
Pensar no meio ambiente certamente traz imagens de natureza e espaços verdes na memória. O pensamento não está equivocado, mas é preciso ampliar a discussão. Meio ambiente é todo o espaço que rodeia a sociedade e, a partir deste princípio, é possível ter noção do impacto que a ação humana tem causado neste espaço, que ultrapassa a barreira das reservas florestais.
Para além de uma data comemorativa, o Dia Mundial do Meio Ambiente deve ser um momento de reflexão sobre a relação da humanidade com o ambiente em que se vive. A data foi instituída em 1972 pela Conferência das Nações Unidas, mas foi apenas em 1981 que o dia passou a ser celebrado no Brasil.
Quem tem tempo para o ‘meio ambiente’?
Falar de preservação ambiental pode ser algo complexo e muito amplo, ainda mais em uma sociedade cada vez mais atarefada como a nossa. Compromissos, reuniões, trabalho, família, finanças, saúde, tudo isso toma muito tempo, mas saiba que é possível inserir um toque de sustentabilidade na rotina, mesmo em pequenas ações.
A mudança pode parecer difícil no início, mas com o tempo e com a prática tudo se ajeita. Foi assim que a sustentabilidade chegou na vida da bióloga e consultora socioambiental Suellen Castelo que, mesmo dentro da área, levou um tempo até adotar novos hábitos.
“Tudo começou quando eu iniciei o trabalho com educação ambiental. Eu sou formada em Biologia, mas não aplicava as práticas na minha vida. Quando comecei a trabalhar na comunidade, senti necessidade de mudar, porque se eu quisesse transformar pessoas, tinha que começar dentro de casa”, contou a bióloga.
Mesmo com formação na área e experiência prática, Suellen garante que o local mais difícil de inserir o pensamento sustentável foi na própria casa. Apesar da dificuldade, a consultora acredita que tudo seja um processo, ainda mais se tratando de crianças pequenas, como o filho Gabriel, de três anos, que já está inserido na rotina sustentável e faz questão de se espelhar na mãe quando o assunto é meio ambiente.
“A rotina influencia totalmente, tanto a criação do meu filho, quanto a minha relação com meu esposo dentro de casa. Só sou educadora ambiental, quando consigo aplicar os conceitos dentro de casa, mesmo sendo o mais difícil. Desde que nasceu, o Gabriel já está inserido nesse meio. O marido é mais difícil, mas tudo é aprendizado. Se errou, faz de novo, vai acertando e se adaptando”, ressalta.
É tudo um processo!
A mudança consiste em um processo. Não será de uma hora para outra que toda a sociedade vai abandonar os canudos, as sacolas plásticas ou até mesmo mudar a alimentação.
Sobre este processo, a consultora deu algumas dicas de práticas que podem ser adotadas aos poucos e que ela também faz no dia a dia:
– Separar o lixo seco do úmido
– Separa resto de alimentos para compostagem
– Utilizar absorventes laváveis de tecido
– Usar o mínimo de descartável possível
– Reutilizar materiais como garrafa pet e caixa de papelão
– Usar cosméticos veganos
Pensando nessa discussão sobre a sustentabilidade no dia a dia e com o objetivo de facilitar o assunto, Suellen decidiu criar o podcast “Sustentabilidade sem neura” para simplificar o tema e trazer dicas de como adotar hábitos sustentáveis na rotina.
“A sustentabilidade é um conceito muito falado, mas ainda existem muitos tabus e questionamentos. Muitos ambientalistas falam que as pessoas precisam mudar, mas não têm a compreensão de que a mudança é algo gradual. Sou muito contra esse extremismo, as pessoas não mudam por exigência”, afirmou a consultora socioambiental.
Conforto verde
Há quem defenda também que, além dos benefícios para o planeta, o contato com a natureza, mais especificamente com plantas, seja algo positivo para a saúde e para o bem-estar humano, mas com tanta correria no dia a dia e com modelos de moradias cada vez menores, manter todas as plantinhas em casa nem sempre é algo possível.
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Pensando nisso, o designer de interiores Gabriel Rapke decidiu juntar o cuidado com as plantas, costume que vem de família, com a técnica da profissão e montar um jardim vertical dentro de casa.
“Sempre achei esteticamente bonito. Já fiz alguns projetos nesse estilo e decidi fazer em casa para conhecimento técnico. Hoje eu sempre coloco a vegetação nos meus trabalhos, é como uma assinatura minha e eu sempre tento encaixar nas propostas para os clientes”, disse.
Para além da profissão, o designer enxergou, nos contato com as plantas, diversos benefícios para a saúde. Para ele, essas pequenas companheiras tornaram-se uma válvula de escape para a rotina agitada.
“Cuidar das plantas alivia o meu estresse, é uma forma de sair da rotina, fugir da selva de pedras e a gente acaba tendo um pedacinho da roça dentro da cidade. Eu acredito na importância de termos coisas que nos distraiam”, destacou.
A mudança de consciência é urgente!
Para além da mudança de hábitos diários, o meio ambiente precisa de uma mudança de consciência. Não apenas a consciência de que os atos geram consequência, mas sim a consciência de que a humanidade é parte de um todo e que essa totalidade estará sempre conectada.
Os maus costumes perante à natureza não resultam apenas em mais lixo nas ruas e nas praias. Para o biólogo Stéfano Dutra, o desrespeito e a irresponsabilidade podem acarretar problemas sérios, como uma pandemia, por exemplo.
“Nós estamos vivendo em uma pandemia e isso colocou luz em muitas coisas. Os vírus, por si só, vivem rodando pela natureza, mas sem nos causar danos. Porém, com o impacto humano, esses vírus saem, atingem os seres humanos e causam graves problemas, que podem ficar ainda piores, pois a partir do momento que esse vírus entra em contato com o ser humano, ele passa a criar mutações”, explicou.
Pode parecer a descrição de um cenário completamente distópico, mas é extremamente real e atual. Ainda de acordo com o biólogo, caso não haja uma mudança por parte da sociedade e a natureza não passe a ser um dos focos principais de preservação, outros vírus podem surgir, trazendo mais prejuízos humanos, econômicos e sociais.
Mesmo distante, elas são importantes!
Por vezes, é possível encontrar questionamentos que colocam em xeque a real necessidade da preservação ambiental. Discursos que menosprezam a importância da luta pela Amazônia ou que não enxergam a necessidade de proteger determinadas espécies de plantas ou de animais.
Para o biólogo, todo esse pensamento não passa de um equívoco. Pensar no meio ambiente não diz respeito apenas ao que está em uma região de mata ou em um endereço específico, mas sim, na manutenção de um equilíbrio natural necessário.
“Manter a biodiversidade é cuidar da saúde do planeta. Essa saúde é necessária para o ser humano sobreviver e não sofrer com o desequilíbrio, que pode causar graves problemas como chuvas torrenciais, secas prolongadas, ressacas marítimas, dentre outros. Mesmo que uma determinada plantinha esteja longe, é sim importante que tenhamos conhecimento dela e preservemos ela porque isso faz parte do equilíbrio”, ressaltou.