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Dia Internacional da Mulher: saiba como identificar sinais de que você está em um relacionamento abusivo

Com o Dia Internacional da Mulher, lembrado no dia 8 de março, é importante falar que não são raros os casos onde há toxicidade em uma relação

Foto: Divulgação/Pixabay

“Você não vai sozinha!”, “Que roupa é esta?! Acho melhor você trocar.”, “Pra que ver seus amigos? Melhor ficar aqui comigo…”, “Isso não é bom. Eu sei o que é melhor para você.” Ditas separadamente essas frases podem até parecer inocentes ou darem a interpretação de um extremo cuidado em um relacionamento. Mas, se prestarmos bastante atenção, nelas pode haver um grande perigo: sinais de um relacionamento abusivo.

Com o Dia Internacional da Mulher, lembrado neste domingo, 8 de março, é importante falar que não são raros os casos onde há toxicidade em uma relação. Um olhar, uma palavra ou um julgamento pode estar querendo demonstrar a autoridade sobre o outro.

Foto: Eric Neader

Para a psicanalista e hipnoterapeuta do Espaço Integrar, Patricia Rosário, identificar um relacionamento abusivo nem sempre é fácil. Ela explica que a relação tóxica é aquela onde predomina o excesso de poder sobre o outro.

“É o ‘desejo’ de controlar o parceiro, de ‘tê-lo para si’. Esse comportamento, geralmente, inicia de modo sutil e, aos poucos, ultrapassa os limites, causando sofrimento e mal-estar. O relacionamento abusivo pode afetar diversas pessoas”, explica a psicanalista.  

Ela explica, ainda, que é difícil definir quando um relacionamento é tóxico, porém, os principais indicativos de uma pessoa abusiva são ciúme e possessividade exagerados; controle sob as decisões e ações do parceiro. “O parceiro pode querer isolar a companheira até mesmo do convívio com amigos e familiares, ser violento verbalmente ou fisicamente e pressionar ou obrigar a parceira a ter relações sexuais”. 

O problema, segundo a especialista é que, muitas vezes, a violência psicológica pode ser confundida com excesso de cuidados, o que faz com a pessoa não enxergue o que está vivendo. 

Infelizmente não é fácil detectar o perfil de um agressor o que, de acordo com a psicanalista, é um desafio para os estudiosos. “Homens de todas as idades e perfis podem estar propensos à violência. Porém, algumas atitudes exigem atenção”, afirma Patrícia. 

Entre os sinais de alerta estão fazer a mulher se sentir inferior ou errada; zombar dela ou a repreender na frente de outras pessoas; controlá-la, seja escolhendo sua roupa ou interferindo em suas decisões; não aceitar quando ela diz não; e fazer com que ela se sinta culpada ou na obrigação de satisfazê-lo. 

“Ele pode não a agredir fisicamente, mas em momentos de discussão gritar, bater em portas, cadeiras e mesas. A mulher sempre apresentar hematomas por empurrões, beliscões ou marcas de quando ele a segura com força, para, supostamente, acalmá-la. Ele é extremamente ciumento, controlador e possessivo. Sempre verifica o seu celular, suas redes sociais e pode te seguir na rua ou no trabalho. Ele a afasta de sua família e amigos, fazendo com que ela se sinta sozinha. Ele sempre faz chantagens ou ameaças. E quando a mulher tenta terminar, ele diz que irá se matar ou que ninguém mais irá querê-la”, explica ela. 

Patrícia acrescenta que o agressor também pode ter histórico de desrespeito com mulheres em sua família. “Não é raro ele usar frases como ‘Você é louca’ ou ‘Você é sentimental demais’. O agressor faz com que a mulher questione sua compreensão de realidade e que ela acredite que é a culpada pela agressividade dele. E o pior: ele, frequentemente, promete que vai mudar. Após episódios de brigas ou agressões, reconhece o erro, lhe dá presentes e volta a lhe valorizar”.

A psicanalista lembra que o problema não é exclusivo das mulheres. O relacionamento abusivo afeta pessoas independentemente de raça, classe, gênero ou orientação sexual.

Príncipe 

Natália Fadini Assereuy, que atua como psicóloga no São Bernardo Apart Hospital, lembra que muitas mulheres têm o sonho de encontrar o príncipe encantado e acham que tudo será resolvido com o relacionamento amoroso. 

Foto: Divulgação

“Isso é uma idealização feminina, em que, muitas vezes, a mulher busca a valorização de si mesma pelo amor do outro e acaba tendo que conviver com o machismo”, explica Natália.    

A psicóloga explica que a violência pode ser psicológica, física e sexual. A sociedade pode achar que é apenas física, mas não é. “Sutilmente, isso pode acontecer no dia a dia”. 

Recentemente, o participante de um reality show foi acusado pelos telespectadores e internautas de abuso psicológico. Durante sua participação no “Big Brother Brasil 20”, o modelo e jornalista Guilherme Napolitano se envolveu com a cantora e compositora Gabi Martins e sua ações no relacionamento não foram aprovadas pelo público, o que pode ter sido um dos motivos para a sua eliminação o programa na terça-feira (2).

E para Natália esse foi um exemplo do que muitas mulheres podem estar passando em suas casas. “No ‘BBB’, houve violência psicológica. É preciso ficar muito atenta, pois há homens que se sentem superiores e acham que as mulheres são culpadas por tudo o que acontece, que quer determinar quais são as atitudes certas ou erradas  e até o que a mulher pode gostar ou não”.    

Tipos de abuso

A psicanalista Patrícia Rosário acrescenta, ainda, que há vários tipos diferentes de abuso. Um deles é o verbal, quando o companheiro agride a mulher verbalmente, diz o que ela deve vestir ou o que fazer e quando busca explicações constantes de onde e com quem ela está. Outro é o emocional, que se caracteriza por atitudes extremamente ciumentas, por proibições de encontros com amigos ou familiares e por acusações constantes, em que a parceira é culpada por tudo. 

Há ainda o abuso físico, em que são comuns agressões, empurrões, puxões de cabelo e, até mesmo, situações em que o parceiro pode forçar a mulher a fazer sexo ou impedir que ela faça um controle de natalidade. E é preciso ficar atenta, também, ao abuso financeiro, quando o parceiro a proíbe de trabalhar, controla o gasto do dinheiro, proíbe o acesso à contas bancárias e não a envolve em planejamento financeiro.   

Constrangimento

Muitas mulheres não têm a mínima noção de que seu relacionamento é abusivo. Passam a encarar situações constrangedoras como normais ou aceitáveis e, muitas vezes, passam uma vida inteira acreditando que não são merecedoras de amor e de respeito. Mas, fica a dúvida: por que não não saem desse relacionamento? 

Um dos problemas destacados pela psicanalista Patrícia Rosário é a falta de recursos financeiros, já que a mulher talvez não tenha um emprego ou não ganhe o suficiente para se sustentar sozinha. “Se ela tiver filhos, a situação fica ainda mais complicada. Outro motivo pode ser o medo. Algumas mulheres podem ter motivos reais para temer por sua vida caso deixem seu companheiro”.

Porém, ela lembra que há outras razões, menos visíveis, que mantêm a vítima presa a uma relação, como, por exemplo, o parceiro não ser violento o tempo todo e também mostrar-se gentil e sensível em alguns momentos. 

“O parceiro se mostra arrependido e a vítima fica com pena; ele diz que vai procurar tratamento e a vítima cria esperanças de que ele vá mudar; o parceiro menospreza a vítima e destrói a sua autoconfiança, o que faz com que ela se sinta presa a essa situação e tenha vergonha de pedir ajuda. Assim, ela continua com ele”, diz Patrícia.

Ajuda

Para a psicóloga Natália Fadini Assereuy o primeiro passo para conseguir sair desse relacionamento é conversar com alguém em quem confie e explicar o que está acontecendo. “Encerrar um relacionamento tóxico não é fácil. É necessário buscar autoconfiança para recomeçar e isso ela vai encontrar nas pessoas que confia e com o auxílio de um especialista. Com a ajuda psicológica, ela vai recuperar a autoconfiança e perceber que merece  melhor para ser feliz”.  

Quem passa por esse problema precisa buscar ajuda psicológica. Segundo Patrícia Rosário, o tratamento vai ajudá-la a se conhecer melhor, a descobrir e respeitar seus próprios limites e a identificar o motivo dela não conseguir sair dessa relação. 

“Falar com um especialista vai ajudá-la a entender como criou uma dependência emocional em relação ao parceiro, se fortalecer para buscar uma vida melhor para si. O autoconhecimento e resgate da autoestima são fundamentais nesse processo, pois ajudam a ressaltar os pontos fortes e trabalhar alguns pontos frágeis que merecem atenção. Dessa maneira, essa mulher se sentirá mais fortalecida, mais confiante nas suas ações e assim elaborar estratégias para mudança, pois tomará decisões mais conscientes”, completa a especialista.

Os amigos e a família também precisam ficar atentos, aconselha a psicanalista. “Acolher, buscar o diálogo e não julgar os motivos da pessoa, mas incentivá-la a pedir ajuda. O Espírito Santo já esteve em terceiro lugar no ranking nacional em feminicídio. Então, toda e qualquer violência, física ou psicológica, contra a mulher, deve ser denunciada”, finaliza Patricia.