O Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo orientou aos médicos que atuam no Estado a não prescreverem a fosfoetanolamina sintética, substância conhecida como “pílula do câncer”.
De acordo com o presidente do CRM-ES, Carlos Magno Dalapicola, a recomendação é nacional, devido ao caráter experimental do medicamento e a não comprovação de sua eficácia. “A resolução do Conselho Federal de Medicina deve ser acatada por todos os conselhos regionais”, salientou. Se ocorrer a prescrição, o Conselho poderá abrir uma sindicância contra o médico.
O presidente do CRM disse que não há registro de pessoas do Estado participando dos testes com a substância e que a entrada de ação judicial, por parte do paciente, para fazer uso do medicamento pode prejudicar ainda mais a saúde.
“Fazendo um tratamento de quatro a cinco meses sem eficácia, o paciente pode perder um tempo precioso que poderia ser empenhado em outra terapia com resultado comprovado”, ressaltou.
Saiba mais sobre a pílula
Desenvolvida pelo professor aposentado Gilberto Chierice, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos, a fosfoetanolamina sintética tem sido o centro de polêmicas após relatos de que seria capaz de curar pacientes com câncer e, durante anos, foi distribuída gratuitamente.
Em dezembro do ano passado, a Secretaria Estadual de Saúde anunciou que os testes com a substância seriam realizados em quatro hospitais de referência, entre eles o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), com a participação de até 1 mil pacientes. O investimento informado na época foi de R$ 2 milhões.
Em março deste ano, o protocolo de pesquisa com a droga foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Conselho Nacional de Saúde (Conep/CNS), ratificação necessária para a realização de testes em seres humanos.
Pouco mais de uma semana depois, os primeiros testes com a fosfoetanolamina sintética, realizados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) mostraram que a substância não é pura, como afirmavam seus criadores, e que ela não apresenta eficácia contra células cancerígenas em testes in vitro.
Após toda a polêmica, que envolveu uma acusação de “curandeirismo” contra o criador da medicação e o fechamento do laboratório onde a pílula do câncer era produzida, o Supremo Tribunal Federal determinou que a fosfoetanolamina sintética não deve mais ser produzida até que sua eficácia seja comprovada e o remédio só deve ser distribuído enquanto existir estoque.