Com a suspensão temporária das aulas nas escolas das cidades classificadas como Risco Moderado para transmissão da covid-19, de acordo com o Mapa de Risco que entrou em vigor nesta segunda-feira (23), mães, pais e responsáveis por estudantes tiveram de se organizar para conciliar o trabalho e as atividades escolares que voltaram a ser remotas.
Divulgado pelo governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, na última sexta-feira (20), o novo mapa traz os municípios de Vitória, Cariacica, Viana, Ecoporanga e Barra de São Francisco em Risco Moderado, o que, segundo a regra atual, impede a realização de atividades presenciais nas instituições públicas e particulares da educação básica.
Para a cirurgiã dentista Lubieska Zanon, que tem dois filhos, o último final de semana foi de correria, tentando encontrar uma pessoa que pudesse ficar com as crianças enquanto ela trabalha no consultório.
“A gente está com um problema bem complicado né?! Tivemos de nos adequar na última hora. Eu tenho um filho de 5 anos e outro de 2 e foi bem difícil. Meu trabalho é um serviço de saúde essencial, com pacientes odontológicos de urgência e emergência, não tem como eu ficar em casa. Consegui uma pessoa para ficar com eles, mas foi bem corrido”, contou a mãe.
Segundo ela, além da movimentação em buscar alguém de confiança num curto espaço de tempo, o ponto mais complicado para a família foi dar a notícia do fechamento das escolas para os filhos.
“Foi muito difícil explicar para as crianças que hoje elas não poderiam ver os amiguinhos na escola. A gente fica triste não é porque temos que se virar, é porque vemos que eles ficam desesperados, pedindo para ir para escola e não temos o que fazer. Eles não entendem, por exemplo, que podem ir num aniversário e na aula não podem. O pequeno demorou para se adaptar e agora vai perder tudo, porque vai ter que ficar em casa”, disse a mãe.
Na casa da administradora autônoma Wanice Guimarães a correria não foi diferente. Segundo ela, a família precisou modificar a rotina e se adequar a nova realidade. A mãe da pequena Clara, de 2 anos, disse ainda que a filha também sente falta dos amigos e que, para crianças desta idade, as aulas online acabam não surtindo muito efeito.
“Está sendo muito triste voltar com as aulas remotas, para minha filha que tem apenas 2 anos a aula nem se compara. A gente mantém mesmo para ela não perder o vínculo com os professores, mas é complicado. Eu tive que reagendar meus compromissos para ficar com ela em casa e tentar ajudar meu marido, que está trabalhando em homeoffice. Mas ela sente muita falta, ela pede para ver os amigos”, contou.
“A gente tem certeza que a escola tem cumprido os protocolos a risca. Nossa expectativa é de que o governador, que é um homem de muito bom senso, reveja a decisão, se coloque no lugar dos pais e veja que o risco que a escola oferece é muito menor do que os outros locais que ele permitiu que ficassem abertos”, completou Wanice.
Para Karina Volpato, mãe de duas crianças em idade escolar, também foi preciso uma mobilização da família para que as agendas de trabalho dos pais pudessem se adequar a rotina dos filhos, que voltaram a ficar em casa. Além disso, a preocupação dela e do marido é que, em casa, as crianças não conseguem ter a mesma qualidade de ensino que possuem nas escolas.
“Eu e meu marido precisamos nos reorganizar para dar conta de ter alguém com eles em casa. Mas não temos condições de acompanhar todas as atividades online, tendo nosso trabalho. Essa mudança de uma hora pra outra é um sobressalto que deixa as famílias desorganizadas. A gente entende que é uma medida de segurança, mas todos sabem que a escola não é um ambiente perigoso. Esperamos que reconsiderem essas medidas, que foram pensadas lá no início da pandemia”, disse Karina.
Protesto e expectativa para reunião
A dentista Lubieska estava entre os pais que participaram da carreata que percorreu ruas de Vitória no último domingo (23), pedindo a volta das aulas presenciais. A dentista disse que espera um resultado favorável ao que foi pedido após a reunião marcada para acontecer na terça feira (24). Na ocasião, o governo do Estado vai discutir sobre o tema com o Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Estado do Espírito Santo, além do Sinpro-ES, Sindiupes, Sindipúblicos e Ministério Público.
“Estamos na expectativa agora desta reunião, esperando que as pessoas sejam ao menos razoáveis. A gente vê na Europa tudo fechando, mas escolas continuam abertas. O governo [do Estado] é contraditório em sua fala, pois há poucas semanas eles disseram que as escolas não ficariam fechadas no ano que vem. Qual a diferença agora? Nós confiamos no trabalho realizado pelas instituições, sabemos que é seguro. Eles mudaram as regras de outras coisas e das escolas, que tem todo um protocolo rígido, mandaram fechar”, disse Lubieska.
Em entrevista ao jornal online Folha Vitória na noite deste domingo (22), o secretário de Estado da Educação, Vitor de Ângelo, explicou que a reunião técnica tem como objetivo a formação de um consenso a respeito da dinâmica de abertura e fechamento das escolas que acontece desde o início da pandemia.
“Na sexta-feira o governador anunciou o fechamento das escolas em municípios classificados como risco moderado porque é a regra que está valendo ainda. Desde o início das aulas, esse sistema de abertura e fechamento já vinha acontecendo em municípios que passaram do baixo para moderado. Em muitos casos, as escolas fecharam em uma semana e reabriram na outra. A reunião é técnica e, provavelmente, o que vai acontecer é uma exposição dos dados técnicos por parte da Secretaria de Saúde e, a partir disso, a formação de um consenso a respeito dessas regras. Temos seguido essa dinâmica porque é a adotada desde o inicio da pandemia, mas muitas coisas mudaram desde o inicio”, disse o secretário.
No dia 13 de novembro, quando eu participei de uma coletiva com o subsecretário de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin, já havia dito que nas semanas seguintes deveríamos discutir as regras de abertura e fechamento das escolas. Dados mostravam que escolas, assim como suspeitávamos a partir de experiências internacionais, não eram um vetor de contaminação do coronavírus. Desse modo, se não era um vetor, não havia motivo para ser fechada”, enfatizou.
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