiu do veículo, e o motorista se voltou para ela, exigindo que entregasse seu relógio digital e o telefone, afirmando diretamente: “Agora vamos curar você da sua perversão.” 

Ada só percebeu que não estava planejado ficar apenas duas semanas ou um mês quando recebeu um pacote de roupas quentes, duas semanas depois. 

Ela foi forçada a tomar testosterona, rezar e realizar trabalhos manuais, como cortar lenha. Confrontada com um porco, ela teve um ataque de pânico e não conseguiu seguir as ordens. Após nove meses, Ada conseguiu escapar.

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A IMPORTÂNCIA DA VISIBILIDADE TRANS 

Em 29 de janeiro, celebra-se o Dia Nacional da Visibilidade Trans, um dia dedicado à luta por igualdade de direitos para transgêneros e travestis — pessoas cuja identidade de gênero difere do sexo atribuído ao nascimento. A data destaca a contínua busca por reconhecimento e respeito. 

Em meados de 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um avanço significativo ao remover a transsexualidade da seção de transtornos mentais e comportamentais da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID).

Em vez disso, a transexualidade foi realocada para a categoria de condições relacionadas à saúde sexual, refletindo uma abordagem mais respeitosa e atualizada sobre a identidade de gênero.

“Nesta data, recordo-me das bravas mulheres trans que entraram na Câmara dos Deputados, em Brasília, para clamar as pautas do nosso grupo e, desde então, passamos a ter voz. Agora, na atual conjuntura política, não posso acreditar em perda dos direitos já adquiridos e ainda sigo confiante da aprovação, no Supremo Tribunal Federal (STF), da equiparação da lei que iguala a LGBTfobia (aversão e/ou ódio a lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) ao racismo.” diz aluna do curso de especialização em Relações de Gênero e Sexualidades (Faced), Bruna Rocha.

A presença de pessoas trans em locais de prestígio e ocupações de destaque é fundamental para promover a visibilidade, a igualdade e a inclusão. Quando pessoas trans ocupam posições de destaque, elas ajudam a quebrar estereótipos e preconceitos, mostrando que são competentes e capazes. 

Isso não apenas desafia visões preconceituosas, mas também fornece modelos de referência importantes para outras pessoas trans, inspirando-as a alcançar seus objetivos com confiança.

Além disso, a inclusão de pessoas trans em áreas como política, negócios e mídia influencia positivamente as políticas públicas e promove mudanças legislativas que beneficiam a comunidade trans. Sua presença em cargos de liderança pode ajudar a implementar políticas inclusivas e criar ambientes de trabalho mais diversificados e colaborativos.

Foto: Vinícius Loures/Câmara dos Deputados

Um ótimo exemplo de pessoa trans em um cargo de destaque politico é a senadora Erika Hilton. Ela é uma figura importante na política brasileira, conhecida por seu ativismo em defesa dos direitos humanos, especialmente no que diz respeito aos direitos da comunidade LGBTQ+. 

Além de seu trabalho no Senado, Erika Hilton também é reconhecida por seu esforço em promover igualdade e inclusão em diversas esferas da sociedade. Sua presença e atuação são inspiradoras para muitas pessoas e têm um impacto significativo na visibilidade e representação das pessoas trans na política e na sociedade em geral.

Culturalmente, pessoas trans em posições de destaque ajudam a enriquecer a representação na mídia e nas artes, promovendo uma sociedade mais empática e respeitosa. Investir na inclusão de pessoas trans em locais de prestígio é um cenário de urgência para garantir uma sociedade mais justa e equitativa, onde todos têm a oportunidade de contribuir e serem reconhecidos por suas habilidades e talentos.

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Kayra Miranda, repórter do Folha Vitória
Kayra Miranda Repórter
Repórter
Jornalista pelo Centro Universitário Faesa e repórter de SEO do Folha Vitória.