Estudantes favoráveis e contrários à ocupação do prédio do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), no campus de Maruípe, em Vitória, tiveram uma discussão durante a tarde desta quarta-feira (09). A Polícia Militar precisou ser acionada para acompanhar a situação.
Segundo os alunos que são contra a ocupação, os manifestantes iniciaram o movimento, na tarde de terça-feira, sem consultar a maioria dos estudantes dos oito cursos da área de ciência biológicas que utilizam as instalações do prédio.
“Ontem um pequeno grupo veio aqui e tentou invadir esse prédio. Hoje teve uma assembleia aqui e mais de 500 estudantes se mostraram majoritariamente contrários a essas invasões”, disse o conselheiro universitário Breno Panetto.
O conflito começou porque cerca de 30 alunos de cursos do campus de Goiabeiras decidiram ocupar o prédio Básico 1, na tarde de terça-feira. Segundo a diretora do Centro de Ciências da Saúde, Gláucia Abreu, o local é considerado estratégico.
“É um prédio que recebe todos os alunos que chegam aqui nesse campus, de todos os oito cursos que nós temos na área de saúde. Então naquele prédio existem muitas salas de aulas, muitos laboratórios de pesquisa, alguns laboratórios de aulas práticas. E a gente tem uma circulação muito grande de alunos naquele prédio, porque funcionam os três departamentos da área básica”, explicou.
Já o professor do Departamento de Patologia da Ufes, Gustavo Rocha Leite, afirmou que os manifestantes correm riscos de contaminação biológica ao se manterem no local.
“Eles acabaram invadindo uma parte de risco biológico e a outra a gente conseguiu fechar a tempo. Depois de muita conversa, com mais de cinco professores conversando e explicando esses riscos para eles, do material que está lá, a gente conseguiu fazer com que eles saíssem dessa área de risco biológico e fechamos o portão. A gente tem lá material microbiológico, bactérias, vírus, fungos e material parasitológico também”, ressaltou.
Depois de mais de 24 horas de manifestação, mesmo quem coordena a ocupação em outros prédios da universidade não concordou com o fato de o movimento ter chegado até o campus de Maruípe.
“Infelizmente só três cursos foram consultados sobre essa ocupação. Então cinco cursos ficaram de fora dessa conversa, e aí você tem uma ocupação que não ouve os estudantes que utilizam o prédio. A gente não pode deixar isso acontecer, porque, para ocupar um prédio que tem salas de aulas, pesquisas e laboratórios, você tem que ter pelo menos um consenso com quem estuda lá, para fazer essa ocupação e o protesto”, afirmou o presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Rafael Simões.
A diretora da Comissão Permanente dos Direitos Humanos da Ufes, Brunela de Vicenzi, que mediava as negociações, deixou o prédio no meio da tarde. Ela conta que chegou a ser agredida durante a tentativa de negociação.
Ocupação
Os manifestantes decidiram manter a ocupação no prédio de laboratórios do Centro de Ciências de Saúde da Ufes pelo menos até sexta-feira (11), quando deve acontecer uma nova assembleia para discutir a ocupação.
Segundo representantes do movimento, enquanto durar a ocupação será realizado um revezamento de alunos no local. Apenas as atividades laboratoriais serão mantidas. Já as aulas acontecerão em outros locais, ainda não definidos pela direção do campus.
A assessoria de comunicação da Ufes informou que, diante da decisão dos manifestantes em continuar com a ocupação no prédio, a diretora do Centro de Ciências da Saúde vai se reunir com os coordenadores de cada um dos oito cursos. O objetivo é solicitar ao reitor da universidade que acione a Justiça, por meio da Advocacia Geral da União, para pedir a reintegração de posse do prédio.
Ainda segundo a assessoria de comunicação da universidade, até o momento estão ocupados os seguintes prédios no campus de Goiabeiras: Reitoria, IC-2, IC-3, IC-4, ED-1, ED-2, Cemuni 2, Cemuni 3, Cemuni 4, Cemuni 5, Cemuni 6 e Educação Física, além do prédio pertencente à Fundação Ceciliano Abel de Almeida (FCAA), que foi ocupado na madrugada de terça-feira.
Nos campi do interior, o prédio da direção do Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Ceunes), em São Mateus, está ocupado. Já em Alegre, o acesso ao campus foi bloqueado para a entrada de carros, mas a entrada de pedestres está liberada.
Reintegração
Na terça-feira, a Justiça Federal determinou a reintegração de posse da reitoria da Ufes, prédio ocupado por estudantes contrários à PEC 241/55 desde o último dia 24 de outubro. O prazo concedido é de 48 horas.
Entretanto, o juiz federal Aylton Bonomo Júnior, responsável pela decisão, permitiu que os estudantes protestem no interior da Ufes, desde que a manifestação não seja realizada em salas de aulas ou repartições administrativas, e determinou que a universidade disponibilize espaço físico adequado para tal, caso haja interesse dos estudantes.
A Justiça também determinou que a desocupação da reitoria seja feita por meio de intimação pessoal, para que a saída seja voluntária. Caso haja resistência, a desocupação deverá se dar pelo oficial de Justiça plantonista, sem uso de reforço policial. Apenas em último caso a polícia poderá ser chamada, mas o juiz deverá ser previamente comunicado
Escolas estaduais
A Secretaria de Estado da Educação (Sedu) informou, por meio de nota, que atualmente 28 escolas da rede estadual foram totalmente desocupadas, 19 retomaram as atividades letivas e permanecem com manifestações dentro da unidade e 21 estão com manifestações e em processo de retomada das aulas.