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Desintoxicação virtual: aumenta número de jovens que estão deixando as redes sociais

Psicóloga acredita que o uso em excesso das redes sociais durante o auge da pandemia fez com que muitos percebessem que o comportamento não fazia bem

Foto: Reprodução/Pexels

Redes sociais são sinônimos de curtidas, comentários, interações, fotos bem produzidas, imagens de comida, dancinhas, coreografia e até uma forma de ganhar dinheiro para muita gente. 

Em um mundo cada vez mais digitalizado, há quem esteja optando por sair um pouco do virtual para vivenciar mais interações reais.

Um estudo feito pela agência de pesquisa Dentsu Aegis Network com 32 mil pessoas em 22 países, um em cada cinco jovens de 18 a 24 anos, que fazem parte da chamada Geração Z, revelou ter desativado suas contas nas redes sociais.

A pesquisa mostrou, ainda, que um em cada três jovens afirmou ter reduzido o tempo que passava online ou no smartphone.

Enquanto os meios digitais eram usados como forma de trabalho e interação, também foram o foco de disseminação de notícias sobre tudo o que acontecia. Muitas vezes, informações falsas ou tiradas do contexto real se tornavam ponto de discussão entre opiniões divergentes.

Foto: arquivo pessoal
Mayke reduziu o uso das redes

O bombardeio de informações foi o ponto decisivo para que o professor de idiomas Mayke Dutra desativasse todas as redes que usava, mantendo apenas o WhatsApp, por questões de estudos e de trabalho.

“Após um ano de pandemia, a minha mente já estava esgotada e cansada. Juntando todo o cenário catastrófico, não estava mais aguentando ver as notícias ruins, vítimas conhecidas e muitas pessoas vivendo normalmente, como se nada tivesse acontecendo. Isso estava afetando negativamente a minha saúde mental”.

Mayke conta que viu a necessidade de dar um descanso para a mente e focar em coisas mais importantes. Sair das redes sociais, foi uma forma de se privar do bombardeio de informções. 

Agora, com o cenário mais controlado, ele já voltou a usar alguns aplicativos. “Agora eu reativei, mas o tempo gasto atualmente nas redes sociais é bem menor. Eu gastava muito tempo, que me impedia de focar em tarefas mais essenciais. Agora eu consigo fazer coisas mais importantes”, afirmou.

Quem também optou por sair das redes sociais foi o microempreendedor Ivan Carlos Alves, de 27 anos. Ele desativou Instagram, Facebook e nem chegou a entrar na rede social que bombou na pandemia, o TikTok.

“Saí de tudo. Antes disso, quase nem publicava muita coisa, mas sempre estava olhando as publicações de amigos e de quem eu sigo no feed. Quando o TikTok começou a bombar, prometi pra mim mesmo que eu não iria nem baixar”, afirmou.

Diferente do Mayke, Ivan Carlos ainda não reativou. Para ele, a experiência de abandonar a interação virtual proporciona uma forma mais real e prazerosa de se socializar.

“Penso em reativar, mas só em caso de trabalho ou algo específico, não por mera utilização. A experiência mudou muita coisa. Em relação ao tempo que gastava em rede social, hoje tiro proveito para coisas ‘normais’, que antes não aproveitava. Eu via o por do sol pelo aplicativo, mas eu poderia ver ao vivo, da minha varanda. Sempre via conteúdo de exercícios, mas não praticava. Agora, comecei a fazer essas atividades”, afirmou.

Pessoas começaram a perceber que o excesso faz mal

Para a psicóloga Talita Espíndula, a pandemia fez com que o meio digital fosse a única forma de interação entre as pessoas. Agora que as coisas começam a voltar ao normal, se mantém uma certa dependência e as pessoas estão percebendo a parte ruim disso tudo.

“Com a pandemia, as pessoas ficaram muito em casa e nas redes sociais. As crianças e adolescentes não tinham com quem interagir e isso gerou um excesso. Com isso, a gente percebe que virou um assunto muito em voga. Agora a vida vai voltando e percebe-se uma certa dependência. Agora as pessoas gostam de se relacionar e voltar a vida”, afirmou.

Segundo ela, o comportamento de deixar as redes sociais é considerado normal, pois é hora de criar os laços de outra maneira, mais pessoal, já que muitos já estão vacinados.

“Tudo é preciso ser feito com moderação para ser saudável. Quando a gente percebe que isso tá fazendo mal com a família, trazendo ansiedade isso pode ser um problema. É preciso tratar e não só abandonar. Cria-se uma dependência e é preciso ver em que grau está para tratar”, explicou.

Ivan Carlos, que mantém as redes sociais desativadas há cerca de seis meses, reconhece a necessidade da moderação do uso das ferramentas. Para ele, é essencial que haja interação maior entre as pessoas.

“Em muitos trabalhos redes sociais são fundamentais. Contribui com isso a nova geração que alimenta as redes sociais, tais como artistas ou políticos, por exemplo, que usam por ser uma ferramenta gratuita e que atinge milhares de pessoas e todos os públicos. No dia dia pode atrapalhar a realizar coisas simples, como um abraço ou uma conversa olho no olho”, disse.