Além de ser uma doença que pode levar a pessoa à morte, devido à infecção causada no organismo, a covid-19 preocupa pela possibilidade de deixar sequelas em quem é infectado pelo coronavírus e consegue se recuperar.
Dados da pesquisa Rede Vitória/Futura Inteligência apontam que 68% dos entrevistados têm a consciência de que a covid-19 pode deixar alguma sequela, mesmo naqueles que conseguem vencer o vírus.
A principal sequela apontada pelas pessoas ouvidas no levantamento foi a falta de ar, lembrada por 20,6% dos entrevistados. A fadiga (16,9%) e as dores musculares (16,8%) também foram bastante mencionadas.
Além disso, 27% disseram que acreditam que as sequelas podem durar entre quatro meses e um ano. Outros 20% acham que elas têm duração de um a quatro meses e 13% imaginam que elas podem se prolongar por até cinco anos.
Mas a preocupação maior é com relação à qualidade do atendimento hospitalar para o tratamento dessa possível sequela. De todas as pessoas que reconheceram que a covid-19 pode deixar sequelas, 67% acreditam que o sistema de saúde, tanto público quanto particular, não está preparado para tratar essas sequelas.
Para o presidente do Futura, José Luiz Orrico, essa descrença das pessoas com relação aos serviços de saúde está relacionada à percepção do que elas consideram ser a doença e com a insegurança em relação à pandemia.
“A covid-19 é encarada como algo ainda não totalmente desvendado pela ciência, apesar dos inúmeros esforços nos estudos e das vacinas já produzidas. É uma doença recente, tem um ano e seis meses. Daí uma certa desconfiança em relação à performance dos serviços de saúde”, apontou Orrico.
O presidente do Futura destaca ainda que essa desconfiança é geral, sem diferenciação entre rede pública e privada de atendimento. “O conceito, contido na pergunta, englobava tudo relacionado à assistência clínica, desde o tratamento profissional dos médico à estrutura de hospitais”, explicou.
Já a coordenadora da pesquisa, Simone Cardoso, ressalta que essa percepção quanto ao sistema de saúde é muito influenciada pela situação vivida por muitos hospitais, em todo o Brasil, ao longo da pandemia.
“Vimos o sistema de saúde colapsar algumas vezes, em outras regiões, devido ao aumento do número de casos da doença e pela pressão no número de vagas disponíveis em enfermarias e UTIs. Então, entendo que a percepção das pessoas em relação a essa incapacidade está pautada pelo que a população viveu nesse último ano, no cenário nacional”.
A coordenadora frisou ainda que é importante ampliar o acesso das pessoas às informações sobre as sequelas causadas pela covid-19, uma vez que 21% dos entrevistados disseram que não acreditam que a doença possa deixar alguma consequência futura.
“É muito importante que as pessoas acompanhem o que acontece com quem se recupera da doença: o que é mais recorrente, como tratar as sequelas, quais são esses canais de tratamento”, afirmou.
“Não há clareza nos dados sobre como é o atendimento dessas sequelas, o que pode ser feito em médio prazo. O foco tem sido naqueles que estão infectados. Portanto, considero natural que haja essa percepção. Ainda há muito medo permeando a sociedade”, completou a coordenadora.
A Secretaria Estadual da Saúde informou que não tem uma estatística do número de pessoas que apresentaram sequelas da covid-19, mas reforçou que ao sentir algum sintoma, a pessoa deve procurar uma unidade de saúde.
O levantamento da Futura foi realizado entre os dias 14 e 17 de junho. Durante esse período, 400 pessoas com 16 anos ou mais foram entrevistadas, por meio de contato telefônico. Todas elas são moradoras do Espírito Santo.
A margem de erro da pesquisa é de 4,9 pontos percentuais, para mais ou para menos. O intervalo de confiança é de 95%.
Medo
A professora Desirre Brandão nunca foi infectada pelo coronavírus, mas afirma que tem consciência das sequelas que a covid-19 pode causar no organismo, mesmo quando a doença se manifesta da forma mais leve.
“A covid é uma doença muito nova. A cada hora que passa se descobrem novas sequelas: doenças cardiovasculares, nervosas, pulmonares. Isso assusta, porque a doença é uma incógnita. Podemos pegar e ter sintomas leves, mas depois sofrer com as sequelas”, destacou.
Ela relata ainda que já presenciou casos de pessoas que contraíram a doença e que sofreram com os desdobramentos dos efeitos provocados pelo vírus.
“Já vi amigos perderem parentes jovens pela própria covid ou pelas sequelas que ela causou. O caso mais grave foi a Síndrome de Guillian Barré, que acometeu a tia de uma amiga, a impossibilitando de se locomover e realizar suas atividades diárias”, relatou.
“Tudo com relação a essa doença é novo. Os estudos estão apenas começando e tenho muitas esperanças que a ciência evolua em suas pesquisas. Mas o temor frente às notícias e acontecimentos me fazem ter medo não da doença em si, mas das sequelas que ela pode causar, como me impossibilitar de trabalhar e de cuidar da minha filha, por exemplo”, acrescentou.
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