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Voluntários resgatam autoestima de mulheres com câncer e ajudam crianças a ver melhor

Veja como iniciativas no Espírito Santo fortalecem o papel estratégico do voluntariado no cooperativismo e contribuem para o desenvolvimento social e comunitário

Foto: Unimed Sul Capixaba

Voluntários do projeto Viver e Aprender com alunos de escolas públicas que receberam óculos de grau

O cooperativismo é um modelo de negócio que se destaca pelo seu envolvimento com as comunidades e valorização das ações de responsabilidade social. No Espírito Santo, iniciativas desenvolvidas por voluntários contribuem para o resgate da autoestima de pacientes de câncer e ajudam alunos de escolas públicas a corrigirem problemas de visão com a doação de óculos.

O papel dos voluntários no cooperativismo é essencial para que ações que transformam vidas nas comunidades possam sair do papel.

É por isso que, anualmente, a Organização das Cooperativas Brasileiras (Sistema OCB) realiza o Dia de Cooperar (Dia C), uma intensa mobilização de pessoas em todo o país que incentiva a realização de atividades voluntárias inovadoras e relevantes. Esse evento comemora o Dia Internacional do Cooperativismo, celebrado sempre no primeiro sábado do mês de julho.

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Além do evento anual, cujo objetivo é ajudar a quem precisa, projetos envolvendo voluntários são desenvolvidos em cooperativas do Espírito Santo em várias áreas.

A Unimed Sul Capixaba, por exemplo, trabalha em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo, em uma série de iniciativas que abrem corações e mentes para a empatia e ajudam a vislumbrar um futuro melhor para as futuras gerações, através do voluntariado.

Um exemplo disso é o projeto Voluntários Unimed (VOU), que teve início em 2020, quando um grupo de colaboradores se juntou para ajudar cidades atingidas pelas fortes chuvas no Sul do Estado naquela ocasião.

Desde então, esse grupo de voluntários tem atuado em ações variadas, que vão desde doações até atividades interativas com idosos e prestação de serviços na área da saúde. Hoje, o VOU conta com 30 voluntários.

Até julho deste ano, o esforço empreendido pelos voluntários representou 262 horas de trabalho dedicado à comunidade. Dentre as atividades realizadas estão doação de sangue, festa junina no Lar de Idosos Adelson Rebello, apresentações musicais, atendimentos em saúde etc.

Outra iniciativa marcante é o Núcleo Feminino Cooperativista da mesma cooperativa, que foi fundado em 2016, com o intuito de dar protagonismo às mulheres no centro do voluntariado. Ele é composto por médicas cooperadas, esposas de médicos e colaboradoras. Ao todo, são 20 participantes.

As ações desenvolvidas pelo núcleo englobam doação de óculos para alunos da rede municipal de ensino das cidades de Cachoeiro de Itapemirim e Marataízes, entrega de cestas básicas para famílias carentes, contribuição com suplementos para pacientes oncológicos e até um banco de perucas, que ajuda a elevar a autoestima de mulheres que perdem os cabelos durante o tratamento de câncer.

Doação de óculos para alunos de escolas públicas

Ana Caroline Caetano Oliveira, mãe de Helena Caetano Cancilheri, 7 anos, acompanhou de perto a transformação que o voluntariado é capaz de fazer, através do projeto Vi Ver e Aprender, sob responsabilidade do núcleo feminino. A filha dela estuda na Escola Municipal Anacleto Ramos, em Cachoeiro de Itapemirim, e estava tendo dificuldades de enxergar de longe.

“Fui chamada na escola para uma reunião e fui informada que minha filha reclamava por enxergar pouco. Ela fez a consulta e o médico disse que ela tinha miopia. O atendimento foi maravilhoso conosco, desde o exame até a entrega dos óculos, todos super atenciosos. Agora, ela está indo muito bem, conseguindo enxergar com clareza o quadro escolar e fazer os deveres”, contou Ana Caroline.

Foto: Unimed Sul Capixaba

O oftalmologista Eduardo Abib atende aluno da rede municipal de forma voluntária

Um dos voluntários que participa do projeto é o oftalmologista da Unimed Sul Capixaba, Eduardo Abib. Com a ajuda de outros colegas, ele atende crianças com dificuldades de visão.

“É muito gratificante poder ajudar, o desenvolvimento visual na infância é muito importante e a não correção de alguma patologia pode gerar danos permanentes na saúde visual dessas crianças quando forem adultas. Saber que mesmo pouco, consigo contribuir com um melhor desenvolvimento desses jovens, me deixa muito feliz”, constata Eduardo Abib. 

A pediatra, voluntária e coordenadora médica de Responsabilidade Social da Unimed Sul Capixaba, Fabíola de Freitas Moraes, explica que o objetivo do projeto é identificar alunos na rede municipal com problemas de visão, realizar o exame oftalmológico e dar os óculos para quem precisa.

“Uma boa visão leva a criança a se desenvolver muito melhor na escola. Decidimos fazer esse trabalho com escolas públicas municipais. Chamamos os professores e os capacitamos para identificar dentro da unidade de ensino os alunos com problemas de visão. As crianças passam pela consulta com oftalmologistas voluntários e depois vão à ótica, onde escolhem armação e fazem a medição. E damos os óculos para esses estudantes”, explicou a médica.

De 2016 até 2023, o projeto foi desenvolvido em nove escolas públicas municipais, sendo cinco em Cachoeiro de Itapemirim e quatro em Marataízes, em que foram doados 177 óculos, que são custeados graças à realização de um brechó duas vezes por ano.

“Arrecadamos roupas, sapatos, bijuterias, e tudo é vendido a um preço bem acessível. Com esse dinheiro conseguimos comprar os óculos das crianças”, destacou.

Banco de perucas ajuda no resgate da autoestima

Outro projeto capitaneado pelo Núcleo Feminino Cooperativista é o banco de perucas, que atende as pacientes da cooperativa em quimioterapia e que sofrem com queda de cabelo.

Foto: Unimed Sul Capixaba

Janete Scarpini e Fabíola de Freitas Moraes no banco de perucas capitaneado pelo Núcleo Feminino Cooperativista

“A autoestima da mulher é tudo na recuperação do câncer. Fizemos um projeto junto com um salão. Uma profissional foi até a cooperativa cortar os cabelos, principalmente das colaboradoras, das médicas. Todo esse cabelo natural foi para São Paulo, para a confecção das perucas. A partir daí, as pacientes escolhem os modelos que querem usar e, ao final do tratamento, quando o cabelo volta a crescer, devolvem para o banco de perucas. Assim, após a higienização, outras mulheres podem usar as perucas. É parecido com um empréstimo”, disse Fabíola de Freitas Moraes, que atua ao lado da secretária-executiva Janete Scarpini.

Esse projeto permitiu à comerciária aposentada Gisamar Roli Calabrez, 63 anos, resgatar a autoestima e ter forças para enfrentar o tratamento contra o câncer de mama. Ela conta que se sentia envergonhada até de sair de casa.

Foto: Unimed Sul Capixaba

Gisamar contou que se sentiu acolhida quando precisou de uma peruca durante o tratamento de câncer

“O meu maior medo parecia nem ser do câncer, era de ficar careca! A psicóloga da Oncologia me indicou o banco de perucas, eu experimentei e amei. Se não fosse isso, eu nem teria saído de casa, nem mesmo para ir ao médico. Eu tinha vergonha, não queria que ninguém me visse careca. A peruca trouxe de volta minha autoestima”, contou Gisamar, emocionada.

Ela explicou que durante todo o tratamento do câncer feito na Unimed Sul Capixaba, iniciado em setembro de 2021 e que ainda não terminou, se sente muito bem acolhida por toda a equipe.

“Apesar de tudo que esta doença faz com a gente, esse tratamento mudou a minha vida e me fez refletir e repensar muitas coisas. As meninas são anjos que Deus colocou aqui para melhorar a vida de quem precisa”, lembra a comerciária aposentada.

Para manter o banco de perucas funcionando e também para comprar suplementos oncológicos para doação, o núcleo confecciona anualmente camisetas relativas ao Outubro Rosa, mês de conscientização do câncer de mama. Todo o dinheiro arrecadado é utilizado neste propósito.

Papel estratégico no fortalecimento do cooperativismo

Iniciativas como essas mostram como o voluntariado desempenha um papel estratégico no fortalecimento do cooperativismo, ao mesmo tempo em que contribui para o desenvolvimento social e comunitário. Isso demonstra o compromisso das cooperativas com o princípio de “interesse pela comunidade”, um dos sete valores cooperativos que guiam o movimento em todo o mundo.

De acordo com o Sistema OCB/ES, em 2022 foram registradas 159 ações das cooperativas capixabas vinculadas ao Dia de Cooperar, que contaram com a participação de 3,8 mil voluntários. Diretamente, essas iniciativas beneficiam mais de 44 mil pessoas.

As ações possuem diferentes focos de atuação, mas sempre conectados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). A maior parte delas esteve alinhada aos ODS Fome Zero e Agricultura Sustentável (44,6%); Saúde e Bem-Estar (29,5%); e Erradicação da Pobreza (15,7%).

Foto: Arte | Folha Vitória

Já no Brasil foram realizadas 4,7 mil ações de responsabilidade social no último ano, que contaram com o envolvimento de 99.115 voluntários e beneficiaram cerca de 2,2 milhões de pessoas. A maior parte delas esteve alinhada aos ODS Educação de Qualidade (22,8 %); Saúde e Bem-Estar (21,1 %); e Erradicação da Pobreza (10,7 %).

Na avaliação do diretor-executivo do Sistema OCB/ES, Carlos André Santos de Oliveira, o trabalho voluntário é uma manifestação genuína da preocupação que o cooperativismo tem com a qualidade de vida das pessoas.

Foto: Sistema OCB/ES

O diretor-executivo do Sistema OCB/ES, Carlos André Santos de Oliveira, destacou a importância do trabalho dos voluntários no Espírito Santo

Ele explica que essas ações contam com a dedicação das lideranças, colaboradores e cooperados das cooperativas, que se unem para promover a dignidade e a felicidade das comunidades.

“O trabalho voluntário faz parte da essência do cooperativismo, que o pratica por meio de diversas iniciativas espontâneas direcionadas à população. Essa prática está contemplada em um dos sete princípios do movimento, chamado interesse pela comunidade, cujo objetivo é contribuir com o desenvolvimento sustentável das comunidades nas quais as cooperativas atuam”, destaca o diretor-executivo.

Erika Santos, editora-executiva do Folha Vitória
Erika Santos Editora-executiva
Editora-executiva
Jornalista formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), com MBA em Jornalismo Empresarial e Assessoria de Imprensa.